Entre
10 e 12 mil aves mortas nesta semana se somam aos 400 frangos que não
resistiram à falta de energia na anterior. Foto - Cristiane Luza
De longe, o mau cheiro e os corvos sobrevoando a propriedade
dão ideia do que está por vir mais à frente. Ao abrir as portas do aviário, o
agricultor Joceli Magri, 47 anos, mostra o motivo de sua preocupação desde a
tarde da última quarta-feira, 30 de janeiro: entre 10 e 12 mil frangos mortos,
em meio aos animais sobreviventes, carcaças do empenho da família por uma vida
melhor no interior do pequeno município de Vista Alegre, no Norte do Rio Grande
do Sul.
– As interrupções de energia elétrica são constantes –,
conta. Com a voz embargada e os olhos marejados, fala sobre o esforço diário
para manter no campo, mais precisamente na linha Ponte do Pardo, a residência
na qual moram seis pessoas – ele, a esposa, seus dois filhos menores e os
sogros idosos –, além do desapontamento por pagar as contas em dia e a concessionária
não lhe dar a chance de se preparar. Não tendo recebido aviso prévio sobre o
desabastecimento temporário ocorrido entre 13h30 e 19h daquele dia e com o
gerador no conserto, o investimento de cerca de R$ 500 mil e o prazo restante
até a semana seguinte para entregar os frangos a um frigorífico da cidade de
Miraguaí, distante cerca de 50 quilômetros, lhe abalaram. “Sem energia
elétrica, meu investimento se torna inútil, dependo muito dela. Fico até dois
dias sem. Litros de leite jogados fora, agora esse transtorno com os frangos,
que precisam ficar em ambiente refrigerado a 23ºC. Naquela tarde, a temperatura
girava em torno dos 40ºC... Sem contar o psicológico da gente, fiquei sem rumo.
Hoje de manhã não tinha nem vontade de levantar para vir ver o aviário, o que
antes era uma alegria. Não temos segurança de nada. Queremos ficar na
propriedade, mas fazer o que aqui? Pensei até em vender tudo e ir embora. É
revoltante, isso não pode acontecer”, desabafou o agricultor em entrevista ao
meio-dia de ontem, a pausa que a família fez na atividade de remover os
cadáveres de frangos do local e enterrá-los. Eram tantos que planejavam sair em
busca de ajuda para a tarefa à tarde, antes que o odor da decomposição se
tornasse insuportável.
Com a morte de outros 400 frangos dos 18 mil na semana
passada, também por interrupção de energia elétrica, mais os desta, a
expectativa de renda ficou prejudicada. A criação de aves corresponde a,
aproximadamente, 70% dos ganhos, o restante é complementado com a atividade
leiteira, o plantio de fumo e a produção de silagem. “Se for entrar na Justiça,
são seis ou sete anos esperando ressarcimento, mas eu preciso do dinheiro
agora, vamos fazer o quê? Tem que levantar a cabeça e continuar, parar é pior”,
considera Magri, que conta com o auxílio de um técnico do frigorífico e um
veterinário para fazer os laudos e poder contabilizar os prejuízos.
Justificativa da concessionária
Contatada, a Rio Grande Energia (RGE) respondeu que a falta
de energia na quarta-feira nas regiões de Palmitinho e Vista Alegre ocorreu em
razão do desligamento para obras de manutenção programada da rede elétrica, com
a troca de 14 postes de madeira por concreto e instalação de um novo
transformador.
Mobilização por melhorias no setor
Em 10 de janeiro
deste ano, o Ministério Público instaurou inquérito para apurar a causa das
constantes quedas de energia em municípios da região. Foi depois de um apagão
que durou mais de quatro horas, prejudicando empresas, órgãos públicos e
consumidores em geral. Até o fechamento desta edição, o órgão seguia aguardando
resposta da RGE sobre as interrupções do serviço.
Na manhã de ontem, a Associação Comercial, Industrial e de
Prestação de Serviços (ACI) de Frederico Westphalen divulgou que teve reunião
para tratar sobre a necessidade de comunicados antecipados de desligamento com
representantes da companhia, responsável pela distribuição elétrica em 65% dos
municípios do Estado.
Recentemente, empresas da área central tiveram prejuízos e
transtornos com o corte de energia por mais de cinco horas, em pleno horário
comercial. “A direção da ACI-FW definiu que irá mobilizar forças para cobrar da
distribuidora de energia melhorias na estrutura, evitando apagões e, também,
que os serviços que exigem desligamentos na rede sejam comunicados com
antecedência e realizados prioritariamente fora do horário comercial”, informou
a entidade, que ainda anunciou que vai se unir à Associação dos Municípios da
Zona da Produção (Amzop) para solicitar resolução dos problemas que afetam o
abastecimento.
Publicado por: Cristiane Luza
Fonte: Folha do Noroeste
Fotos: Cristiane Luza
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