quinta-feira, 19 de abril de 2012

Usuários de crack da Capital recebem cuidados de profissionais da saúde

Usuários de crack da Capital recebem cuidados de profissionais da saúde Tadeu Vilani/Agencia RBS
Usuários de crack são atendidos embaixo de viaduto na CapitalFoto: Tadeu Vilani / Agencia RBS

     Ao percorrer o entorno de um viaduto no Centro Histórico de Porto Alegre durante uma das abordagens que faria ao longo desta quinta-feira, a médica Isabel Munaretti é chamada por uma colega de equipe para atender a uma moradora de rua que não passava bem.

     Instalada junto com uma amiga embaixo da estrutura de concreto, a usuária de crack magra, de cabelos claros e apenas 30 anos teve de buscar forças para se desvencilhar de um cobertor e levantar-se para ter o pulmão auscultado e a febre medida, enquanto o companheiro arredio proferia à sua volta uma série de reclamações.

     — A princípio é só um resfriado, mas se tu tiveres dor ou mais tosse corre para a Santa Casa — aconselhou Isabel, antes de combinar um novo encontro com a paciente no dia seguinte.

     A visita ao local é rotina para a equipe do projeto Consultório na Rua, que faz parte da série de medidas incrementadas pelo programa federal Crack, É Possível Vencer. Desde terça-feira, o serviço congrega ações de saúde da prefeitura com foco na redução de danos provocados pelo uso de crack, álcool e outras drogas em pessoas que vivem ou trabalham nas ruas, parque e praças da região central da cidade.

     A ideia é melhorar as condições de vida do público-alvo. O grupo envolve profissionais de áreas como assistência social, enfermagem, psicologia, terapia ocupacional e medicina.

     Na raiz do trabalho está a conquista da confiança dos usuários, o que nem sempre se revela uma tarefa simples. A reportagem de Zero Hora acompanhou, na manhã de ontem, o trabalho da equipe que cruza as vias da área central em uma Kombi — uma van que está em processo de compra será adaptada para receber consultas médicas e atendimento de enfermagem.

     Há 12 anos lidando com quem vive nas ruas da capital gaúcha, a experiente agente de redução de danos Elaine Pires aproveitou o final da conversa entre a médica e a usuária de crack de 30 anos para completar a mensagem do combate à pedra. Aos poucos, trouxe à tona o tema da busca de tratamento para o vício. O principal objetivo do programa, entretanto, não é obrigar as pessoas a buscar a desintoxicação.

     — Eu tô maneirando o uso, tô deixando de usar aos poucos. Já me perguntaram: será que tu te ama? Tu gosta de ti? — lamentou a usuária, que aparenta bem mais do que as três décadas de vida que tem.

     Após oferecer ajuda a todos os moradores de rua das proximidades do viaduto, os integrantes do consultório nômade se afastam do grupo sem forçar qualquer tipo de auxílio.

     Essa é a segunda equipe do projeto a ser criada na capital gaúcha. Na Zona Norte, o mesmo serviço já é oferecido desde setembro de 2010, coordenado pelo Grupo Hospitalar Conceição (GHC). A ideia é de que um terceiro Consultório na Rua atenda usuários que frequentam a Zona Sul. 

Projeto do Conceição foi pioneiro na Capital 

     Pioneiro na Capital e em funcionamento desde setembro de 2010, o projeto Consultório na Rua que atende a Zona Norte é coordenado por especialistas do Grupo Hospitalar Conceição (GHC). A cada mês, são realizadas cerca de 300 abordagens nas ruas da região, sendo que setenta usuários têm acompanhamento sistemático.

     O cadastro envolve desde o controle de consultas de saúde e encaminhamento à assistência social até a realização de cursos profissionalizantes e acesso a educação e cultura. Ainda que o número de abstinentes seja considerado pequeno, a coordenadora do projeto, Milene Calderaro Martins, comemora a redução drástica dos danos à saúde de todos os cadastrados.

     — Essa questão do crack não é só de saúde. Para muitos usuários, vai além. Em alguns casos até é fácil desintoxicar. Ficam 20 ou 30 dias sem usar, mas volta tudo como era antes, falta estrutura e acompanhamento. Tem quem diga que não sabe nem o que é ter uma casa, fazer comida, o que é ter hora para isso ou para aquilo. O resgate dessas regras é muito difícil — conclui a coordenadora.

Fonte: Pedro Moreira / ZERO HORA

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