sábado, 26 de maio de 2012

Crime em Rio Pardo desafia a polícia

Marciele Freitas Pinheiro foi morta a facadas há 11 dias
Crédito: Arquivo pessoal / CPMemória


     O esclarecimento do caso da estudante Marciele Freitas Pinheiro, 12 anos, morta a facadas há 11 dias em um matagal perto da BR 471, em Rio Pardo, é prioridade do delegado Anderson Faturi. Ele admite ser esse o maior desafio em sua carreira policial, iniciada há cinco anos. O delegado mobilizou 30% de sua equipe para investigar o crime, que chocou os moradores do município no dia 17.

     "Tenho convicção de que o 
autor do crime era alguém que ela conhecia, mas ainda não sei qual o grau de proximidade", afirma Anderson Faturi. Para ele, o ataque contra a menina não foi aleatório. A intensidade do número de facadas na vítima, acredita, é reveladora. "Havia muita raiva por parte de quem a cometeu", constata, confirmando que a linha investigativa é de homicídio.

     O quebra-cabeça em torno da morte da garota, esfaqueada 15 vezes no peito, pescoço e braço, sem esboçar defesa, poderá ser montado a partir de segunda-feira, quando novos laudos periciais devem ficar prontos. A expectativa do delegado é por novas pistas, pois ainda não há suspeitos. Mais de 15 pessoas, entre familiares, vizinhos, amigos e colegas de aula, estão sendo ouvidas. A DP de Rio Pardo recebeu dezenas de informações. "Todas são apuradas", garante.

     O delegado já sabe que as facadas contra a menina foram "no sentido linear". Ela estava caída no chão, ainda com a mochila nas costas. Não havia sinais de abuso sexual ou mesmo qualquer marca nas roupas e nas mãos que indicassem resistência ao ataque. Um cadarço encontrava-se fora de um dos tênis da estudante. "É mais uma incógnita", admite o delegado, lembrando que o computador de Marciele não trouxe ainda nenhuma pista.

     Após o desaparecimento, pela manhã, familiares localizaram o corpo de Marciele à noite, em um local distante em torno de 50 metros do caminho que ela costumava fazer até a escola, no bairro Boa Vista. O celular dela, desaparecido, permanece mudo. "Estamos em contato com a operadora", diz o delegado, referindo-se à quebra de sigilo telefônico.

Ódio é traço evidente no criminoso

     O delegado Anderson Faturi não descarta solicitar a elaboração de um possível perfil psicológico de quem cometeu o crime. Ele tem vasculhado ocorrências parecidas e trocado informações com veteranos policiais em busca de elementos que possam ajudar nas investigações sobre o assassinato de Marciele. "Algo desencadeou o ataque com muita raiva contra a menina", considera o delegado.

     Sem avaliar o caso específico de Rio Pardo, o delegado Arthur Raldi, da 2 Delegacia de Homicídios e Desaparecidos, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), em Porto Alegre, explica que a faca usada em um assassinato pode ter sido a única arma disponível do criminoso ou da criminosa. No entanto, o emprego da faca também serviria, de modo inconsciente, para prolongar a sensação de poder do agressor sobre a vítima, enquanto essa está sendo morta.

     Esta interpretação explicaria a quantidade de facadas, movidas por um sentimento de muito ódio. "Em um ímpeto de fúria, o número de facadas será tantas vezes quanto necessário para colocar essa fúria para fora", observa o delegado.

     Conforme Arthur Raldi, é comum acontecer que a raiva ceda espaço, mais tarde, ao remorso e ao sentimento de culpa, fazendo que o autor se entregue espontaneamente à autoridade policial ou cometa o suicídio. Em muitas situações, o assassino nem procura fugir para longe, mas permanece nas proximidades. "Há até o desejo inconsciente de que seja preso", acrescenta. 

Fonte: Álvaro Grohmann / Correio do Povo

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