domingo, 22 de maio de 2016

Peregrinos reforçam fé e devoção aos Beatos Manuel e Adílio, em Três Passos

23ª Romaria ao Santuário e 12ª Cavalgada dos Mártires tiveram ponto de culminância neste domingo



Nem mesmo a chuva fina que caía no início da manhã de hoje, a neblina e o clima úmido, foram capazes de afugentar os milhares de romeiros que participaram da 23ª Romaria ao Santuário dos Beatos Mártires do Rio Grande do Sul – Padre Manuel Goméz González e Coroinha Adílio Daronch. O evento religioso, promovido pela Paróquia Santa Inês, Diocese de Frederico Westphalen e Prefeitura de Três Passos, teve a participação de romeiros e fiéis de diversas partes da região Noroeste.

A peregrinação, que teve início em frente à Igreja Matriz, percorreu um trajeto de cerca de 5 quilômetros, até o santuário, em Feijão Miúdo, localizado naquele que é denominada como o Chão Sagrado dos Beatos Mártires, onde aconteceu o martírio dos dois religiosos, em 1924.

No santuário, o bispo da diocese de Frederico Westphalen, Dom Antonio Rossi Keller, celebrou uma missa campal, onde reforçou o exemplo que os beatos representam para os cristãos. “Nossos beatos são um testemunho vivo de fidelidade à Cristo, à mensagem do evangelho, especialmente a mensagem do perdão e da misericórdia, que o Papa Francisco tem insistido tanto nos dias de hoje”. Ele também destacou o papel da juventude na Igreja, como fundamental para a renovação e o legado que deve ser passado às futuras gerações.

12ª Cavalgada dos Mártires teve novo roteiro este ano
Este ano, Três Passos ainda recepcionou cerca de 120 cavalarianos, participantes da 12ª Cavalgada dos Mártires. A peregrinação iniciou no último domingo, em Nonoai, reunindo representantes de CTG’s da 7ª, 19ª, 20ª e 28ª Regiões Tradicionalistas. No trajeto percorrido uma novidade: a cavalgada seguiu um novo roteiro, abrangendo os municípios de Miraguaí, Redentora, Coronel Bicaco, Campo Novo, Sede Nova e Humaitá, até a chegada a Três Passos, no início da manhã de hoje, quando os cavalarianos se juntaram aos romeiros.

6ª Caminhada de Fé reuniu 55 jovens
Em 2016 também se repetiu a Caminhada de Fé, que chegou a sua sexta edição. A caminhada é realizada em memória e devoção aos Beatos Manuel e Adílio. Cerca de 55 jovens participaram da caminhada, que percorreu o trajeto de Frederico Westphalen até Três Passos. A chegada aconteceu na tarde de sábado, e os jovens acompanharam a missa neste domingo, no santuário.

HISTÓRIA DOS BEATOS MÁRTIRES DO RS

Padre Manuel Gómez González – 1877
O Padre Manuel Gómez González nasceu em São José de Ribarteme, Puenteareas, na província de Pontevedra na Galícia, em território espanhol. Os habitantes da localidade dedicavam-se à agricultura, especialmente à cultura de videiras. A população era pobre, habitando antigas casas de pedra, herdadas de seus ancestrais. Não havia indústrias e o comércio também tinha pouca vitalidade e parcos eram os meios de comunicação. Ribarteme distava muito das cidades maiores da região. A paróquia fazia parte da diocese de Túy e sua população era igualmente pequena. Seus pais, José Gómez Rodrigues e Josefa González Duran, eram agricultores modestos. Seu primeiro filho foi Manuel, que recebeu o batismo no dia seguinte ao do nascimento, em 30 de maio de 1877. A família de Manuel, segundo o testemunho do próprio pároco, era bem considerada por suas virtudes morais, cívicas e religiosas. O espírito religioso da família despertou no menino Manuel, a vocação para o sacerdócio. Não é de estranhar, quem num ambiente tão piedoso, surgisse uma vocação religiosa, como foi a do jovem Manuel, que ainda criança foi crismado na igreja de Santiago de Ribarteme, por Dom João Maria Babero, bispo de Túy. Precocemente, como decorrência do ambiente cristão em que vivia, Manuel sentiu o chamado da vocação sacerdotal. Depois de sua primeira comunhão, ingressou no seminário Diocesano de Túy.

