Luis e Adriano perderam Elisson e Renato, mortos na Zona Norte - Mateus Bruxel / Agencia RBS
Um aperto no peito despertou Adriana Vargas, 40 anos, domingo, às 7h. Dois de seus filhos haviam saído na noite de sábado para brincar na casa dos primos e não haviam retornado. Mesmo assim, foi trabalhar: é balconista numa padaria.
Ao telefonar para um deles, o marido dela, Luis Renato Soares Freitas, 31 anos, ouviu:
- Já era, meu! Agora, tu só vai saber o que aconteceu com teus filhos pelo jornal - informou um homem.
A ligação caiu. Luis ligou para Adriana. Moradores da Vila Jardim, concluíram que era uma brincadeira de mau gosto. Engano. Os irmãos Elisson Henrique Vargas, 17 anos, e Renato Júnior Vargas Freitas, 13 anos, haviam sido executados com tiros na cabeça no Bairro Passo das Pedras, Zona Norte da Capital, na madrugada de domingo. O motivo: uma vingança equivocada em função de um celular.
A família suspeita de que o furto de um aparelho teria motivado a vingança. Renatinho, como era conhecido o de 13 anos, teria sido testemunha do furto, dias antes. Esse aparelho foi vendido a Elisson por R$ 50.
Dor de Adriana: "Que maldade"
Uma emboscada teria sido organizada para pegar os irmãos.
- Fizeram isso por causa de um celular? Se tivessem vindo aqui falar comigo, eu dava o meu. Que maldade! - desabafou a mãe das vítimas.
A 2ª DHD avalia a hipótese da vingança em função do celular. Ainda não há suspeito.
"No caminho, eu já sabia", diz mãe
A informação dada por aquele homem no celular pareceu tão fora de cogitação que a família teve um domingo de Páscoa angustiante. Afinal, faltavam Elisson e Renatinho. De folga, Luis Renato, que é padeiro no mesmo local da mulher, arrumou os filhos pequenos para almoçar na casa do pai dele.
Luis interrompeu o almoço três vezes para ver se os guris tinham aparecido.
Às 17h, Adriana chegou do trabalho e a família foi direto na 14ª DP. Ouviram que um menino tinha dado entrada no DML. Pediu que o casal fosse pessoalmente confirmar se era um dos meninos.
Chegando lá, encontraram os dois corpos.
- No caminho eu já sabia. Eu senti - contou Adriana, ontem, diante do muro que tem o nome de Renato pintado.
Irmãos vão trocar de escola
Nathiele, 11 anos, não conseguia segurar as lágrimas. Não foi levada ao cemitério para se despedir dos irmãos:
- Não deu tempo de eu falar que eu amava eles, mas acho que eles sabiam.
Assim como Nathiele, os irmãos Matheus, 15 anos, Gabriel, dez anos, e Yuri, oito anos, terão de trocar de escola. A família não sabe com quem está lidando e teme nova represália.
Adriana e Luis Renato não sabem ao certo se querem encontrar quem fez isso aos filhos, falam na "roda da vida":
- Hoje eu choro pelos meus filhos, amanhã é a mãe deles que pode chorar por eles - concluiu Luis.
Renatinho queria ser artista. Elisson sonhava virar boleiro
Adriana enterrou no mesmo dia dois de seus sete filhos. Meninos responsáveis, frisam os pais. Quando chegou em casa do trabalho, no sábado, às 16h30min, Luis Renato encontrou Renatinho pulando na cama dele, fazendo folia com os irmãos.
Só saiu depois de lavar a louça
O menino só teve autorização para sair com Elisson depois de lavar a louça e varrer a casa.
Elisson, por sua vez, trabalhou até as 21h. Funcionário de um supermercado havia quatro meses, recém tinha engatado o primeiro namoro. Contava os dias para a festa de 18 anos, no próximo dia 26.
Para não deixá-lo sozinho
- Ele dizia que a festa dele ia bombar - recordam os pais, emocionados.
O garoto, que chegou a treinar no Inter, sonhava em ser jogador de futebol. Os pais suspeitam que pode ter morrido por defender o irmão.
- Ele foi junto para não deixar o Renatinho ir sozinho - afirmou Adriana.
O namorador da turma
Renatinho estava na quinta série do ensino fundamental. Era o namorador da turma, segundo os pais. Ele já tinha avisado a família: seria artista. Dançava, cantava e encantava nas festas da família.
Fonte: Eduardo Torres e Letícia Barbieri / DIÁRIO GAÚCHO
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