terça-feira, 10 de abril de 2012

Ataque a professora mostra quadro de violência em colégio no Morro da Cruz

  Instituição da Zona Leste da Capital convive com a violência - Marcelo Oliveira / Agencia RBS


     Uma faixa na entrada da Escola Municipal Morro da Cruz define: "Educar é proteger". Desde o início do ano, porém, essa é uma missão quase impossível para quem se dedica aos aproximadamente 1,1 mil alunos daquela comunidade da Zona Leste de Porto Alegre.

     - Temos de agradecer o dia em que conseguimos chegar em casa tranquilos depois do trabalho - resume a vice-diretora, Ana Cláudia Lopes.

Mãe se meteu para agredir

     Desde o início das aulas, há apenas um mês, mais de 20 casos de agressões graves contra professores ou entre alunos já foram registrados. A gota d'água aconteceu na semana passada e forçou o cancelamento das aulas de quinta-feira (como protesto) e uma assembleia entre pais, professores e alunos, realizada ontem. A expectativa é de que as aulas sejam retomadas hoje.

     Na terça passada, uma professora do primeiro ano do ensino fundamental tentou defender uma aluna de sete anos contra a fúria de outro estudante, de 12 anos. Ele ameaçava incendiar o cabelo da colega. A educadora foi ameaçada pelo guri e acabou agredida não por ele, mas pela mãe dele, que invadiu a escola junto de uma das irmãs do aluno.

     Desde aquele dia, a professora está afastada, sob licença, completando uma lista de 14 professores afastados por problemas semelhantes.

     - Infelizmente, a escola está no meio de um contexto de violência bem maior, que vem das ruas, e não estamos preparados para esse tipo de controle. Os professores aprendem a educar, não a contornar conflitos - desabafa a vice-diretora, que atualmente não conversa com os alunos sem pelo menos uma testemunha.

Casos semelhantes foram registrados

     No mesmo dia em que a professora foi agredida, por exemplo, a direção da escola registrou, pelo menos, outras duas agressões. Em uma delas, um professor evitou que um aluno agredisse uma colega com uma barra de ferro na cabeça. No outro, uma estudante teria esganado um colega, chegando a sangrar o seu pescoço.

Caindo aos pedaços

     O ambiente que recebe os estudantes na escola não ajuda a melhorar a autoestima. Uma vala com esgoto a céu aberto corre exatamente no pátio onde os estudantes pequenos ficam.

     - Na formatura do ano passado, deu para ver até ratos correndo no pátio - lembra um aluno.

     A agressão à professora aconteceu neste setor antigo, onde as salas ainda são de madeira, com algumas portas fixadas por barras de segurança - praticamente todos os vidros foram quebrados e dois banheiros estão fora de uso há bastante tempo. No pátio, além do esgoto e do mau cheiro, o trabalho em grafite, que deveria orgulhar as crianças, já está quase todo coberto pelo matagal.

     Segundo a diretora pedagógica da Smed, Eliane Meleti, duas vezes por ano o município faz a capina nas escolas. Entre essas visitas, é recomendável que a escola utilize sua verba para o serviço.

Obras ainda são apenas projeto

     Eliane afirma que no começo do ano a equipe de manutenção da secretaria chegou a avaliar o caso do esgoto e limpou o local.

     - A escola Morro da Cruz é uma das prioridades da secretaria. Vamos cobrar atitudes também da direção na manutenção daquele espaço - prometeu.

     Segundo ela, a obra de substituição das salas de madeira e de reforma dos banheiros está em fase de projeto. Ainda nesta semana, o Conselho Escolar pretende se reunir com a secretaria.

O medo da gangue do isqueiro

     A professora agredida na semana passada foi vítima de um grupo de estudantes que começa a criar fama na escola e na comunidade. Eles se autointitulam a "gangue do isqueiro".

     Tudo teria começado quando um estudante de oito anos teve parte do cabelo queimado por dois alunos, de 12 e 13 anos, com um isqueiro. A mãe reclamou à direção e todos ficaram alertas. O problema é que a ideia se multiplicou.

     Estudantes confirmam que já há um grupo de alunos amedrontando os menores, com isqueiro e desodorante em spray, que, devido ao álcool na fórmula, vira um lança-chamas.

     A presença de guardas municipais diminuiu - eram três em 2011, e agora há apenas um. Os professores acabaram virando mediadores - e alvos.

     - Qualquer um entra como quer e a hora que quer, pelo portão, pelos muros. É um risco para todos - preocupa-se a mãe de uma estudante de 14 anos, que prefere não ser identificada.

     Para a diretora pedagógica da Smed, Eliane Meleti, a agressão à professora foi um caso isolado. A mãe agressora teria entrado no pátio alegando ao porteiro que iria à secretaria.

     - O menino foi matriculado este ano, aos 12 anos, no primeiro ano. Em 2010, ele teria cursado a primeira série, mas evadiu - explicou.

     A secretaria já teria feito contato com o Conselho Tutelar para acompanhar a família do menino. O caso também é acompanhado pela 19ª DP. Nos próximos dias, o delegado Adilson Carrazzoni pretende ouvir todos os envolvidos.

Fonte: Eduardo Torres / DIÁRIO GAÚCHO

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