Ministro
do Planejamento foi flagrado em conversas com ex-presidente da Transpetro
Jucá fala em pacto para deter Lava Jato, diz
jornal | Foto: Rodrigo Pozzebom / Agência Brasil / CP
O
ministro do Planejamento, Romero Jucá, foi gravado, de forma oculta, em
conversas com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado que uma mudança no
governo federal resultaria em um pacto para "estancar a sangria"
provocada pela Operação Lava Jato, que investiga ambos. A informação é do jornal Folha de São Paulo e foi divulgada nesta
segunda-feira.
De acordo
com a Folha de São Paulo, o diálogo entre o senador licenciado e Machado
ocorreram semanas antes da votação na Câmara que levou ao impeachment da
presidente Dilma Rousseff. As conversas duraram mais de uma hora e já estão em
posse da Procuradoria-Geral da República.
O
advogado de Jucá, Antônio Carlos de Almeida Castro, disse que seu cliente
jamais pensaria em atrapalhar a Operação Lava Jato e que o diálogo com Sérgio
Machado não contém ilegalidades.
Confira
trechos do diálogo divulgado pela Folha de São Paulo
Sérgio
Machado - Mas
viu, Romero, então eu acho a situação gravíssima.
Romero
Jucá - Eu
ontem fui muito claro. [...] Eu só acho o seguinte: com Dilma não dá, com a
situação que está. Não adianta esse projeto de mandar o Lula para cá ser
ministro, para tocar um gabinete, isso termina por jogar no chão a expectativa
da economia. Porque se o Lula entrar, ele vai falar para a CUT, para o MST, é
só quem ouve ele mais, quem dá algum crédito, o resto ninguém dá mais credito a
ele para porra nenhuma. Concorda comigo? O Lula vai reunir ali com os setores
empresariais?
Machado - Agora, ele acordou a militância do PT.
Jucá - Sim.
Machado - Aquele pessoal que resistiu acordou e vai
dar merda.
Jucá - Eu acho que...
Machado - Tem que ter um impeachment.
Jucá - Tem que ter impeachment. Não tem saída.
Machado - E quem segurar, segura.
Jucá - Foi boa a conversa mas vamos ter outras
pela frente.
Machado - Acontece o seguinte, objetivamente falando,
com o negócio que o Supremo fez (autorizou prisões logo após decisões de
segunda instância), vai todo mundo delatar.
Jucá - Exatamente, e vai sobrar muito. O Marcelo e
a Odebrecht vão fazer.
Machado - Odebrecht vai fazer.
Jucá - Seletiva, mas vai fazer.
Machado - Queiroz (Galvão) não sei se vai fazer ou
não. A Camargo (Corrêa) vai fazer ou não. Eu estou muito preocupado porque eu
acho que... O Janot (procurador-geral da República) está a fim de pegar vocês.
E acha que eu sou o caminho.
Jucá - Você tem que ver com seu advogado como é
que a gente pode ajudar. [...] Tem que ser política, advogado não encontra
(inaudível). Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra...
Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.
Machado - Rapaz, a solução mais fácil era botar o
Michel (Temer).
Jucá - Só o Renan (Calheiros) que está contra essa
porra. 'Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha'. Gente,
esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
Machado - É um acordo, botar o Michel, num grande
acordo nacional.
Jucá - Com o Supremo, com tudo.
Machado - Com tudo, aí parava tudo.
Jucá - É. Delimitava onde está, pronto.
Machado - O Renan (Calheiros) é totalmente 'voador'.
Ele ainda não compreendeu que a saída dele é o Michel e o Eduardo. Na hora que
cassar o Eduardo, que ele tem ódio, o próximo alvo, principal, é ele. Então
quanto mais vida, sobrevida, tiver o Eduardo, melhor pra ele. Ele não
compreendeu isso não.
Jucá - Tem que ser um boi de piranha, pegar um
cara, e a gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem.
Machado - A situação é grave. Porque, Romero, eles
querem pegar todos os políticos. É que aquele documento que foi dado...
Jucá - Acabar com a classe política para
ressurgir, construir uma nova casta, pura, que não tem a ver com...
Machado - Isso, e pegar todo mundo. E o PSDB, não sei
se caiu a ficha já.
Jucá - Caiu. Todos eles. Aloysio (Nunes, senador),
(o hoje ministro José) Serra, Aécio (Neves, senador).
Machado - Caiu a ficha. Tasso (Jereissati) também
caiu?
Jucá - Também. Todo mundo na bandeja para ser
comido.
Machado - O primeiro a ser comido vai ser o Aécio.
Jucá - Todos, porra. E vão pegando e vão...
Machado - (Sussurrando) O que que a gente fez junto,
Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele ser presidente da
Câmara? (Mudando de assunto) Amigo, eu preciso da sua inteligência.
Jucá - Não, veja, eu estou a disposição, você sabe
disso. Veja a hora que você quer falar.
Machado - Porque se a gente não tiver saída... Porque
não tem muito tempo.
Jucá - Não, o tempo é emergencial.
Machado - É emergencial, então preciso ter uma
conversa emergencial com vocês.
Jucá - Vá atrás. Eu acho que a gente não pode
juntar todo mundo para conversar, viu? [...] Eu acho que você deve procurar o
(ex-senador do PMDB José) Sarney, deve falar com o Renan, depois que você falar
com os dois, colhe as coisas todas, e aí vamos falar nós dois do que você achou
e o que eles ponderaram pra gente conversar.
Machado - Acha que não pode ter reunião a três?
Jucá - Não pode. Isso de ficar juntando para
combinar coisa que não tem nada a ver. Os caras já enxergam outra coisa que não
é... Depois a gente conversa os três sem você.
Machado - Eu acho o seguinte: se não houver uma
solução a curto prazo, o nosso risco é grande.
Machado - É aquilo que você diz, o Aécio não ganha porra
nenhuma...
Jucá - Não, esquece. Nenhum político desse
tradicional ganha eleição, não.
Machado - O Aécio, rapaz... O Aécio não tem condição,
a gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu,
que participei de campanha do PSDB...
Jucá - É, a gente viveu tudo.
Jucá - (Em voz baixa) Conversei ontem com alguns
ministros do Supremo. Os caras dizem 'ó, só tem condições de (inaudível) sem
ela (Dilma). Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela,
essa porra não vai parar nunca'. Entendeu? Então... Estou conversando com os
generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão
garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar.
Machado - Eu acho o seguinte, a saída (para Dilma) é
ou licença ou renúncia. A licença é mais suave. O Michel forma um governo de
união nacional, faz um grande acordo, protege o Lula, protege todo mundo. Esse
país volta à calma, ninguém aguenta mais. Essa cagada desses procuradores de
São Paulo ajudou muito. (referência possível ao pedido de prisão de Lula pelo
Ministério Público de SP e à condução coercitiva ele para depor no caso da Lava
jato)
Jucá - Os caras fizeram para poder inviabilizar
ele de ir para um ministério. Agora vira obstrução da Justiça, não está
deixando o cara, entendeu? Foi um ato violento...
Machado -...E burro [...] Tem que ter uma paz, um...
Jucá - Eu acho que tem que ter um pacto.
Machado - Um caminho é buscar alguém que tem ligação
com o Teori (Zavascki, relator da Lava Jato), mas parece que não tem ninguém.
Jucá - Não tem. É um cara fechado, foi ela (Dilma)
que botou, um cara... Burocrata da... Ex-ministro do STJ (Superior Tribunal de
Justiça).
Fonte:
Correio do Povo
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