quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Temer defende que fala sobre "golpe" foi usada "fora do contexto"

Ex-presidente disse que jamais trabalhou para derrubar Dilma Rousseff

Emedebista afirmou que preferiu se abster do processo
Emedebista afirmou que preferiu se abster do processo 

O ex-presidente Michel Temer defendeu nesta quinta-feira que sua utilização da palavra “golpe” para se referir ao impeachment de Dilma Rousseff (PT) durante uma entrevista ao programa Roda Viva foi mal interpretada e usada "fora do contexto". De acordo com o ex-chefe do Executivo Nacional, o impedimento estava previsto em lei e, por isso, não foi golpe.

“Eu disse que nunca participei de golpe nenhum, a expressão foi essa. E, mais adiante, se você examinar a minha fala, verá que o ( jornalista Ricardo) Noblat até me disse: 'Então o senhor não é golpista, não se considera?'. Eu disse: 'basta ler a Constituição. Está dito que quando o presidente se afasta, o vice assume. Não tem golpe nenhum'. Mas é interessante. Há momentos em que digo duas vezes golpe e pegaram isso para dizer que houve golpe. É um equívoco. Lamentavelmente, pegaram a frase fora do contexto”, afirmou ao programa "Esfera Pública", da Rádio Guaíba. A entrevista de Temer ao Roda Viva foi transmitida na última segunda. 

“Quando deixei o governo, tinha toda aquela história de golpe, golpista, e as perguntas lá (no Roda Viva) direcionaram para isso. Eu disse que jamais sou golpista, e também jamais trabalhei para derrubar a presidente. Então, quando eu digo que jamais participei, me refiro a questão do impedimento, do impeachment”, disse, ressaltando que, “tão logo começou o processo”, viajou para para São Paulo e só voltou três dias antes da votação na Câmara dos Deputados.

O emedebista também destacou que é alvo de críticas tanto de apoiadores da saída de petistas quanto da esquerda. Os primeiros argumentam que ele não se empenhou para tirar a mandatária, enquanto os segundos o chamam de golpista. Temer afirmou que não dá atenção aos comentários porque entende que as falas são, muitas vezes, “entusiasmadas e sem embasamento”.

“Uma verdade é que não trabalhei diretamente pelo impedimento. Você sabe que o primeiro a ser acusado é sempre o vice-presidente. Então, tomei muita cautela. Naquele tempo tinha movimento de rua. Eu percebia pelos deputados que um impeachment seria inevitável, mas me abstive. Dizer que era ligadíssimo ao PT é um equívoco brutal. Nos primeiros seis meses, não havia um lugar que eu fosse que não tinha um grupo petista gritando 'Fora Temer'", afirmou.

Segundo Temer, o Tribunal de Contas da União, na época, emitiu uma recomendação unânime informando das inadequações das pedaladas fiscais. “Não entro no mérito da matemática, mas houve movimentações reveladoras. Quando assumi o governo, tomei cuidado com isso para que o caso não se repetisse”, disse, ressaltando ainda que não vê uma motivação política por trás da destituição de Dilma por parte do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. “O que eu sei é que tinha mais de 20 pedidos de impedimento, alguns com dados muito graves. Não posso falar por ele, mas não acho que ele foi pressionado por vários setores e foi obrigado a processar o pedido. Não foi um julgamento político, era uma questão técnica”, defendeu.

Vazamentos de conversas da Lava-Jato


Questionado sobre o vazamento de diálogos entre membros da Força Tarefa da Operação Lava-Jato e o ex-juiz Sérgio Moro, Temer disse que não queria personificar uma situação, mas falar no modo condicional. “Sou da área jurídica e o que se procede é o seguinte: um juiz tem que ser sempre imparcial. Quando se observa um diálogo assim – nem sei se o mérito está correto ou não, se a gravação é correta –, se verifica que um juiz toma partido, ele já não é imparcial. É preciso tomar cuidado com isso, mais do que nunca cumprir a normatividade nacional, a Constituição, é isso que dá segurança jurídica às pessoas”, afirmou.

De acordo o ex-presidente, não sabe se há matéria para anular julgamentos, mas reconhece que “é problemático” o que está sendo divulgado. “Vai ser uma questão a ser decidida pelo Judiciário, que certamente vai levar em conta todas essas gravações. Não gostaria de dar um palpite a respeito, porque embora seja da área jurídica, só falo quando conheço o processo. O que tenho são apenas informações da imprensa”. Justamente por isso, disse que não comentaria se Lula estava preso injustamente ou não.

Apoio a Bolsonaro


Temer declarou apoio ao governo de Jair Bolsonaro “porque torce pelo Brasil” e afirmou que  a atual gestão “é muito positiva porque tem dado sequência a tudo que nós fizemos no nosso governo”. “Você vê as medidas econômicas, a própria Previdência pela qual trabalhei e enfrentei as questões mais polêmicas. Então, acho que vai indo bem”, comentou.

Para o emedebista, muitas críticas são infundadas e ainda é “muito cedo para uma avaliação”. “Temos que entender que o governo Bolsonaro tem sete, oito meses. Se você for comparar a um jogo de futebol, significa 25% de um tempo. Ainda tem muitas coisas para acontecer”, disse.

Apesar disso, se mostrou contrário à política de contingenciamentos na área de educação. “No meu período, não cortei recursos. A educação é fundamental. Quando mais recursos você aplicar, melhor. Não só no nível superior como em todas as esferas".

No começo de setembro, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) anunciou que não concederá novas bolsas de pós-graduação neste ano e informou o congelamento de 5.613 incentivos na modalidade que entrariam em vigor a partir deste mês.


Por Correio do Povo

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