Foto: Alina Souza
Professores estaduais, pais e alunos protestaram
nesta quarta-feira na frente do Palácio Piratini, no Centro de Porto
Alegre, contra a proposta do calendário de volta às aulas no Rio Grande do Sul.
O cronograma de retomada das atividades nas instituições de ensino foi
proposto pelo governo do Estado. A manifestação respeitou o distanciamento
em função da Covid-19 e contou com um grupo de cerca de 40 pessoas, um caminhão
de som e um telão que mostrou depoimentos de pais e professores contrários ao retorno
das aulas no Estado. No calendário apresentado pelo Executivo estadual, os
estudantes do Ensino Infantil voltariam para a escola no dia 31 de agosto. Os
ensinos Superior, Médio e Fundamental voltariam em setembro. Já os anos
iniciais do Ensino Fundamental teriam as aulas presenciais retomadas em
outubro. As datas são as mesmas para as escolas públicas e particulares.
A presidente do Cpers, Helenir Aguiar Schürer,
disse que a manifestação teve o objetivo de denunciar a falta de estrutura das
escolas e de qualquer possibilidade de retorno às atividades escolares.
"Não temos condições de retorno, porque as instituições de ensino não têm
funcionários e capacidade estrutural para receber os estudantes",
ressaltou. Segundo Helenir, as escolas gaúchas não podem se transformadas em
polos de contaminação do coronavírus. A presidente do Cpers ressaltou que sem a
queda de casos da Covid-19 e uma vacina contra a doença, não é possível reabrir
as escolas. “Não podemos permitir que as crianças sirvam de cobaias, inclusive,
para ver se vai ter contaminação ou não”, afirmou. Segundo ela, muitas escolas
não têm recursos humanos suficientes para cuidar da higienização e do controle
dos alunos.
Helenir destacou a falta de equipamentos de
proteção para funcionários e professores que já atuam em regime de plantão. Uma
pesquisa do sindicato mostrou que mais de 90% das escolas não têm recursos
adequados para um retorno seguro e que 86% não acreditam que é possível
retomar as aulas sem vacina. Apenas 6% responderam que é possível e os demais
afirmaram não saber. Além disso, 84% dos pais afirmaram que não mandariam os
filhos à escola antes da disponibilização de uma vacina. Apenas 5% levariam e
11% afirmaram não saber. Em nota, a Secretaria Estadual da Educação (Seduc)
informou que respeita todas as manifestações democráticas. Desde o início da
pandemia do coronavírus, a Seduc tem trabalhado em ações com o objetivo de
proteger a vida dos estudantes, dos professores e dos demais envolvidos na rede
estadual de educação.
O possível retorno de crianças e adolescentes às
escolas no final de agosto e início de setembro é visto com preocupação pela
Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul. A entidade reconhece a extrema
complexidade do assunto uma vez que há dois aspectos em debate variando
conforme a realidade de cada família. De um lado estão aqueles que podem
continuar exercendo suas atividades em home-office e por segurança preferem que
as atividades continuem de forma online. Porém, há famílias que estão retomando
o trabalho e não possuem alternativa para viabilizar alguém que cuide dos
filhos.
O consenso, segundo o médico pediatra José Paulo
Ferreira, da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, é de que precisam ser
respeitadas as peculiaridades de cada região e de cada família. “As pessoas
estão muito inseguras para esse processo de retomada das aulas. Não há
respostas para tudo. Há vírus e bactérias diferentes circulando em diferentes
países e em diferentes estados", acrescentou.
Ferreira explicou que não é possível se basear no
que acontece na Europa e nos Estados Unidos. “É interessante observamos
que há, sim, pais que não estão tendo outra opção porque precisam
trabalhar e há relatos de casos de muitas famílias que precisam recorrer a
meios alternativos, o que acaba expondo-as de qualquer maneira",
ressaltou. Ferreira diz que são decisões que precisam envolver a parte médica,
social e econômica.
Por Cláudio Isaías
Correio do Povo
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