sábado, 7 de setembro de 2013

Com arte, estudo e trabalho, gaúcha presa na Espanha espera julgamento

A nutricionista Bruna Bayer Frasson, de Novo Hamburgo, foi presa em 2012 por tráfico de drogas. Seu julgamento começa na segunda-feira

Com arte, estudo e trabalho, gaúcha presa na Espanha espera julgamento Fernanda Zanuzzi/Especial
Justiça espanhola marcou data de julgamento após campanha lançada por familiares de Bruna em Novo Hamburgo (Foto: Fernanda Zanuzzi / Especial)

Após 533 dias presa em Barcelona, na Espanha, a nutricionista gaúcha Bruna Bayer Frasson, 26 anos, finalmente começa a ser julgada nesta segunda-feira por "atentado contra a saúde pública". Bruna foi detida em 23 de março de 2012, ao ser flagrada com 3 quilos de cocaína no porto da capital catalã, onde desembarcava para desfrutar de um dia de folga como trabalhadora do navio Costa Victoria, da armada italiana Costa Crociere.

Segundo a declaração judicial do seu ex-namorado, também tripulante do barco e preso no mesmo momento, a droga foi introduzida por ele na sua mochila sem que ela soubesse. No momento do julgamento, Bruna terá cumprido, em prisão preventiva, um quarto da pena sugerida pela promotoria, de sete anos e nove meses. Esse tempo é suficiente para que cidadãos europeus já condenados pela Justiça espanhola passem ao regime de prisão aberto.

   Uma das aquarelas de Bruna (Foto: Arquivo pessoal)

O julgamento, coletivo, será acompanhado por representantes da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, do Consulado Brasileiro em Barcelona e pelo Secretário de Justiça e Direitos Humanos do Estado, Fabiano Pereira. As autoridades brasileiras apoiaram o pai de Bruna, o empresário Alexandre Frasson, nas negociações que pleiteavam que ela esperasse o julgamento em liberdade. Depois de seis reuniões diplomáticas e diversos recursos jurídicos, o direito foi negado, e em junho de 2013, o julgamento de Bruna ainda não tinha data marcada.

Desde então, a família decidiu tornar a causa pública e reuniu mais de 5 mil assinaturas em uma campanha da Avaaz para denunciar "a máfia dos cruzeiros, a violação de direitos humanos nos navios e para defender os brasileiros desamparados no exterior". Segundo o Itamaraty, a Espanha conta com o maior número de brasileiros e brasileiras presos na Europa: 362 pessoas. Em todo o mundo, são 3.078 detidos — a maioria mulheres envolvidas em tráfico de drogas.

A história de Bruna não é única, mas é paradigmática. Nesta entrevista, realizada no Centro Penitenciário de Mulheres de Barcelona Wad-Ras, em uma pequena sala de vidro situada no saguão que dá acesso aos módulos e ao pátio, ela explica como enfrenta esta situação que mudou a sua vida. Um pouco ressabiada, mas sorridente e com olhar tranquilo, Bruna quis saber mais sobre a entrevista, e se eu já conheci o seu pai, que está em Barcelona. Antes da primeira pergunta, ela começa a relatar:

— Essas coisas que a gente vê na TV e pensa: "Que duro, né? Como deve ser? E passou isso com alguém? E se passasse comigo? Mas agora está passando e… estou sobrevivendo. A gente sobrevive a tudo. Aqui dizem que o ser humano é um animal de costumes. Se acostuma a tudo. Quando fiz a faculdade, meu professor de fisiologia sempre dizia que o corpo se acostuma a tudo, menos com dor. Mas as pessoas também se acostumam com dor. Se acostumam a sentir dor e vão se tornando mais duras. Espero sair logo daqui, mas acho que esses quase dois anos me fizeram crescer muito, melhorar como pessoa. O meu tutor diz que eu criei um universo paralelo, e que não tenho noção de que estou presa. E é verdade, eu acho que, como ser humano, eu vou conseguir sair melhor. Isso é incrível, mas eu acho que consegui encontrar aqui um equilíbrio.

Leia a entrevista com Bruna:



Fonte:Fernanda Zanuzzi, especial | ZERO HORA

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