Presidente da
África do Sul entre 1994 e 1999, ele tinha 95 anos.
Líder foi hospitalizado em dezembro para fazer exames de rotina.
Líder foi hospitalizado em dezembro para fazer exames de rotina.
Retrato de Nelson Mandela
feito em 2009 (Foto: AP)
O
ex-presidente da África do Sul Nelson
Mandela morreu aos 95 anos em Pretória, anunciou o presidente do país, Jacob
Zuma. Mandela ficou internado de junho a setembro devido a uma infecção
pulmonar. Ele deixou o hospital e estava em casa. “Ele partiu, ele se foi
pacificamente na companhia de sua família”, afirmou o presidente. “Ele
descansou, ele agora está em paz. Nossa nação perdeu seu maior filho. Nosso
povo perdeu seu pai.”
Foram quatro internações do ex-presidente
desde dezembro. Em abril, as últimas imagens divulgadas do ex-presidente
mostraram bastante fragilidade – ele foi visto sentado em uma cadeira, com um
cobertor sobre as pernas. Seu rosto não expressava qualquer emoção. Em março de
2012, o ex-presidente sul-africano havia sido hospitalizado por 24 horas, e o
governo informou, na ocasião, que Mandela tinha sido internado para uma bateria
de exames rotineira.
Em dezembro, porém, ele permaneceu 18 dias
hospitalizado, em decorrência de uma infecção pulmonar. No fim de março de 2013, ele passou 10 dias internado,
também por uma infecção pulmonar, provavelmente vinculada às sequelas de uma
tuberculose que contraiu durante sua detenção na prisão de Robben Island (ilha
de Robben), onde ficou 18 anos preso, de 1964 a 1982.
Conhecido como “Madiba” na África do Sul,
ele foi considerado um dos maiores heróis da luta dos negros pela igualdade de
direitos no país e foi um dos principais responsáveis pelo fim do regime
racista do apartheid, vigente entre 1948 a 1993.
Ele ficou preso durante 27 anos e ganhou o
Prêmio Nobel da Paz em 1993, sendo eleito em 1994 o primeiro presidente negro
da África do Sul, nas primeiras eleições multirraciais do país. Mandela é alvo
de um grande culto em seu país, onde sua imagem e citações são onipresentes.
Várias avenidas têm seu nome, suas antigas moradias viraram museu e seu rosto aparece
em todos os tipos de recordações para turistas.
Havia algum tempo sua saúde frágil o
impedia de fazer aparições públicas na África do Sul - a última foi durante a
Copa do Mundo de 2010, realizada no país. Mas ele continuou a receber
visitantes de grande visibilidade, incluindo o ex-presidente dos Estados Unidos
Bill Clinton.
Mandela passou por uma cirurgia de
próstata em 1985, quando ainda estava preso, e foi diagnosticado com
tuberculose em 1988. Em 2001, foi diagnosticado com câncer de próstata e hospitalizado
por problemas respiratórios, sendo liberado dois dias depois.
Biografia
Mandela nasceu em 18 de julho de 1918 no
clã Madiba no vilarejo de Mvezo, no antigo território de Transkei, sudeste da
África do Sul. Seu pai, Henry Gadla Mphakanyiswa, era chefe do vilarejo e teve
quatro mulheres e 13 filhos - Mandela nasceu da terceira mulher, Nosekeni. Seu
nome original era Rolihlahla Mandela.
Após seu pai morrer em 1927, ele foi
acolhido pelo rei da tribo, Jongintaba Dalindyebo. Ele cursou a escola primária
no povoado de Qunu e recebeu o nome Nelson de uma professora, seguindo uma
tradição local de dar nomes cristãos às crianças. Conforme as tradições Xhosa,
ele foi iniciado na sociedade aos 16 anos, seguindo para o Instituto
Clarkebury, onde estudou cultura ocidental. Na adolescência, praticou boxe e
corrida.
Mandela ingressou na Universidade de Fort
Hare para cursar artes, mas foi expulso por participar de protestos estudantis.
Ele completou os estudos na Universidade da África do Sul. Após terminar os
estudos, o rei Jongintaba anunciou que Mandela devia se casar, o que motivou o
jovem a fugir e se mudar para Johanesburgo, em 1941.
