Passo-fundense
que sobreviveu ao acidente da Reunidas conta como se salvou
Era uma viagem de férias
para Victoria, 17, e Mateus, 18 anos. Eles embarcaram às 21h30, em Passo Fundo,
no dia 10 de janeiro de 2015 em um ônibus da Reunidas, com destino à
Florianópolis.
Os planos eram de ficar
um tempo com parentes em Ingleses (SC) e depois ir à Porto Alegre onde
assistiriam o show do Foo Fighters, sonho de Victoria. Por volta da 01h, ela
dormiu. As 3h30 foi acordada aos gritos.
Sem entender muito bem o
que acontecia, foi retirada do ônibus pelo namorado com ajuda de outros
passageiros. Victoria e Mateus subiram a ribanceira e deitaram no chão, à
espera do socorro. Eles estavam no ônibus que capotou no Km 109 da BR 282, em
Alfredo Wagner e vitimou nove pessoas.
Victória Didomenico
quebrou a clavícula e a pelve. Teve ferimentos causados por cacos de vidro em
todo o corpo, além de hematomas. Após quase um mês do acidente, ela ainda se
recupera.
Por três meses, precisa
continuar na cadeira de rodas. Recém-formada no Ensino Médio foi aprovada no
curso de Biologia e no final do mês inicia a Faculdade. A jovem relembra o dia
com tristeza, mas com a maturidade de quem precisou aprender na dor o valor de
estar vivo, “eu vi os bombeiros com a lanterna no meu rosto e eu chorando,
pedindo ajuda, pedindo para que ligassem para minha mãe, porque já era hora da
gente ter chegado.
Eu, com muito frio,
pedia manta térmica, estava quase com hipotermia. Era todo mundo gritando, todo
mundo desesperado, pedindo socorro, era uma loucura”. Mateus Weber, 18 anos,
sofreu lesões na coluna, está usando colete e por orientação médica deve
permanecer a maior parte do dia em repouso, por pelo menos seis meses.
Em Passo Fundo, a mãe de
Victoria, Renata Carolina da Silva, 35 anos, recebeu a ligação de um senhor por
volta das 4h30. Ele disse que a filha estava no ônibus que se envolveu num
acidente grave.
A ligação caiu. Renata
desconfiou, “quando recebi a noticia, achei que fosse um trote. Eu não
acreditava, coloquei minha filha inteira, ela e o namorado no ônibus para uma
viagem de família”.
Depois, ela se deu conta
que alguma coisa deveria ter acontecido, caso contrário, como alguém teria as
informações sobre a filha. Renata tentava ligar de volta para o número, mas sem
sucesso. Foi quando o senhor ligou novamente e, então, explicou o que tinha
ocorrido. “Na hora eu fiquei perdida. A intenção era ir lá ver minha filha.
Como, eu não sabia ainda”, conta a mãe da jovem.
Victoria foi levada ao
Hospital Governador Celso Ramos onde recebeu o primeiro atendimento e realizou
exames. “Quando acordei já estava na ambulância, quase chegando ao hospital.
Para mim foi um sonho. Depois que eu encontrei com ele (Mateus) e ele me contou
daí eu meio que me lembrei de alguma coisa. Eu também lembro que senti um peso
em cima de mim, quando eu estava no ônibus. Pelo que ele me falou, tinha um
cara deitado em cima de mim. Muita coisa eu não lembro”, disse ela.
No hospital, Victoria
tinha duas preocupações: saber do namorado e falar com a mãe, “eu consegui
falar com ela, mas eu queria saber onde estava o meu namorado.
Eu estava mais
preocupada com ele do que comigo porque via que estava tudo bem. Eu não sentia
minhas pernas e eu não juntava as coisas. Para mim, não tinha acontecido.
Aquele dia foi meio que apagado”. Do outro lado, Renata ficava aliviada,
“quando eu escutei a voz dela foi um alivio muito grande, porque eu sabia que
ela estava viva, consciente e falando. Até então foi um pesadelo”.
Depois de dois dias,
Victoria foi para a casa do tio em Ingleses, consultou em uma clínica
particular e então voltou a Passo Fundo numa ambulância. Chegando na cidade,
foi direto ao IOT onde foi passou por cirurgia e ficou por mais uma semana. A
fratura na pelve impede que ela faça vários movimentos e, por isso, Victoria
deve ficar em cadeira de rodas por três meses.
A jovem revela que a
empresa de ônibus tem prestado toda a assistência desde o momento do acidente.
Ela conta que o motorista trafegava com regularidade, respeitava o limite de
velocidade durante o percurso em que ficou acordada e, de acordo com o relato do
namorado, foi tudo de repente, “ele (Mateus) me contou que sentiu o ônibus
dando uma‘tombadinha’ numa curva, daí caiu mala do bagageiro
e o pessoal se assustou. Na outra curva, ele já sentiu o ônibus tombar”.
Para Victoria, muita
coisa mudou depois do acidente, “do dia para noite tudo acabou. Ficou uma
dificuldade, porque a gente perdeu tudo o que tinha planejado e agora eu
preciso de ajuda para ir ao banheiro, deitar na cama, isso ficou difícil. Ficou
complicado”. A jovem tem pesadelos e não consegue ficar sozinha. Desde o
acidente, ela dorme com a mãe que, apesar do susto, agradece pela filha estar
viva. “A vida continua. Graças a Deus estão bem, inteiros” diz Renata.
De uma viagem a passeio,
Victoria mudou o olhar sobre o futuro e com sorriso no rosto celebra o fato de
estar viva, “pelo menos a vida ficou. Os ossos vão ser recuperar, as cicatrizes
também vão sumir, mas a gente tem que pensar pelo lado bom, que a vida, a gente
continua com ela”.
O acidente
O ônibus da Reunidas
linha Posadas – Florianópolis caiu de uma ribanceira no km 109 da BR 282 em
Alfredo Wagner (SC), às 3h30 do dia 11 de janeiro de 2015. Nove pessoas
morreram e 21 ficaram feridas. A empresa estaria trafegando na BR -282 sem
autorização da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) para esta
linha.
A Reunidas informou que
a decisão foi tomada pela área de controle de tráfego da empresa porque todos
os passageiros tinham como destino Florianópolis e que o percurso é mais curto
e com menos movimento do que pela BR 470.
A Polícia Rodoviária
Federal divulgou que o ônibus trafegava em uma velocidade média de 70 km/h.
Depois da leitura do disco do tacógrafo, foi possível identificar que o veículo
variava entre 60 km/h e 80 km/h durante a viagem. Depois da saída de pista, o ônibus
chegou a 122km/h, segundo indicado pelo tacógrafo no momento da colisão.
Fonte:
Rádio Uirapuru | Passo Fundo
Fotos: Arquivo
Pessoal
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