Coroinha Adílio Daronch – 1908
A família de Adílio Daronch veio da Itália na leva dos imigrantes italianos que ingressaram no Brasil a partir de 1875. Eram seus avós Sebastiano Daronch e Francesca Schena, que aqui chegaram em 1890. Pedro, o pai de Adílio também era italiano, nascido em Agosto, terra natal de Albino Luciani, que viria a ser o papa João Paulo I, em 05 de janeiro de 1883, portanto contava 07 anos quando veio para o Brasil. A família Daronch partiu do porto marítimo de Gênova, possivelmente embarcados no navio Savoie, tendo chegado ao Rio de Janeiro em 01 de dezembro de 1890. No Rio Grande do Sul, a família adquiriu o lote no 519, do Núcleo Soturno, em Linha 11, no atual município de Nova Palma, onde se dedicaram ao cultivo da terra e criação de animais domésticos. Pedro, aos dezoito anos, deixou a casa paterna como aprendiz de sapateiro e seleiro, casando-se a seguir com a senhorita Judite Segabinazzi, em 15 de janeiro de 1905. O casal foi morar em Dona Francisca, então 5º distrito do município de Cachoeira do Sul. Adílio nasceu ali, em 25 de outubro de 1908. Foi o terceiro filho do casal Pedro e Judite. Batizado em 1º de novembro desse ano, pelo padre Germano Schrör, tendo sido seus padrinhos, o Sr. Alexandre Socal e a Sra. Rosa Martini. Em 1912, a família de Pedro Daronch transferiu-se para o município de Passo Fundo, onde Pedro atuou como fotógrafo. Passados alguns anos, transferiu-se novamente e agora para Nonoai, continuando como fotógrafo e mantendo uma loja e uma pequena farmácia homeopática. Pedro gozava de bom conceito junto à comunidade de Nonoai, e Dona Judite era apreciada pela sua bondade. A família Daronch se destacava na prática da caridade e colaborava muito com o Padre Manuel, ajudando-o nas missas e nas cerimônias litúrgicas e religiosas. Desde cedo Adílio manifestava predileção pelas coisas da igreja e gostava de servir o padre como coroinha e ajudante em geral. Feita a primeira comunhão, começou a auxiliar no serviço do altar. Por sua vez, o Padre Manuel era, com freqüência, hóspede da família Daronch e lá muitas vezes fazias suas refeições. Adílio era um menino alegre, embora de temperamento um tanto reservado, gostava de futebol e desde pequeno se manifestava pela sua liderança nata, ponteando os jogos e orientando os colegas na condução das diversões, porém, não descurava o serviço de acólito por causa dos folguedos. Levava muito a sério sua missão. Com o passar do tempo, acompanhava o Padre Manuel pelo interior, troteando em seu burrinho, ao lado do seu protetor e mestre. O pai do jovem Adílio falecera em 05 de maio de 1923, traiçoeiramente assassinado, no município de Marcelino Ramos, em disputas entre maragatos e chimancos, que a partir de 1923 tomaram vulto e se alastraram por toda a parte, como integrante nas fileiras dos combatentes, deixando órfãos a esposa com seus sete filhos, todos menores. Como não podia deixar de ser, a viúva de Pedro e seus filhos, após o triste acontecimento, tiveram o apoio decisivo do pastor e amigo Padre Manuel, que os confortou e acompanhou nessa triste etapa de suas vidas. Após a morte do chefe da família Daronch, as dificuldades cresceram e o grupo familiar se dispersou, cada qual seguindo seu caminho, em diversas direções e Dona Judite mudou-se para o município de Dona Francisca, onde veio a falecer, em 23 de março de 1932.

Segunda Fase: O motivo da perseguição – 1915
A devoção começou no inicio do século passado, em 1915 o Pe. espanhol Manoel Gomes Gonzales era pároco de Nonoai. Aos 15 anos Adílio Daronch era o coroinha. Na época a disputa política motivava crimes  violentos. “Quando um grupo pegava um adversário, se conseguisse pegá-lo vivo, era degola certa, espada no pescoço”. diz (- Olmiro Sperry, pesquisador). Padre Manoel fez o enterro de um grupo que havia sido assassinado, os responsáveis pelo crime ficaram descontentes, e passaram a perseguir o religioso.

