Cerca de 73% dos jovens entre 18 e 24 votaram pela permanência
do Reino Unido na UE
Cerca de 73% dos jovens entre 18 e 24 votaram
pela permanência do Reino Unido na EU
Foto: Justin Tallis / AFP / CP
A saída
da União Europeia enfureceu os jovens britânicos, que afirmam que as portas do
continente se fecharam devido ao que consideram um capricho de alguns velhos
nostálgicos. No referendo de quinta-feira, 48,1% dos britânicos votaram pela
permanência da União Europeia. Entre os eleitores de 18 a 24 anos, porém, essa
taxa foi de 73%, enquanto que entre os maiores de 65 anos, 40% votaram para que
o Reino Unido continuasse no bloco, segundo o pesquisador de opinião pública
Michael Ashcroft.
No
entanto, segundo a rede de televisão britânica BBC, há indícios de que os
jovens foram votar em menor proporção que as pessoas mais velhas, já que houve
menos participação nas zonas do país com mais jovens. "A geração mais
jovem perdeu o direito de viver e trabalhar em outros 27 países. Nunca
conheceremos a dimensão total das oportunidades perdidas, as amizades, os
casamentos e as experiências negadas", afirmou o jovem britânico Nicholas
ao jornal Financial Times, em um comentário amplamente difundido nas redes
sociais. "Nossos pais, tios e avós nos tiraram a liberdade de
movimento", acrescentou Nicholas, "com um golpe a uma geração que já
estava afogada nas dívidas dos seus antecessores". '
Reino Unido cavou a
própria cova
O mal-estar dos jovens, que não conheceram o Reino Unido fora da
União Europeia, já vinha crescendo há algum tempo. Os pensionistas ficaram à
margem dos cortes realizados pelo governo conservador, enquanto os mais jovens
viram a educação universitária passar a ser paga, os centros de lazer fechados
e as ajudas sociais para obter a independência eliminadas - medida que entrará
em vigor em 2017.
Boris
Johnson, líder da campanha pelo Brexit, tentou tranquilizar as novas gerações
no seu primeiro pronunciamento após a vitória, afirmando que a saída da União
Europeia "não significa destruir pontes nem é isolacionismo". Mas
para Nina Biddle, estudante de 21 anos da Universidade de Sheffield que acaba
de passar um ano no exterior graças a um programa que não existiria sem a União
Europeia, "o Reino Unido cavou sua própria cova, culturalmente
falando".
O ano na
ilha francesa da Reunión "me permitiu aprender outra língua, ampliou meus
horizontes e enriqueceu minha vida, de um modo que o Reino Unido não poderia me
oferecer", disse Biddle. "Somos nós que estaremos vivendo mais anos
com uma Europa menos unida", lamentou.
Nos anos
70, "havia de tudo". A pequena empresária Debra McDermott disse que
os mais velhos votaram pela saída do bloco porque "nos anos 1970, quando
éramos crianças, estava tudo muito bem". "Havia escolas, hospitais,
havia de tudo. Todo mundo pagava seus impostos e tudo funcionava melhor. Desde
então, o país desceu ladeira abaixo", afirmou McDermott, que não quis
revelar sua idade.
Duas
histórias muito comentadas durante a campanha mostram o contraste na maneira
como os idosos decidiram seu voto. Antes de morrer, Leonard Moore, um veterano
da Segunda Guerra Mundial, pediu a sua família que enviasse por correio seu
voto a favor da saída. Seu sobrinho disse ao jornal Daily Mail que Moore
"lutou pela sua pátria até o fim".
Em outro extremo, Peter Dowey, de 73 anos, ofereceu o voto ao seu
neto de 17, Freddie Wells, que escolheu a permanência na União Europeia.
"Já vivi 70% da minha vida, e ele 20% da dele, se consideramos que viverá
100 anos. E na verdade, essa decisão vai afetá-lo muito mais que a mim. Tem o
futuro pela frente e, portanto, aconteça o que acontecer, será a sua geração que
terá que viver com os estragos, ou, espero, com a prosperidade" do país,
contou Dowey.
AFP
Correio do
Povo
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