Entre 2011 e 2015 foram registrados 278 mil
casos no País
Entre 2011 a 2015 foram registrados cerca de
278 mil casos seguido de morte no país
Foto: Vladimir Platonow / Arquivo Agência
Brasil / CP
O Brasil
registrou mais mortes violentas de 2011 a 2015 do que a Síria, país em guerra,
em igual período. Os dados, divulgados nesta sexta-feira, são do Anuário
Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança
Pública. Foram 278.839 ocorrências de homicídio doloso, latrocínio, lesão
corporal seguida de morte e morte decorrente de intervenção policial no Brasil,
de janeiro de 2011 a dezembro de 2015, frente a 256.124 mortes violentas
na Síria, entre março de 2011 a dezembro de 2015, de acordo com o
Observatório de Direitos Humanos da Síria.
"Enquanto
o mundo está discutindo como evitar a tragédia que tem ocorrido em Alepo, em
Damasco e várias outras cidades, no Brasil a gente faz de conta que o problema
não existe. Ou, no fundo, a gente acha que é um problema é menor. Estamos
revelando que a gente teima em não assumi-lo como prioridade
nacional", destacou o diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança
Pública, Renato Sérgio de Lima.
Apenas em
2015, foram mortos violentamente e intencionalmente 58.383 brasileiros,
resultado que representa uma pessoa assassinada no país a cada 9 minutos, ou
cerca de 160 mortos por dia. Foram 28,6 pessoas vítimas a cada grupo de
100 mil brasileiros.
No
entanto, em comparação a 2014 (59.086), o número de mortes violentas sofreu
redução de 1,2%. "A retração de 1,2% não deixa de ser uma retração, mas em
um patamar muito elevado, é uma oscilação natural, de um número tão
elevado assim", ressaltou Lima.
Das
58.383 mortes violentas no Brasil em 2015, 52.570 foram causadas por homicídios
(queda de 1,7% em relação a 2014); 2.307 por latrocínios (aumento de 7,8%); 761
por lesão corporal seguida de morte (diminuição de 20,2%) e 3.345 por
intervenção policial (elevação de 6,3%).
Estados
Sergipe,
com 57,3 mortes violentas intencionais a cada grupo de 100 mil pessoas, é o
estado mais violento do Brasil, seguido por Alagoas (50,8 mortes para cada
grupo de 100 mil) e o Rio Grande do Norte (48,6). Os estados que
registraram as menores taxas de mortes violentas intencionais foram São
Paulo (11,7 a cada 100 mil pessoas), Santa Catarina (14,3) e Roraima (18,2).
"Os
estados em que as mortes crescem, com exceção de Pernambuco, são os que não têm
programa de redução de homicídios. Você percebe que quando há política pública,
quando você prioriza o problema, são conseguidos alguns resultados
positivos", disse Lima.
As
unidades da federação que mais aumentaram o número de mortes violentas foram o
Rio Grande do Norte (elevação de 39,1%), Amazonas (19,6%), e Sergipe (18,2%).
Os que mais diminuíram foram Alagoas (queda de 20,8%), o Distrito Federal
(-13%), e o Rio de Janeiro (-12,9%).
"Alagoas,
estado que mais reduziu o número de mortes, é um caso muito interessante. É o
único que tem um programa, em parceria inclusive com o governo federal, há
alguns anos. Uma parceria que envolve não só a Força Nacional, mas outras
dimensões de equipamentos. O estado que tem integração formal de
diferentes entes da Federação é aquele que conseguiu reduzir com mais intensidade",
disse Lima.
De acordo
com o diretor-presidente do fórum, a grande maioria dos oito estados que têm
programas de redução de homicídios teve diminuição no número de mortes
violentas: Alagoas (-20,8%), Bahia (-0,9%), Ceará (-9,2%), Distrito
Federal (-13%), Espírito Santo (-10,7%), Pernambuco (+12,4%), Rio de
Janeiro (-12,9%), e São Paulo (-11,4%).
Letalidade
policial
De acordo
com o anuário, a cada dia, pelo menos 9 pessoas foram mortas por policiais no
Brasil em 2015, resultando num total de 3.345 pessoas, ou uma taxa de 1,6 morte
a cada grupo de 100 mil pessoas. O número é 6,3% superior ao registrado no
ano anterior. São Paulo foi o estado com o maior número de pessoas mortas
por policiais em 2015: 848. As maiores taxas de letalidade policial registradas
no último ano foram nos estados do Amapá (5 para cada grupo de 100 mil
pessoas), Rio de Janeiro (3,9) e de Alagoas (2,9). Considerando-se os
números absolutos, São Paulo e o Rio de Janeiro concentram sozinhos 1.493
mortes decorrentes de intervenções policiais, ou 45% do total registrado no
país.
A taxa
brasileira de letalidade policial (1,6) supera a de países como Honduras (1,2)
e África do Sul (1,1). "Isso demonstra um padrão de atuação que precisa
ser revisto urgentemente. Esse padrão faz com que você tenha [no Brasil] o
número de pessoas mortas por intervenção policial como o mais alto do
mundo. Nossa taxa de letalidade policial é maior do que a de Honduras, que é
considerado o país mais violento em termos proporcionais, em termos
de taxa, do mundo".
"Esse
é um problema que continua muito sério no país e não está submetido
especificamente à dimensão dessa nova realidade, seja a lei de terrorismo ou
outras questões. Mas estamos com um problema muito agudo do padrão de
trabalho das polícias", destacou Lima.
O total
de policiais vítimas de homicídios em serviço e fora do horário do expediente
também é elevado no Brasil. Em 2015, foram mortos 393 policiais, 16 a menos do
que no ano anterior. Proporcionalmente, os policiais brasileiros são três
vezes mais assassinados fora do horário de trabalho do que no serviço:
foram 103 mortos durante o expediente (crescimento de 30,4% em relação a 2014)
e 290 fora (queda de 12,1% em relação a 2014), geralmente em situações de
reação a roubo (latrocínio).
O Anuário
Brasileiro de Segurança Pública, que está em sua 10ª edição, será lançado no
dia 3 de novembro pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Agência Brasil
Correio do Povo
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