Rapaz de
26 anos desapareceu em Piraquara há quatro meses, após ação de policiais. PM
confirma abordagem, mas diz que Edenilson não estava em casa
Marinelsa Rodrigues, mãe de
Edenilson, faz “investigação paralela” para tentar reencontrar o filho
Enquanto a Polícia Civil busca o
paradeiro de Edenilson Murillo Rodrigues, 26 anos, sua mãe, a aposentada
Marinelsa Rodrigues, 54, conduz uma investigação paralela para descobrir o que
ocorreu no dia 21 de maio, quando policiais da Rone, grupo de elite da Polícia
Militar paranaense, entrou na chácara onde o filho dela morava, em Piraquara,
para averiguar uma denúncia de tráfico de drogas. Desde então, o homem está
desaparecido.
Depois daquela noite, Marinelsa colou
mais de uma centena de cartazes em bares, postes e supermercados de Piraquara,
Pinhais, Colombo e Curitiba, além de ter registrado ocorrências na própria
Polícia Militar, na Delegacia de Piraquara e no Ministério Público do Paraná.
No fim de tarde da última sexta-feira,
ela esteve pela terceira vez na Vila Zumbi dos Palmares, em Colombo. O objetivo
era encontrar o proprietário do Bar do Jairo, que um dia antes havia telefonado
dizendo ter visto Edenilson. Ao chegar ao local, porém, a primeira decepção.
Jairo disse que havia se confundido. Mas havia um alento: segundo o homem, o
carroceiro que tem circulado no bairro recentemente e o filho de Marinelsa “são
muito parecidos”.
Ainda naquela tarde, com a nova
informação, a mãe peregrinou de bar em bar. “É como procurar uma agulha num
palheiro”, resignava-se a aposentada, até que três moradores em pontos
distintos do bairro reacenderam as esperanças. Um deles foi enfático. “Tenho
certeza que ele está aqui. Até falei que a família estava à sua procura, mas
ele parece estar amedrontado com alguma coisa”, disse o homem, que não quis ser
identificado.
As pistas esquentaram ainda mais quando
Marinelsa, já por volta das 19h30, se viu em um churrasco realizado em uma
oficina mecânica. Os convivas, que vinham ajudando o carroceiro lhe dando
pequenos trabalhos, confirmaram que o homem da foto no cartaz estava na região,
mas que não sabiam onde ele dormia.
Esperançosa, Marinelsa voltou ao local
na manhã do dia seguinte. Com mais pistas e sob a luz do sol, ela encontrou o
carroceiro em um ferro-velho. Mas toda a esperança alimentada noites a fio ruiu
em segundos. Apesar da semelhança, o homem, que se identificou como Danilo, não
era o filho que ela procura há 120 dias. “Fiquei triste. Estava convencida de
que era ele”.
Sem respostas sobre o paradeiro do
filho e até mesmo sobre o que de fato ocorreu na noite de 21 de maio, a
aposentada aguarda um retorno da polícia a respeito do caso, semelhante ao do
pedreiro Amarildo, sumido desde a noite de 14 de julho, quando entrou em uma
viatura da Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha, no Rio de Janeiro.
Policiais
envolvidos foram afastados
A Polícia Militar confirmou a abordagem
na chácara onde Edenilson Murillo Rodrigues trabalhava, mas disse não ter
registro da presença do caseiro no local no dia da ação policial. A informação
foi repassada pelo coronel Rui Rota da Purificação, comandante do Batalhão de
Operações Especiais (Bope), unidade a qual a Rone está subordinada.
“A abordagem ocorreu, mas a motivação e
o que aconteceu depois ainda estão sendo averiguados. Por enquanto, o que posso
dizer é que não há registro da presença dessa pessoa na chácara e nem do
encaminhamento”, afirmou Rota, que confirmou o afastamento dos oito policiais
da Rone envolvidos na abordagem até que as investigações sejam concluídas.
A mãe de Edenilson conta ter ouvido de
policiais que a incursão na chácara fora motivada por uma denúncia feita por um
homem chamado Edenilson Muller Barreto, que durante uma revista policial disse
ter comprado drogas na chácara. De acordo com a mulher, cinco pessoas estavam
no imóvel no momento da abordagem: o filho dela, a companheira e uma enteada de
7 anos, dois adolescentes e um homem, conhecido como Vanderlei.
Ainda segundo a mulher, testemunhas
teriam lhe contado que, antes de desaparecer, Edenilson passou por sessões de
afogamento na piscina da chácara e depois foi colocado desacordado em uma
viatura. As denúncias estão sendo investigadas por um procedimento da
Corregedoria da PM. Já o desaparecimento do rapaz é alvo de inquérito conduzido
pelo delegado titular da Delegacia de Piraquara, Guilherme Maurício Wall
Fagundes.
Últimos dias
Vizinhos confirmam que Edenilson “morava”
no local
Sob condição de anonimato, vizinhos confirmaram ter visto
Edenilson na chácara nos últimos meses. Eles afirmaram, porém, que o homem não
era caseiro e que tinha invadido o local. “Logo após o último inquilino ter
saído, há uns seis meses, uma família invadiu o local, mas nunca suspeitei que
ali era ponto de tráfico. Vi esse rapaz umas três vezes”, disse um dos
moradores da região. Outro vizinho disse, inclusive, que conversou com um
oficial da PM no dia da abordagem na chácara, mas que não acompanhou o desfecho
da ação. A mãe de Edenilson, Marinelsa Rodrigues, afirmou que o filho tinha
sido convidado para morar na chácara por um amigo. Logo após o convite, porém,
o homem havia se mudado. A mulher disse também que o filho já tinha sido
informado que teria de desocupar o local e que ele estava procurando uma nova
moradia.
MP ouviu testemunhas
O Ministério Público (MP) confirmou que há um procedimento aberto
no Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) para apurar
as circunstâncias do desaparecimento de Edenilson Murillo Rodrigues. O órgão
informou ainda que algumas pessoas foram ouvidas, mas não divulgou quantas e
nem se elas pertencem ao quadro da Polícia Militar. De acordo com a assessoria
do MP, os promotores irão aguardar a apuração da Corregedoria da PM antes de
prosseguir com o seu procedimento.
Fonte: RAPHAEL MARCHIORI | GAZETA DO POVO
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