Por 30 votos a 23, AL aprovou projeto central
do pacote de medidas de Sartori
Servidores dão as costas a deputados que
aprovaram extinção de fundações
Foto: Vinícius Reis / Agência Assembleia
Legislativa / Divulgação / CP
Em uma
sessão dramática, a Assembleia Legislativa aprovou, às 3h58min desta
quarta-feira, o Projeto de Lei (PL) 246/2016, do Executivo, que autoriza a extinção de seis fundações estaduais. A
votação do projeto, apontado como o centro do pacote de medidas enviado pelo
Executivo à Assembleia, se estendeu por aproximadamente 13 horas. O PTB, que
tem cinco deputados, não integra a base e nos últimos dias foi alvo de
investidas constantes do Executivo, contribuiu com três votos para o projeto. E
o PDT, que tem sete deputados e por enquanto integra a base, teve cinco votos
contra a proposta. O momento da aprovação foi o mais acirrado desde o início da
apreciação do pacote de Sartori e, na avaliação de parlamentares de situação e
de oposição, dificilmente se repetirá no decorrer das próximas votações.
Constatada a aprovação, os servidores que ocupavam o centro das galerias se
viraram para os deputados da base do governo e passaram a entoar o bordão “Não
esqueceremos, não esqueceremos”, seguido dos gritos de “canalhas” e “vendidos”
As
manifestações eram tão altas que se sobrepuseram ao som do microfone da
presidente Silvana Covatti (PP). Enquanto gritavam “vendidos”, servidores
jogaram moedas em direção à bancada da situação. Algumas delas foram juntadas
pelo líder do governo, deputado Gabriel Souza (PMDB), que ironizou o gesto. Em
um ato simbólico de deferência, parte dos deputados da oposição virou de frente
para as galerias. E integrantes da base que votaram contra o projeto, como os
pedetistas Eduardo Loureiro e Enio Bacci, não esconderam seu abatimento.
Juliana Brizola (PDT), Manuela D’Ávila (PCdoB) e Regina Becker (Rede) ficaram
visivelmente emocionadas.
Os
parlamentares governistas se dividiram entre permanecer de costas e deixar o
plenário. Enquanto isso, a presidente Silvana Covatti tentou prosseguir
rapidamente com a pauta. Deputados como Bacci, Manuela e os petistas Stela
Farias, Adão Villaverde, Jéferson Fernandes e Luiz Fernando Mainardi fizeram um
apelo para que a sessão fosse suspensa em respeito aos mais de mil servidores
que receberam a notícia de que ficarão desempregados e pediram sucessivas
verificações de quórum para tentar interromper as votações. “Pior do que o
resultado da votação é a continuidade da sessão. Estamos tratando de uma
questão humana. Faço um apelo aqui. É impossível continuar”, considerou Bacci,
na tentativa de convencer os colegas governistas, mas a base aliada seguiu
registrando presença.
Logo após
os tumultos, Souza concedeu entrevista coletiva, informando que a decisão foi
acertada e que se trata do início de uma mudança de concepção que “atende a um
apelo da grande maioria da sociedade.” Questionado sobre qual a mensagem do
Executivo para os servidores que recebem a notícia de seu desligamento a poucos
dias do Natal, o líder do governo informou que lamenta pela situação individual
de cada um, mas completou que outras 80 mil pessoas ficaram desempregadas no RS
nos últimos meses e que no Brasil existem 12 milhões de desempregados.
Entre os
governistas, o deputado Ibsen Pinheiro também fez um apelo, em negociações
longe dos microfones, para que a sessão fosse suspensa, mas foi voto vencido e
as emendas ao projeto seguinte, o PL 240/2016, que extingue a Fundação
Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore (FIGTF) e a Fundação Estadual de
Pesquisa Agropecuária (Fepagro) passaram a ser discutidas. Como os governistas
se negaram a encerrar a sessão, a oposição voltou a se revezar na tribuna. Por
volta das 5h, a bancada do PMDB propôs uma inversão: que passassem a ser
apreciados os PLs 244 e 251, que extinguem, respectivamente, a Corag e a Superintendência
de Portos e Hidrovias (SPH) e, após as votações, a sessão fosse suspensa. A
oposição não aceitou e a sessão continuou.
Nas
primeiras horas da manhã ganhou força a tese de que, após conseguir aprovar a
extinção das seis primeiras fundações, o governo poderá retirar da pauta
Propostas de Emenda Constitucional (PECs), principalmente a 259/2016, que
pretende retirar da Constituição a exigência de plebiscito para a alienação,
transferência do controle acionário, cisão, incorporação, fusão ou extinção da
CEEE, da CRM e da Sulgás. Ainda antes de consolidada a extinção das primeiras
seis fundações, o chefe da Casa Civil, Márcio Biolchi, em conversa com
jornalistas na Assembleia, admitiu que PECs são propostas “mais abrangentes”, e
que “têm peso diferente de projetos de lei”.
Questionado
sobre os prazos regimentais necessários para a votação de emendas
constitucionais, que precisam ser aprovadas em dois turnos, com diferença de
três sessões de discussão entre eles, o que exigiria a convocação
extraordinária do Legislativo, Biolchi considerou a possibilidade de aprovação
de parte ou do todo das emendas em primeiro turno neste ano e da realização do
segundo turno apenas no retorno dos trabalhos do Legislativo em 2017, após o
recesso parlamentar. Biolchi e o secretário Geral de Governo, Carlos Búrigo,
passaram a madrugada entre o Palácio Piratini e a Assembleia.
Flávia Bemfica
Correio do Povo
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