quinta-feira, 24 de março de 2016

Agressores de estudante indígena da UFRGS já estão identificados, diz advogado


Vídeo mostra pelo menos quatro jovens envolvidos na agressão a Nerlei, que foi atingido com socos e pontapés, mesmo quando já estava caído ao chão. (Foto: Divulgação)
Vídeo mostra pelo menos quatro jovens envolvidos na agressão a Nerlei, que foi atingido com socos e pontapés, mesmo quando já estava caído ao chão | Foto: Divulgação


Marco Weissheimer

A Superintendência da Polícia Federal no Rio Grande do Sul abriu, na manhã desta quinta-feira (24), um inquérito para apurar a tentativa de homicídio e injúria racial contra Nerlei Fidelis, de 33 anos, estudante cotista indígena de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Fidelis, da etnia caingangue, foi agredido com socos e pontapés por um grupo de rapazes, na madrugada do último sábado, próximo à Casa de Estudantes da UFRGS, localizada no centro da Capital. Uma câmera de vídeo instalada em um prédio próximo flagrou toda a agressão. O inquérito da Polícia Federal está sob a responsabilidade da Delegacia de Defesa Institucional, que já requisitou as imagens da câmera de vídeo para tentar identificar os agressores.

O vídeo [ver abaixo] mostra pelo menos quatro jovens envolvidos na agressão a Nerlei, que foi atingido com socos e pontapés, mesmo quando já estava caído ao chão. Segundo relato de Onir Araújo, advogado da vítima, Nerlei estava acompanhado de um sobrinho e tinha ido até à Casa de Estudante para encontrar outro parente que mora no local. Na entrada da moradia estudantil, ele teria sido insultado pelos rapazes que teriam perguntado o que “esses indígenas” estavam fazendo ali. Para Araújo, trata-se de um caso de preconceito racial. Segundo ele, há uma crescente onda de violência racista contra cotistas negros, indígenas e africanos no ambiente da UFRGS.


“Infelizmente, já faz parte do cotidiano: são piadas de colegas, isolamento dos indígenas e negros cotistas e até ofensas de professores. É um cotidiano muito complicado para eles. Venho acompanhando essa situação há dez anos e posso dizer que nunca foi muito palatável para a estrutura racista da sociedade a nossa presença neste espaço da universidade. Nós estamos alertando a UFRGS faz tempo, para que tome alguma medida, mas nada foi feito. Agora, esse quadro de preconceito se expressou nesta agressão absurda”, diz o advogado.

Onir Araújo diz que os autores da agressão já estão todos identificados e que ele solicitará à Polícia Federal que oficie a UFRGS para que tome providências. Segundo o advogado, eles seriam alunos da própria UFRGS e da PUC-RS. Até a tarde desta quinta-feira, nem a universidade, nem a Polícia Federal, confirmaram a identidade dos envolvidos. Ainda segundo Araújo, o vídeo indica que alguns dos agressores tinham conhecimento de artes marciais. “O Nerlei levou uma gravata e quase apagou. Ele caiu no chão já desacordado, onde levou vários socos e pontapés. Ficou quase dez minutos desacordado no chão. A segurança da Casa de Estudante não fez nada e só foi informar o caso à Reitoria na segunda-feira. Ele ficou muito abalado com o que aconteceu e nem foi às aulas esta semana.

Na quarta-feira, a UFRGS divulgou nota oficial sobre o caso, afirmando que “todos os procedimentos para a apuração dos fatos estão sendo tomados, bem como as providências necessárias pelas instâncias pertinentes”. A universidade também manifestou “repúdio a práticas violentas envolvendo a comunidade acadêmica, em seu ambiente ou fora dele”. O Conselho Indigenista Missionário também está acompanhando o caso.


Fonte: Sul21

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