Jorge Blanco
que trabalha como capoteiro, recebeu intimação e foi depor sem desconfiar do
erro
"Eu sou capoteiro", disse Jorge
Blanco, ao ser indagado sobre sua profissão | Foto: Reprodução / Youtube /
Estadão / CP
Um homônimo roubou a cena da maior investigação contra a corrupção no
Brasil na semana passada, frente à Justiça Federal do Paraná. Na última
sexta-feira por volta das 10h, enquanto o País se virava para acompanhar a
condução coercitiva - quando o investigado é levado para depor e liberado – do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o capoteiro de veículos Jorge
Washington Blanco, de Belo Horizonte, prestava depoimento, por videoconferência,
ao juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações da Operação Lava Jato.
Blanco havia sido arrolado como uma das testemunhas de acusação, no
processo em que é réu o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula. A outra
era o administrador Sandro Tordi, ex-presidente do Banco Schahin.
De camiseta azul, Jorge Blanco respondeu a todas as perguntas. A
primeira foi do Ministério Público Federal. O procurador Diogo Castor de Mattos
perguntou: "O senhor pode esclarecer sua atividade profissional durante o
ano de 2009?", questionou Mattos. "Eu sou capoteiro", respondeu
Jorge Blanco.
"Capoteiro? O senhor trabalhou durante algum período no Banco
Schahin?", questionou. "Não", disse o capoteiro. "O senhor
esteve alguma vez com Jorge Luiz Zelada?", insistiu o procurador.
"Não conheço", afirmou Blanco. "Sem mais perguntas,
Excelência", assinalou, por fim, Castor.
O juiz federal Sérgio Moro prosseguiu a audiência, perguntando se o
assistente de acusação ou os defensores que estavam tinham perguntas. "Se
trata de outra pessoa, seria um uruguaio, um argentino", disse um dos
defensores, que não aparece no vídeo.
"Não tenho ideia, a testemunha é da acusação", afirmou Moro.
"Talvez o senhor tenha sido chamado por engano, por alguma questão de
homônimo. Eu declaro encerrado seu depoimento, também não tenho indagações."
'Nada errado'
"Uai, eu fiquei meio assim, falei: será que usaram meu nome nesse
trem? Eu nunca me envolvi com nada errado. De uma hora pra outra aparece
negócio de Lava Jato, coisa que eu vejo falar na televisão", disse Blanco
em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
Diariamente, entre 11h30min até 18h30min, o capoteiro trabalha em uma
loja em Belo Horizonte com capota e estofamento de veículos. Casado, pai de
dois filhos, Jorge Blanco disse que um deles pensou que a intimação para
comparecer à Justiça Federal, em Minas, se tratasse de uma brincadeira.
"Um deles falou: isso é negócio que põe na internet, o pessoal fica
brincando. Eu falei: comigo não foi brincadeira, não. O rapaz trouxe a
intimação, olha aqui." Na entrevista dada ao jornal, ele contou detalhes
do depoimento.
"Me perguntaram de uns negócios que eu nunca tinha ouvido falar, de
banco, um cara que eu nunca ouvi falar nele (...) Ficaram foi rindo porque
viram que a minha profissão era totalmente diferente da que eles estavam
querendo", afirmou, com bom humor.
Blanco disse que achou estranho receber uma intimação de um oficial de
Justiça, mas que compareceu ao chamamento por nada dever. Ao ser perguntado
pela reportagem sobre o diálogo que teve com o juiz Sérgio Moro, respondeu:
"Eu falei que eu era capoteiro, ele ficou rindo".
ESTADÃO conteúdo
Correio do Povo
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