Sérgio Moro foi alvo de críticas em conversas de
procuradores do MPF e integrantes da Lava Jato
Procuradores do Ministério Público Federal e
integrantes da Lava Jato criticaram Sergio Moro e reclamaram da postura do
atual ministro da Justiça e Segurança Pública em mensagens privadas trocadas em
grupos do aplicativo Telegram. O teor das novas mensagens foi divulgado neste
sábado pelo site The Intercept
Brasil.
Segundo a publicação, em 31 de outubro, um dia
antes de Moro anunciar oficialmente que largaria a magistratura para aceitar o
cargo político, a procuradora Jerusa Viecili, integrante da força-tarefa em
Curitiba, escreveu que a então possibilidade daria "ênfase de parcialidade
e partidarismo".
A procuradora Laura Tessler, também da
força-tarefa, concordou, dizendo que "o discurso vai pegar. Péssimo. E
Bozo (se referindo ao presidente Jair Bolsonaro) é muito mal visto. E juntar a
ele vai queimar o Moro.” Viecili completou: “E queimando o Moro queima a Lava
Jato”.
Ainda de acordo com o The Intercept, em outro
grupo, os procuradores repetiram que a decisão de Moro poderia levantar
questionamentos éticos e dar maior credibilidade à tese de que a operação teria
motivações políticas.
Em uma das conversas, no dia 1º de novembro de
2018, pouco antes da divulgação de que Moro havia aceitado o convite, a
procuradora Monique Cheker, das cidades de Osasco e Barueri, na Grande São
Paulo, lamentou que o eventual "sim" colocaria em dúvida a
legitimidade e o legado da operação Lava Jato.
Cheker ainda aproveitou para critirar Sérgio
Moro, afirmando que ele é "inquisitivo e sempre viola o sistema
acusatório" e completou dizendo que o MPF do Paraná "sempre tolerou
isso pelos ótimos resultados alcançados pela Lava Jato".
Em outro grupo, a procuradora Thaméa Danelon,
membro da operação em São Paulo, perguntou a opinião dos colegas a respeito da
decisão de Moro. O procurador José Augusto Simões Vagos, da operação no Rio de
Janeiro, classificou como "inoportuno", e o Sérgio Luiz Pinel Dias,
também da Lava Jato fluminense respondeu:
"Mas será difícil, muito difícil, hoje, e
provavelmente no futuro, com a assunção de Moro ao Ministério da Justiça,
afastar a imagem de que a Lava Jato integrou o governo de Bolsonaro".
Encontro com Bolsonaro
As mensagens vazadas pelo site The Intercept
Brasil também mostram que os procuradores não gostaram da notícia, divulgada na
imprensa, de que Moro iria se encontrar o então presidente eleito, Jair
Bolsonaro, antes de aceitar o convite.
A procuradora Isabel Cristina Groba Vieira, da
Lava Jato em Curitiba, questionou o encontro, uma semana antes do então juiz
participar do interrogatório do ex-presidente Lula. “É o fim ir se encontrar
com Bolsonaro e semana que vem ir interrogar o Lula”.
Antônio Carlos Welter, também integrante da Lava
Jato, enfatizou que a postura de Moro era “incompatível com a de juiz”.
Em seis de novembro de 2018, dias após a
confirmação de que Moro aceitou o convite de Bolsonaro, o coordenador da Lava
Jato, Deltan Dallagnol, compartilhou seus receios com a colega Janice Ascari:
"Temos uma preocupação sobre alegações de
parcialidade que virão. Não acredito que tenham fundamento, mas tenho medo do
corpo que isso possa tomar na opinião pública".
Dallagnol ressaltou que, para ele, Moro e a Lava
Jato "estão intimamente vinculados no imaginário social, então defender o
Moro é defender a Lava Jato e vice-versa".
Outro
lado
Ao The Intercept, o porta-voz da força-tarefa da
Lava Jato novamente questionou a autenticidade das mensagens e repetiu que
autoridades públicas foram alvo de um "ataque hacker criminoso".
“O trecho do material enviado à Força-Tarefa não
permite constatar o contexto e a veracidade do conteúdo. Autoridades públicas
foram alvo de ataque hacker criminoso, o que torna impossível aferir se houve
edições no material alegadamente obtido".
A procuradora Monique Cheker disse que “não tem
registro da mensagem enviada e, portanto, não reconhece a suposta manifestação”.
Segundo o The Intercept, os demais procuradores
citados foram procurados, mas não responderam.
Por R7
Correio do Povo
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