Em Johanesburgo, ele trabalhou como
segurança de uma mina e começou a se interessar por política. Na cidade,
Mandela também conheceu o corretor de imóveis Walter Sisulu, que se tornou seu
grande amigo pessoal e mentor no ativismo antiapartheid. Por indicação de
Sisulu, Mandela começou a trabalhar como aprendiz em uma firma de advocacia e
se inscreveu na faculdade de direito de Witwatersrand.
Mandela começou a frequentar informalmente
as reuniões do Congresso Nacional Africano (CNA) em 1942. Em 1944, ele fundou a
Liga Jovem do Congresso e se casou com a prima de Walter Sisulu, a enfermeira
Evelyn Mase. Eles tiveram quatro filhos (dois meninos e duas meninas) – uma das
garotas morreu ainda na infância.
Em 1948, ele se tornou secretário nacional do Congresso Nacional Africano (CNA) – no mesmo ano, o Partido Nacional ganhou as eleições do país e começou a implementar a política de apartheid (ou segregação racial). O estudante conheceu futuros colegas da política na faculdade, mas abandonou o curso em 1948, admitindo ter tido notas baixas - ele chegou a retomar a graduação na Universidade de Londres, mas só se formou em 1989 pela Universidade da África do Sul, quando estava preso.
Em 1948, ele se tornou secretário nacional do Congresso Nacional Africano (CNA) – no mesmo ano, o Partido Nacional ganhou as eleições do país e começou a implementar a política de apartheid (ou segregação racial). O estudante conheceu futuros colegas da política na faculdade, mas abandonou o curso em 1948, admitindo ter tido notas baixas - ele chegou a retomar a graduação na Universidade de Londres, mas só se formou em 1989 pela Universidade da África do Sul, quando estava preso.
Em 1951, Mandela se tornou presidente do
CNA. Em 1952, ele abriu com o amigo Oliver Tambo o primeiro escritório de
advocacia do país voltado para negros. No mesmo ano, Mandela foi escolhido como
líder da campanha de oposição encabeçada pelo CNA e viajou pelo país, em
protesto contra seis leis consideradas injustas. Como reação do governo, ele e
19 colegas foram presos e sentenciados a nove meses de trabalho forçado.
Em 1955, ele ajudou a articular o
Congresso do Povo e citava a política pacifista de Gandhi como influência. A
reunião uniu a oposição e consolidou as ideias antiapartheid em um documento
chamado Carta da Liberdade. No fim do ano, Mandela foi preso juntamente com
outros 155 ativistas em uma série de detenções pelo país. Todos foram
absolvidos em 1961.
Em 1958, Mandela se divorciou da
enfermeira Evelyn Mase e ele se casou novamente, com a assistente social
Nomzamo Winnie Madikizela. Os dois tiveram dois filhos.
Em março de 1960, a polícia matou 69
manifestantes desarmados em um protesto contra o governo em Sharpeville. O
Partido Nacional declarou estado de emergência no país e baniu o CNA. Em 1961,
Mandela tornou-se líder da guerrilha Umkhonto we Sizwe (Lança da Nação), após
ser absolvido no processo da prisão de 1955. Logo após a absolvição, ele e
colegas passaram a trabalhar de maneira escondida planejando uma greve geral no
país.
Ele deixou o país ilegalmente em 1962,
usando o nome de David Motsamayi, para viajar pela África para receber
treinamento militar. Mandela ainda visitou a Inglaterra, Marrocos e Etiópia, e
foi preso ao voltar, em agosto do mesmo ano. De acordo com o jornal
“Telegraph”, a organização perdeu o ideal de protestos não letais com o tempo e
matou pelo menos 63 pessoas em bombardeios nos 20 anos seguintes.
Mandela foi acusado de deixar o país
ilegalmente e incentivar greves, sendo condenado a cinco anos de prisão. A pena
foi servida inicialmente na prisão de Pretória. Em março de 1963, ele foi
transferido à Ilha de Robben, voltando a Pretória em junho. Um mês depois,
diversos companheiros de partido foram presos.
