Busca por qualificação, consciência do papel que exercem nas
propriedades e orgulho em produzir alimentos são características desta nova
geração de agricultoras
(Foto: Gracieli Verde)
Desde o dia 1º de março, a seção Rural do jornal O Alto Uruguai
tem feito uma série de reportagens sobre a realidade das mulheres do campo,
seus desafios, dificuldades e conquistas. Para finalizar essa abordagem, a
reportagem do AU conversou com quatro jovens que estudam na Casa Familiar Rural
(CFR) de Frederico Westphalen, na busca por saber quais as expectativas e os
anseios de quem já é a cara do meio rural e tem tudo para ser referência no
campo no futuro. Elas fazem parte do terceiro ano do curso.
Busca por qualificação, qualidade de vida e renda, consciência
do seu papel na propriedade da família e orgulho em produzir alimentos são
algumas das características dessas jovens, que apostam seu futuro no meio
rural. “Elas sabem que precisam ter acesso à informação e se qualificar para
produzir com qualidade”, comenta a monitora Dulcinéia da Silva Zonta, que atua
na área das Ciências Agrárias na CFR.
Familiares influenciam na permanência delas no campo
Luana Paduan tem 16 anos. Dois irmãos dela já estudaram na CFR e
tem o total apoio para se qualificar na agricultura. Na propriedade da família,
no interior de Seberi, tem gado leiteiro e se busca a legalização de uma
agroindústria de panificados. Ela ajuda a mãe com os panificados, porque os
irmãos se dedicam à produção de leite. A participação nas decisões na
propriedade já acontece. “A gente conversa sempre e planeja as coisas juntos”,
garante.
A jaboticabense Caline Stefanello, 16 anos, tem na propriedade
da família a bovinocultura de leite, grãos e suínos. Hoje ela auxilia nas
atividades de forma geral, mas se identifica mais com a produção de leite. A
família de Caline trabalha em forma de sociedade. Pai e tios trabalham em
conjunto. Uma irmã também estudou na CFR e segue na propriedade. Convicta de
que quer permanecer no campo, Caline mostra segurança em defender sua
permanência no campo. “É loucura pensar em sair de lá”, exclama.
Fazer o que se gosta
A jovem Renata Liberalesso, 17 anos, reside em Erval Seco e não
esconde o gosto por trabalhar com os suínos. Na propriedade da família, além de
cuidar desses animais na fase do crechário, também se produz leite. Estudar na
CFR tem sido importante, de acordo com a jovem, em função de o ensino ser
direcionado para o campo. “Eu quero ficar lá para ajudar meus pais”, revela.
Por enquanto, o que ela opina nem sempre é observado na hora de
fazer as atividades, mas ela garante que é ouvida, o que já é importante nesta
fase em que está concluindo os estudos da CFR.
Simoni Soutier, 18 anos, residente em Frederico Westphalen,
trabalha com a família, que tem uma tenda de produtos coloniais às margens da
BR-386. É produzida variedade em frutas, verduras e legumes.
O projeto futuro é implantar uma unidade de embutidos. Ela se
identifica no trabalho na horta, no pomar e na tenda. “A abertura do espaço
para participar não é muito grande, mas já dá para opinar”, diz. Independente
disso, é convicta no que quer para o futuro: seguir no trabalho com a terra.
Barreiras ainda existem...
É natural que os jovens precisem conquistar a confiança dos pais
para que se insiram nas atividades da propriedade. “Muitas vezes, acham que a
gente não tem capacidade de fazer as coisas”, acredita Renata. Mas isso não é
problema para as jovens, apesar de saber que muitas vezes tem uma ponta de
machismo nisso, pois têm ciência de que a confiança se conquista com o tempo.
Na CFR, a convivência com os rapazes é tranquila, mas elas
acreditam que algumas atitudes ainda são machistas. “Tem muita coisa para
mudar”, comenta a monitora Dulcinéia da Silva Zonta, que atua na área das
Ciências Agrárias.
Fonte: Jornal O Alto Uruguai
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