A água que escorreu na madrugada de sábado
desalojou centenas de famílias
Imagens aéreas do bairro Sarandi, alagado após o rompimento de um diqueFoto: Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
A abertura de um vão no dique de contenção contra alagamentos na
zona norte de Porto Alegre vai ser alvo de investigação da polícia. A água que
escorreu na madrugada de sábado desalojou centenas de famílias, que só no
domingo começaram a voltar para suas casas no bairro Sarandi.
A autoria do rompimento do sistema de proteção que impede a
passagem da água do Rio Gravataí para Porto Alegre em épocas de cheia ainda é
uma incógnita. Indícios, apontados pela prefeitura da Capital, dão ideia de que
a ruptura do dique, perto da 0h de sábado, pode ter sido criminosa. A Polícia
Civil entrou na história para tentar descobrir se o alagamento de cerca de 700
residências no bairro Sarandi foi intencional.
A hipótese de que a chuva dos dias anteriores tenha causado o
rompimento é descartada pelo Departamento de Esgotos Pluviais (DEP). Para o
diretor da Divisão de Conservação do órgão municipal, engenheiro Fausto
Vasques, o nível da água da enchente do Rio Gravataí — represada pelo dique —
já era mais baixo na madrugada de sábado.
— O dique não rompeu por causa da chuva, senão, teria rompido
antes. Ele já foi construído prevendo esse tipo de cheia, com altura adequada —
afirma.
Pelos dados de medição da Corsan, o Rio Gravataí, perto de
Alvorada, teve o ápice da cheia na quinta-feira, quando ficou 3m50cm acima do
nível normal. Ainda durante o socorro dos moradores no sábado, o prefeito de
Porto Alegre, José Fortunati, afirmou a Zero Hora que, nas proximidades do
rompimento do dique, havia galhos quebrados, indícios de uma possível
movimentação de pessoas no local.
O vão, de aproximadamente seis metros de comprimento, teria se
formado após uma pequena, porém profunda, extração do material argiloso que
forma o dique. Foi por ali que a água — da chamada várzea do Rio Gravataí — escoou
para o bairro Sarandi.
Por causa do difícil acesso, o monitoramento não era feito
constantemente pela prefeitura de Porto Alegre. Agora que a vegetação precisou
ser retirada, para a passagem de caminhões e reconstrução da estrutura de
proteção, o ponto deve ser fiscalizado para prevenir um ato criminoso.
A suposta ação intencional teria o objetivo de aliviar os
alagamentos, em decorrência das chuvas, de bairros de Alvorada. O município
vizinho não tem a proteção de diques e, com a abertura no lado porto-alegrense,
a água represada passa para um córrego no limite do bairro Sarandi.
Se o ato foi criminoso, a dúvida é saber quem teria aberto o
caminho e com qual equipamento. O prefeito de Alvorada, Sergio Bertoldi, diz
que está com a consciência tranquila.
— Se tem suspeita, tem de ser investigada. Temos interesse em
saber se ocorreu uma sabotagem — garante.
Polícia vai ouvir testemunhas
Ontem, a prefeitura de Porto Alegre também não apontava
suspeitos, mas o diretor do DEP, Tarso Boelter, mantinha o posicionamento de
dizer que o rompimento foi "provocado" por alguém.
Os rumores colocaram a Polícia Civil no caso, e um inquérito
policial foi aberto. Encarregado da investigação, o delegado Omar Abud, titular
da 22ª Delegacia da Polícia Civil (bairro Sarandi), diz que, se for confirmado
o rompimento intencional, a pessoa responderá pelo crime de inundação (a pena
prevista é de três a seis anos).
Ontem pela manhã, peritos de engenharia do Departamento de
Criminalística do Instituto-geral de Perícias estiveram no local do rompimento.
O laudo deve revelar se a ação foi criminosa ou não. Por enquanto, não há
suspeitos, e testemunhas serão chamadas para depor nesta semana.
— É muito prematuro dizer o que aconteceu. Pode ter acontecido
um caso fortuito, por causa de muita chuva, ou um ato criminoso — afirma o
delegado Omar Abud.
VÍDEO: alagamento atinge centenas de casas:
Fonte: Letícia Costa |
ZERO HORA
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