Vídeo mostra pelo menos quatro jovens
envolvidos na agressão a Nerlei, que foi atingido com socos e pontapés, mesmo
quando já estava caído ao chão | Foto: Divulgação
Marco
Weissheimer
A Superintendência da Polícia Federal no Rio Grande do Sul
abriu, na manhã desta quinta-feira (24), um inquérito para apurar a tentativa
de homicídio e injúria racial contra Nerlei Fidelis, de 33 anos, estudante
cotista indígena de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS). Fidelis, da etnia caingangue, foi agredido com socos e pontapés
por um grupo de rapazes, na madrugada do último sábado, próximo à Casa de
Estudantes da UFRGS, localizada no centro da Capital. Uma câmera de vídeo
instalada em um prédio próximo flagrou toda a agressão. O inquérito da Polícia
Federal está sob a responsabilidade da Delegacia de Defesa Institucional, que
já requisitou as imagens da câmera de vídeo para tentar identificar os
agressores.
O vídeo
[ver abaixo] mostra pelo menos quatro jovens envolvidos na agressão a Nerlei,
que foi atingido com socos e pontapés, mesmo quando já estava caído ao chão.
Segundo relato de Onir Araújo, advogado da vítima, Nerlei estava acompanhado de
um sobrinho e tinha ido até à Casa de Estudante para encontrar outro parente
que mora no local. Na entrada da moradia estudantil, ele teria sido insultado
pelos rapazes que teriam perguntado o que “esses indígenas” estavam fazendo
ali. Para Araújo, trata-se de um caso de preconceito racial. Segundo ele, há
uma crescente onda de violência racista contra cotistas negros, indígenas e
africanos no ambiente da UFRGS.
“Infelizmente,
já faz parte do cotidiano: são piadas de colegas, isolamento dos indígenas e
negros cotistas e até ofensas de professores. É um cotidiano muito complicado
para eles. Venho acompanhando essa situação há dez anos e posso dizer que nunca
foi muito palatável para a estrutura racista da sociedade a nossa presença
neste espaço da universidade. Nós estamos alertando a UFRGS faz tempo, para que
tome alguma medida, mas nada foi feito. Agora, esse quadro de preconceito se
expressou nesta agressão absurda”, diz o advogado.
Onir
Araújo diz que os autores da agressão já estão todos identificados e que ele
solicitará à Polícia Federal que oficie a UFRGS para que tome providências.
Segundo o advogado, eles seriam alunos da própria UFRGS e da PUC-RS. Até a
tarde desta quinta-feira, nem a universidade, nem a Polícia Federal,
confirmaram a identidade dos envolvidos. Ainda segundo Araújo, o vídeo indica
que alguns dos agressores tinham conhecimento de artes marciais. “O Nerlei
levou uma gravata e quase apagou. Ele caiu no chão já desacordado, onde levou
vários socos e pontapés. Ficou quase dez minutos desacordado no chão. A segurança
da Casa de Estudante não fez nada e só foi informar o caso à Reitoria na
segunda-feira. Ele ficou muito abalado com o que aconteceu e nem foi às aulas
esta semana.
Na
quarta-feira, a UFRGS divulgou nota oficial sobre o caso, afirmando que “todos
os procedimentos para a apuração dos fatos estão sendo tomados, bem como as
providências necessárias pelas instâncias pertinentes”. A universidade também
manifestou “repúdio a práticas violentas envolvendo a comunidade acadêmica, em
seu ambiente ou fora dele”. O Conselho Indigenista Missionário também está
acompanhando o caso.
Fonte: Sul21
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