Em 1963, Mandela e outras nove pessoas
foram julgadas por sabotagem, no que ficou conhecido como Julgamento Rivonia.
Sob o risco de ser condenado à pena de morte, Mandela fez um discurso à corte
que foi imortalizado.
“Eu lutei contra a dominação branca, e
lutei contra a dominação negra. Eu cultivei o ideal de uma sociedade
democrática e livre, na qual todas as pessoas vivem juntas em harmonia e com
oportunidades iguais. Este é um ideal pelo qual eu espero viver e alcançar. Mas
se for necessário, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer”, afirmou.
Em 1964, Mandela e outros sete colegas
foram condenados por sabotagem e sentenciados à prisão perpétua. Um deles,
Denis Goldberg, foi preso em Pretória por ser branco. Os outros foram levados
para a Ilha de Robben.
27 anos de prisão
Mandela passou 18 anos detido na ilha de
Robben, na costa da Cidade do Cabo, e nove na prisão Pollsmoor, no continente –
a transferência ocorreu em 1982. Enquanto esteve preso, Mandela perdeu sua mãe,
que morreu em 1968, e seu filho mais velho, morto em 1969. Ele não foi
autorizado a participar dos funerais.
Durante o período em que ficou preso, sua
reputação como líder negro cresceu e sedimentou a imagem de liderança do
movimento antiapartheid. A partir de 1985, ele iniciou o diálogo sobre sua
libertação com o Partido Nacional, que exigia que ele não voltasse à luta
armada. Neste ano, ele passou por uma cirurgia na próstata e, ao voltar para a
prisão, passou a ser mantido em uma cela sozinho.
Em 1988, Mandela passou por um tratamento
contra tuberculose e foi transferido para uma casa na prisão Victor Verster. Em
2 de fevereiro de 1990, o presidente sul-africano Frederik Willem de Klerk
reinstituiu o Congresso Nacional Africano (CNA). No dia 11 de fevereiro de
1990, Mandela foi solto e, em um evento transmitido mundialmente, disse que
continuaria lutando pela igualdade racial no país.
Prêmio Nobel e presidência
Em 1991, Mandela foi eleito novamente
presidente do CNA. Nelson Mandela e Frederik de Klerk dividiram o Prêmio
Nobel da Paz em 1993, por seus esforços para trazer a paz ao país.
Mandela encabeçou uma série de
articulações políticas que culminaram nas primeiras eleições democráticas e
multirraciais do país em 27 de abril de 1994.
O CNA ganhou com 62% dos votos, enquanto o
Partido Nacional teve 20%. Com o resultado, Mandela tornou-se o primeiro líder
negro do país e também o mais velho, com 75 anos. Ele tomou posse em 10 de maio
de 1994. A gestão do presidente foi marcada por políticas antiapartheid,
reformas sociais e de saúde.
Em 1996, Mandela se divorciou de Nomzamo
Winnie Madikizela por divergências políticas que se tornaram públicas. Em 1998,
no dia de seu 80º aniversário, ele se casou com Graça Machel, viúva de Samora
Machel, antigo presidente moçambicano.
Em 1999, não se candidatou à reeleição e
se aposentou da carreira política. Desde então, ele passou boa parte de seu
tempo em sua casa no vilarejo de Qunu, onde passou a infância, na província
pobre do Cabo Leste.
Causas sociais
Após o fim da carreira política, Mandela
voltou-se para a causa de diversas organizações sociais e de direitos humanos.
Participou de uma campanha de arrecadação
de fundos para combater a Aids que tinha como símbolo o número 46664, que
carregava quando esteve na prisão.
Em 2008, a comemoração de seu aniversário
de 90 anos foi um ato público com shows em Londres, que contou com a presença
de artistas e celebridades engajadas na campanha. Uma estátua de Mandela foi
erguida na Praça do Parlamento, na capital inglesa.
Em novembro de 2009, a ONU anunciou que o
dia de seu aniversário seria celebrado em todo o mundo como o Dia Internacional
de Mandela, uma iniciativa para estimular todos os cidadãos a dedicar 67
minutos a causas sociais - um minuto por ano que ele dedicou a lutar pela
igualdade racial e ao fim do apartheid.
Fonte: Do G1, em São Paulo
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