Francisca da Silva, a prostituta Coroca, em bar
da feira de Manacapuru (AM), onde se elegeu vereadora.
Crédito: Reprodução
Uma das
principais notícias do ano em todo o mundo, a insurreição dos eleitores contra
a política tradicional, sacudiu também a pequena cidade de Manacapuru, no
Amazonas, onde a prostituta Francisca da Silva, a Coroca, 32 anos, fez história
ao se eleger vereadora.
A candidatura de protesto partiu de taxistas e mototaxistas do
movimentado cais do porto. Há anos, Coroca faz ponto ali entre bares e camelôs
que também se aproveitam do vaivém de estivadores e viajantes. A cidade de 95
mil habitantes vive um clima de sublevação contra o atual prefeito, Jaziel
Tororó (PMDB), e a Câmara, onde ele tem maioria. Em outubro, ele ficou em
terceiro lugar (24% dos votos), e apenas 2 dos 15 vereadores se reelegeram.
Em 16 de novembro, dezenas de funcionários municipais da saúde
com salários atrasados jogaram tinta nas paredes de prédios públicos, incluindo
a Câmara e a Prefeitura, e lançaram sacos de lixo na casa do prefeito.
Atualmente, o principal hospital da cidade só atende casos de emergência.
A
cidade amarga o 5.075° lugar (de 5.281 prefeituras) no Ranking de Eficiência
Dos Municípios da Folha (REM-F). Pelas ruas, a sujeira acumulada pela
paralisação da coleta de lixo e o esgoto a céu aberto são a parte mais visível
da má administração. “Aqui era a Princesinha do Solimões, vê se agora dá pra
dizer isso?”, diz o taxista Valdemir Santana, citando a alcunha da cidade.
Santana,
que trabalha no cais, é um dos idealizadores da candidatura, surgida em tom de
brincadeira em conversa sobre a política local. Convencida a se candidatar, Coroca
contou com o apoio também de feirantes e comerciantes. O único material de
campanha foi um santinho onde ela aparece maquiada e vestida com uma sóbria
roupa preta ao lado dos dizeres: “Por insatisfação e revolta vote…!!! Coroca”
O
resultado surpreendeu até os mais otimistas. Ela ficou em quarto lugar, com
1.122 votos (2,2% dos votos válidos), a apenas 334 votos do primeiro colocado.
Um êxito para uma campanha com custo declarado de 155 reais. A vitória tem sido
uma reviravolta na vida de Coroca – o apelido vem do antigo hábito de se vestir
de preto, a cor do pássaro que lhe empresta o nome.
Com problema de alcoolismo, ela se prostitui desde os 11 anos.
No cais, um programa pode custar 10 reais. Mora com os pais e os três filhos,
de idades entre 6 e 10 anos, em um casebre de paredes de madeira e teto de
zinco. Desde a eleição, Coroca ganhou status de celebridade local – é recebida
com sorrisos e costuma ser chamada de “minha vereadora”.
A partir da semana que vem, terá salário de 7,8 mil reais, verba
de gabinete de 3,5 mil reais e ainda poderá nomear até quatro funcionários. Ela
disse, entre outras propostas, que planeja um sopão para prostitutas e se
comparou à personagem bíblica Maria Madalena:
“Os
humilhados serão exaltados. Maria Madalena foi uma prostituta, e Deus deu
oportunidade pra ela. Por que não posso ganhar também? Sou mulher também”.
Fonte: Folhapress
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