Para chegar até a impressora, é preciso
atravessar igarapés cheios e estradas inundadas — Foto:
Reprodução/Instagram/Glycya
“Tem sido um desafio e um desgaste
físico. Mas, estamos fazendo nossa parte como educadores, tentando levar aquilo
que temos como missão, que é estar preocupado com o ensino e aprendizado das
nossas crianças e jovens.”
É assim que o professor
Telmo Ribeiro, de 48 anos, descreve a saga que ele e outros cinco colegas de
profissão enfrentam para levar aos alunos da escola indígena Presidente Afonso
Pena as atividades do dia a dia.
Localizada na comunidade
Matri, em Normandia, ao Norte de Roraima, a escola atende crianças e
adolescentes indígenas de outras três regiões dentro da reserva Raposa Serra do
Sol.
Formado em comunicação e
arte pela Universidade Federal de Roraima (UFRR), Telmo dá aula para estudantes
do 6º ao 9º ano do ensino fundamental.
A cada 15 dias, ele
percorre cerca de 30 Km para imprimir as atividades dos alunos. Isso porque na
escola não tem impressora e a mais próxima da comunidade fica na região do Lago
Caracaranã.
O trajeto leva duas horas
e é feito de moto, bicicleta e a pé, em meio a igarapés cheios, estradas de
chão inundadas e falta de barco, mas com muita vontade de levar educação ao
próprio povo.
Moto atolada durante a travessia — Foto:
Arquivo Pessoal/Telmo Ribeiro
“O povo sofre. Nós estamos em 2020, mas
dá a impressão que esses lugares estão parados em 1980. Mas, se nós não
fizermos pelo nosso povo, as pessoas de fora não vão vir fazer, pelos desafios
que enfrentamos”.
O professor afirma que o
percurso até as outras duas impressoras, nas comunidades Raposa e Guariba, é
ainda mais longo, por isso opta por ir até o Caracaranã.
“Para imprimir as
atividades a gente vai de moto até o igarapé cheio. Chegando lá tem que
procurar um meio para atravessar sem molhar o material dos alunos. Do outro
lado, pega a bicicleta, depois larga e vai caminhando pela estrada submersa
pela água. Ainda corremos risco com animais como jacarés e cobras.”
Depois que imprime, ele
repete todo o percurso na volta, e entrega na casa de cada aluno as atividades
elaboradas.
Essa rotina de trabalho
ocorre sempre em períodos chuvosos e torna o acesso à escola muito complexo.
Por este motivo, mesmo antes da pandemia, quando alunos da rede estadual passaram a ter aulas remotas, a escola já
funcionava em regime de ensino não presencial durante o inverno -- entre os
meses de abril até setembro.
"Não tivemos
dificuldade de fazer as atividades não presenciais com a pandemia, por conta
desse desafio que acontece todos os anos", afirmou Telmo.
Comunidade Matri — Foto:
Reprodução/Instagram/Glycya
Além da comunidade Matri,
a escola atende crianças e adolescentes das comunidades Cachoeirinha, Japó,
Nova Canaã e Sucubeira, que ficam distantes cerca de 12 a 18 km uma da outra.
Os seis professores são
responsáveis por levar as atividades na casa de cada um dos 88 estudantes. E é
nesse momento que os alunos também podem tirar as dúvidas em relação ao
material.
“Para atendê-los passamos
o dia inteiro. Saímos da escola às 7h e retornamos às 17h ou 18h”.
Procurada, a Secretaria de
Estado de Educação e Desporto (Seed) não se pronunciou sobre o assunto.
Por Juliana Dama, G1 RR
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