Foto: Fayez Nureldine / AFP / CP
Primeiro exportador mundial de petróleo, a Arábia
Saudita tenta restabelecer o nível normal de produção de cru, duramente afetada
por um ataque com drones no sábado. Apoiados pelo Irã e há cinco anos em
confronto com a coalizão militar liderada por Riad, os rebeldes huthis xiitas
do Iêmen assumiram a autoria dos ataques contra instalações da gigante estatal
Aramco. Ontem, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, acusou o Irã de
envolvimento com o episódio.
Segundo ele, não há qualquer prova de que "o
ataque sem precedentes contra o fornecedor mundial de energia" tenha
origem no Iêmen. "Os Estados Unidos trabalharão com seus sócios e aliados
para garantir o abastecimento dos mercados energéticos e para que o Irã preste
contas de sua agressão", acrescentou. Neste domingo (15), os governos do
Irã e do Iraque rejeitaram as acusações de que estariam envolvidos com o ataque.
"Acusações e comentários tão estéreis e
cegos são incompreensíveis e insensatos", declarou o porta-voz do
Ministério iraniano das Relações Exteriores, Abbas Musavi. Em nota transmitida
à imprensa, ele disse que estes comentários têm o objetivo "de prejudicar
a reputação de um país para criar um marco para futuras ações contra o
Irã". Musavi ironizou a política de "pressão máxima" dos Estados
Unidos em relação ao Irã que, completou ele, "aparentemente se transformou
em mentira máxima, devido a seu fracasso".
Já Amirali Hajizadeh, comandante do braço
aeroespacial dos Guardiães da Revolução, a força de elite da República
Islâmica, advertiu contra o risco de um conflito armado. As tensões atuais,
"com forças que estão frente a frente no terreno", podem deflagrar um
conflito armado, disse Hajizadeh, segundo a agência Tasnim, ligada aos
ultraconservadores iranianos. "O Irã está preparado para uma guerra
total", mas "nem nós nem os americanos querem a guerra",
declarou Hajizadeh.
O príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman,
cujo país é o grande rival regional do Irã, garantiu que Riad "quer e
pode" responder a esta "agressão terrorista". Para o
especialista em Oriente Médio da S. Rajaratnam School, James Dorsey,
represálias diretas são "muito pouco prováveis". "Os sauditas
não querem um conflito aberto com o Irã (...) Querem que outros lutem em seu
lugar, mas os outros são reticentes", afirmou.
O Iraque também negou hoje qualquer tipo de
relação com o ataque, depois que alguns jornais noticiaram que os projéteis
poderiam ter sido lançados do país. No Iraque, atuam várias milícias e facções
paramilitares próximas ao Irã.
Nervosismo nos mercados
A Bolsa da Arábia Saudita abriu o pregão da
semana com queda de 3%, reagindo negativamente à queda na produção de cru
resultante do ataque. Nos primeiros minutos da sessão, o setor de energia
recuou 4,7%, e os setores bancários e de telecomunicações perdiam 3% cada. A
ofensiva de ontem provocou incêndios na planta de Abqaiq, a maior no mundo
dedicada ao tratamento do petróleo, e em Jurais. O porta-voz do Ministério
saudita do Interior, general Mansur al-Turki, disse à AFP que os ataques não
deixaram vítimas. Os rebeldes huthis já lançaram vários ataques à
infraestrutura energética saudita.
Desta vez, porém, as consequências foram de outra
envergadura. Causaram uma redução brutal da produção de 5,7 milhões de barris
por dia (mbd), ou seja, o equivalente a 6% do abastecimento mundial. Esta
diminuição da produção pode abalar a confiança dos investidores na Aramco,
gigante do petróleo que prepara sua entrada na Bolsa. Com os mercados atentos à
capacidade da Arábia Saudita para conter os efeitos do ataque, o presidente da
Aramco, Amin Naser, declarou que estão sendo realizadas "obras" para
restabelecer toda a produção.
Recentemente nomeado ministro da Energia, o
príncipe Abdulaziz bin Salman garantiu que a redução será compensada com as
reservas. Riad construiu cinco gigantescas instalações de reservas subterrâneas
em todo país para poder armazenar milhões de barris dos diferentes produtos
petroleiros refinados. Em conversa por telefone entre o presidente americano,
Donald Trump, e o príncipe herdeiro, a Casa Branca condenou os ataques contra
"infraestruturas vitais para a economia mundial".
O enviado da ONU para o Iêmen, Martin Griffiths,
declarou-se "extremamente preocupado com os ataques", que logo foram
condenados pelos Emirados Árabes Unidos, Barein, Kuwait, aliados de Riad, assim
como pela Organização de Cooperação Islâmica (OCI). "Os ministros (das
Relações Exteriores) expressaram sua condenação a este tipo de ataque
terrorista e saudaram os comunicados oficiais dos países-membros e das
organizações regionais e internacionais, que rejeitaram estas agressões,
destinadas a desestabilizar a Arábia Saudita", declarou neste domingo o
secretário-geral da OCI, o saudita Yussef al-Othaimeen, segundo a agência
oficial de notícias saudita SPA.
Por AFP
Correio do Povo
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