Terceira Fase: O martírio dos servos de Deus – 1924
Na Páscoa de 1924 mesmo estando jurado de morte, Pe. Manoel deixou a igreja para uma viagem de evangelização, o jovem adílio estava com ele, logo depois de rezar uma missa, bandidos atacaram os viajantes. Segundo relatos da época

Os dois viajantes, mensageiros da Boa Nova do Evangelho, já estavam nas mãos dos malfeitores, que os buscavam com sofreguidão, e não foi difícil perceber que seus destinos estavam traçados. Foi em “Chão Sagrado”, local onde aconteceu o martírio, nas proximidades de um matagal, em lugar ermo em que se encontravam. Os facínoras os apearam de suas montarias, os conduziram para o interior do mato, onde foram atados a árvores e a seguir mortos sumariamente, com diversos tiros de armas de fogo. Perpetrada a dupla criminosa chacina, os assassinos impiedosos roubaram das vítimas o que puderam, inclusive suas montarias e voltaram para o Alto Uruguai. A comunidade de Três Passos aguardou ansiosa pela chegada do padre Manuel e do seu auxiliar Adílio, durante horas, mas em vão, imaginando que o sacerdote tivera contratempos ou que tivesse ido atender a algum chamado urgente de outra localidade intermediária. No dia seguinte ao atentado macabro, começaram as buscas. Informados pelo dono do bolicho onde haviam pernoitado, sobre o possível local em que poderiam ser encontrados os dois viajantes, foram conduzidos ao capão de mato, onde se depararam com a tétrica cena do massacre. Releva salientar, que apesar de terem percorrido tantas horas após a morte dos mártires, os corpos ao serem encontrados, estavam preservados e não haviam sido sequer tocados pelos animais da floresta, então densa e repleta de feras e não apresentavam nenhum outro sinal de violência, além da perpetrada pelos vis assassinos. Levados os corpos dos mártires com sentida aflição e desconsolo dos amigos e fiéis, foram sepultados com grande acompanhamento em Três Passos.

Quarta Fase: Romaria no Santuário – 1993
No local do martírio, foi construída uma capela, para onde começaram a acorrer em seguida e de forma crescente, devotos, peregrinos e romeiros, com a finalidade de pedir favores e agradecer pelas graças alcançadas. O local do sepultamento tornou-se então um centro devocional, atraindo pessoas de muitas localidades e dando origem à romaria, que ora se realiza todos os anos, no terceiro domingo de maio, em Nonoai, para onde foram transladados os restos mortais dos dois mártires, sepultados ao lado do Santuário de Nossa Senhora da Luz, num complexo de visitação de fiéis, que ali ocorrem, deixando seus ex-votos em sala contígua, em razão das graças alcançadas. Em Três Passos, Terra Sagrada onde aconteceu o martírio, desde 1993, é realizado no último domingo de maio a Romaria onde os fiéis saem em caminhada, da frente da igreja matriz Santa Inês, percorrendo 5km até a localidade do Feijão Miúdo, local onde aconteceu o martírio, hoje denominado Parque do Santuário dos Beatos Mártires do Rio Grande do Sul.

Quinta Fase: Beatificação – 2007
Crescendo a devoção aos mártires da fé, que foram sacrificados no cumprimento do ministério da evangelização e constatadas tantas graças alcançadas por seu intermédio, foi encaminhado a Roma o processo de beatificação dos mártires riograndenses, em setembro de 1988, por iniciativa do então bispo da diocese de Frederico Westphalen, Dom Bruno Maldaner. No dia 13 de fevereiro de 2001, a Causa da Beatificação foi aprovada por unanimidade, pela Comissão de Consultores Históricos, presidida pelo relator Geral, Frei Ambrogio Eszer. Em 21 de outubro de 2007, na cidade de Frederico Westphalen, sede da diocese, foi realizada missa de beatificação. Além de ser a primeira beatificação realizada no Rio Grande do Sul, Adílio Daronch é o primeiro gaúcho e o primeiro Coroinha do mundo a receber a consagração de Beato.





















Rádio Alto Uruguai

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