Informação foi dada pelo seu irmão e atual
presidente Raúl Castro
Lenda da esquerda latino-americana, Fidel
Castro, morreu no fim da noite de sexta
Foto: Alex Castro / Cubadebate / AFP / CP
Lenda da
esquerda latino-americana, Fidel Castro, 90 anos, morreu no fim da noite de
sexta-feira, informou seu irmão e atual presidente Raúl Castro. Fidel foi o
líder histórico da revolução cubana, que, mais de cinco décadas depois de seu
triunfo, sobrevive como um dos últimos regimes comunistas do mundo.
Único
nome ainda vivo dos grandes protagonistas da Guerra Fria, Fidel encarnou o
símbolo do desafio a Washington: o guerrilheiro de barba e uniforme verde
oliva, que fez uma revolução socialista, marxista-leninista, a apenas 150 km do
litoral dos Estados Unidos. Fidel governou por 48 anos a ilha, mas continuou
sendo o líder máximo e guia ideológico da revolução mesmo quando, doente,
delegou o poder a seu irmão Raúl, cinco anos mais velho, em 31 de julho de 2006.
No dia 1
de janeiro de 1959, Fidel Castro, à frente do em exército de
"barbudos", derrotou o ditador Fulgêncio Batista, após 25 meses de
luta nas montanhas de Sierra Maestra. Este dia foi o começo de um pesadelo para
Washington e uma era de polarização na América Latina. Em seu comando, Cuba
participou do momento mais quente da Guerra Fria, converteu-se em santuário da
esquerda, inspiração e sustentação de grupos armados que enfrentaram regimes de
direita e sangrentas ditaduras, na época financiadas pelos Estados Unidos em
seu afã de frear o avanço do comunismo.
O
patriarca
Fidel
dirigiu com pulso firme o destino dos cubanos, para uns um pai insubstituível,
para outros com um orgulho messiânico. Em seu governo nasceram 70% dos 11,2
milhões de habitantes da ilha. Seus opositores o viam como implacável ditador
que acabou com as liberdades, submeteu os cubanos a penúrias econômicas e não
admitiu a decadência. Mais de 1,5 milhão de pessoas partiram para o exílio,
principalmente para Miami, nos Estados Unidos.
Mas, para
seus seguidores, ele sempre foi um paradigma da justiça social e da
solidariedade para com o Terceiro Mundo, elevando Cuba à potência mundial no
esporte, com os níveis de saúde e educação mais elevados da América Latina. De
personalidade excepcional, complexa e esmagadora, para ele nada passava
indiferente. Opositores na ilha e no exílio, incluindo alguns
"fidelistas", traçam um retrato contrastado: inteligente, ambicioso,
audaz, voluntarioso, corajoso e autoritário.
Eterno guerrilheiro
Fidel nasceu
na oriental aldeia de Birán, no dia 13 de agosto de 1926, terceiro dos sete
filhos do imigrante espanhol Angel Castro e da camponesa cubana Lina Ruz. Fidel
Castro foi educado e disciplinado desde pequeno por jesuítas, mas moldou sua
rebeldia inata na Universidade de Havana, onde se graduou em direito em 1950.
Iniciou a revolução cubana aos 26 anos quando, com pouco mais de cem homens,
tentou invadir, no dia 26 de julho de 1953, a segunda fortaleza militar da
ilha, o quartel Moncada.
Sua
famosa frase "A história me absolverá", dita quando foi julgado por
essa ação, mostrou o quanto compreendia do poder destas palavras. Foi um dos
maiores oradores dos últimos 50 anos, famoso por seus discursos absurdamente
infinitos. Ficou exilado no México e retornou com 81 homens, entre eles o
argentino Ernesto Che Guevara e seu irmão, em um desastroso desembarque no dia
2 de dezembro de 1956 para iniciar a guerra que derrotou Batista. Sua história
e a da revolução se confundem numa só.
Sobreviveu
a uma invasão da Baía dos Porcos, em 1961, à crise dos mísseis em 1962 e à
desintegração da União Soviética. Sustentou militarmente e economicamente a
ilha por mais de três décadas. Onze homens da Casa Branca tentaram asfixiar o
governo comunista por meio de um embargo econômico, vigente desde 1962,
considerado "criminoso" por Havana e, segundo os opositores de Fidel,
utilizado por ele como justificativa para o desastre da economia. De acordo com
as forças de segurança cubana foram 638 complôs orquestrados contra Fidel
Castro, principalmente pela CIA.
Encantador de serpentes
Conspirador
nato, teimoso e mestre na arte da estratégia, a emoção do risco foi o maior
estímulo de sua vida. Em cada derrota via uma vitória disfarçada. Era um
péssimo perdedor. Praticou natação, basquetebol, beisebol, caça submarina e
outros esportes. Disciplinado, em 1959 fumava em média uma caixa de charutos
por dia, mas, no final de 1985 parou de fumar para combater o tabagismo em um
país produtor de tabaco por excelência. Homem de ação, leitor voraz dotado de
uma memória invejável, conversador inveterado e inquieto, Fidel viveu em uma
relativa austeridade.
Quando
ficou doente em julho de 2006, manteve um regime de trabalho alucinante,
ocupando-se do menor problema doméstico até o movimento mais calculado do
xadrez político internacional. Contudo, um desmaio em 2001 e uma queda em 2004
acionaram os alarmes quanto à saúde do homem mitificado, acreditado como
imortal por muitos cubanos. Ergueu um intransponível muro entre sua vida
pública e privada.
São conhecidos
oito filhos seus: seu primogênito 'Fidelito', do casamento com Mirta
Díaz-Balart; Alina Fernández e Jorge Angel, de outras duas relações; Alejandro,
Antonio, Alexis, Alex e Angel, com Delia Soto del Valle, sua parceira por
décadas até sua morte. Muitos amores passaram por sua vida, apesar disso se
dizia tímido com as mulheres. Em um país engraçado, musical e sensual, era
pouco dado a piadas e não sabia dançar.
Sempre
foi um guerrilheiro, simbolizado por seu eterno traje verde oliva de
Comandante-em-Chefe. "Jamais deixarei a política", disse uma vez.
Mas, depois das crises de saúde, no crepúsculo de sua vida passou a se dedicar
a leitura e escrita, auto-intitulando-se "soldado das ideias". Na
véspera da revolução disse aos seus companheiros: "Não viverei nem um dia
a mais depois do dia de minha morte".
AFP
Correio
do Povo
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