Emedebista afirmou que preferiu se abster do
processo
O ex-presidente Michel Temer defendeu nesta
quinta-feira que sua utilização da palavra “golpe” para se referir ao
impeachment de Dilma Rousseff (PT) durante uma entrevista ao programa Roda Viva
foi mal interpretada e usada "fora do contexto". De acordo com o
ex-chefe do Executivo Nacional, o impedimento estava previsto em lei e, por
isso, não foi golpe.
“Eu disse que nunca participei de golpe nenhum, a
expressão foi essa. E, mais adiante, se você examinar a minha fala, verá que o
( jornalista Ricardo) Noblat até me disse: 'Então o senhor não é golpista, não
se considera?'. Eu disse: 'basta ler a Constituição. Está dito que quando o
presidente se afasta, o vice assume. Não tem golpe nenhum'. Mas é interessante.
Há momentos em que digo duas vezes golpe e pegaram isso para dizer que houve
golpe. É um equívoco. Lamentavelmente, pegaram a frase fora do contexto”,
afirmou ao programa "Esfera Pública", da Rádio Guaíba. A entrevista
de Temer ao Roda Viva foi transmitida na última segunda.
“Quando deixei o governo, tinha toda aquela
história de golpe, golpista, e as perguntas lá (no Roda Viva) direcionaram para
isso. Eu disse que jamais sou golpista, e também jamais trabalhei para derrubar
a presidente. Então, quando eu digo que jamais participei, me refiro a questão
do impedimento, do impeachment”, disse, ressaltando que, “tão logo começou o
processo”, viajou para para São Paulo e só voltou três dias antes da votação na
Câmara dos Deputados.
O emedebista também destacou que é alvo de
críticas tanto de apoiadores da saída de petistas quanto da esquerda. Os
primeiros argumentam que ele não se empenhou para tirar a mandatária, enquanto
os segundos o chamam de golpista. Temer afirmou que não dá atenção aos
comentários porque entende que as falas são, muitas vezes, “entusiasmadas e sem
embasamento”.
“Uma verdade é que não trabalhei diretamente pelo
impedimento. Você sabe que o primeiro a ser acusado é sempre o vice-presidente.
Então, tomei muita cautela. Naquele tempo tinha movimento de rua. Eu percebia
pelos deputados que um impeachment seria inevitável, mas me abstive. Dizer que
era ligadíssimo ao PT é um equívoco brutal. Nos primeiros seis meses, não havia
um lugar que eu fosse que não tinha um grupo petista gritando 'Fora
Temer'", afirmou.
Segundo Temer, o Tribunal de Contas da União, na
época, emitiu uma recomendação unânime informando das inadequações das pedaladas
fiscais. “Não entro no mérito da matemática, mas houve movimentações
reveladoras. Quando assumi o governo, tomei cuidado com isso para que o caso
não se repetisse”, disse, ressaltando ainda que não vê uma motivação política
por trás da destituição de Dilma por parte do ex-presidente da Câmara dos
Deputados, Eduardo Cunha. “O que eu sei é que tinha mais de 20 pedidos de
impedimento, alguns com dados muito graves. Não posso falar por ele, mas não
acho que ele foi pressionado por vários setores e foi obrigado a processar o
pedido. Não foi um julgamento político, era uma questão técnica”, defendeu.
Vazamentos
de conversas da Lava-Jato
Questionado sobre o vazamento de diálogos entre
membros da Força Tarefa da Operação Lava-Jato e o ex-juiz Sérgio Moro, Temer disse
que não queria personificar uma situação, mas falar no modo condicional. “Sou
da área jurídica e o que se procede é o seguinte: um juiz tem que ser sempre
imparcial. Quando se observa um diálogo assim – nem sei se o mérito está
correto ou não, se a gravação é correta –, se verifica que um juiz toma
partido, ele já não é imparcial. É preciso tomar cuidado com isso, mais do que
nunca cumprir a normatividade nacional, a Constituição, é isso que dá segurança
jurídica às pessoas”, afirmou.
De acordo o ex-presidente, não sabe se há matéria
para anular julgamentos, mas reconhece que “é problemático” o que está sendo
divulgado. “Vai ser uma questão a ser decidida pelo Judiciário, que certamente
vai levar em conta todas essas gravações. Não gostaria de dar um palpite a
respeito, porque embora seja da área jurídica, só falo quando conheço o
processo. O que tenho são apenas informações da imprensa”. Justamente por isso,
disse que não comentaria se Lula estava preso injustamente ou não.
Apoio a
Bolsonaro
Temer declarou apoio ao governo de Jair Bolsonaro
“porque torce pelo Brasil” e afirmou que a atual gestão “é muito positiva
porque tem dado sequência a tudo que nós fizemos no nosso governo”. “Você vê as
medidas econômicas, a própria Previdência pela qual trabalhei e enfrentei as
questões mais polêmicas. Então, acho que vai indo bem”, comentou.
Para o emedebista, muitas críticas são infundadas
e ainda é “muito cedo para uma avaliação”. “Temos que entender que o governo
Bolsonaro tem sete, oito meses. Se você for comparar a um jogo de futebol,
significa 25% de um tempo. Ainda tem muitas coisas para acontecer”, disse.
Apesar disso, se mostrou contrário à política de
contingenciamentos na área de educação. “No meu período, não cortei recursos. A
educação é fundamental. Quando mais recursos você aplicar, melhor. Não só no
nível superior como em todas as esferas".
No começo de setembro, a Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) anunciou que não concederá
novas bolsas de pós-graduação neste ano e informou o congelamento de 5.613
incentivos na modalidade que entrariam em vigor a partir deste mês.
Por Correio do Povo
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