Pedro Parente pede demissão da Petrobras |
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
O executivo Pedro Parente pediu demissão do cargo
da presidência da Petrobras nesta sexta-feira. O executivo estava, por
volta das 11h30min, em reunião com o presidente da República Michel Temer, no
Palácio do Planalto. O encontro - e a demissão - ocorrem após o governo lançar
medidas com custo de R$ 13,5 bilhões para baixar o preço do diesel e ajudar a
encerrar a greve dos caminhoneiros.
Em fato relevante, a companhia informa que a
nomeação de um CEO interino será examinada pelo Conselho de Administração ao
longo desta sexta-feira, e que a composição dos demais membros da diretoria
executiva não sofrerá qualquer alteração.
Parente deixou o cargo depois de o presidente
Michel Temer ter cedido às demandas de caminhoneiros, garantindo descontos
subsidiados ao diesel por um período de 60 dias. Isso acabou com a autonomia
que a Petrobras tinha desde 2016 para estabelecer seus próprios preços - uma
ferramenta crucial para investidores.
Bolsa
O pedido de demissão de Pedro Parente da
presidência da Petrobras está estressando os mercados. O impacto maior é na
ação da companhia, que chegou a entrar em leilão na Bolsa brasileira e teve as
negociações suspensas após ordens dos operadores para limitar perdas.
Logo após a notícia, por volta das 11h30 desta
sexta-feira, o papel da companhia no exterior (ADR) perdia 15% em Nova York.
Com o fim da suspensão das negociações dos papéis da Petrobras, as ações
preferenciais (com prioridades na distribuição de dividendo) chegaram a cair
14,17% e os papéis ordinários (com direito a voto) caíam 13,65%.
Depois da greve, que durou nove dias e afetou as
entregas de combustível e alimentos no país, Temer deu sinais de que o governo
poderia voltar a estabelecer os preços. Depois, voltou atrás e insistiu em que
a autonomia da Petrobras seria mantida. A Petrobras também está sob pressão dos
trabalhadores petroleiros, que iniciaram nesta quarta-feira uma paralisação de
72 horas, exigindo a demissão de Parente. Apesar de a Justiça ter determinado
que o movimento é ilegal, os petroleiros ameaçam fazer uma greve por tempo
indeterminado em junho.
Veja a
íntegra da carta de demissão de Pedro Parente:
Excelentíssimo Senhor Presidente
da República,
Quando Vossa Excelência me
estendeu o honroso convite para ser presidente da Petrobras, conversamos
longamente sobre a minha visão de como poderia trabalhar para recuperar a
empresa, que passava por graves dificuldades, sem aportes de capital do
Tesouro, que na ocasião se mencionava ser indispensável e da ordem de dezenas
de bilhões de reais. Vossa Excelência concordou inteiramente com a minha visão
e me concedeu a autonomia necessária para levar a cabo tão difícil missão.
Durante o
período em que fui presidente da empresa, contei com o pleno apoio de seu
Conselho. A trajetória da Petrobras nesse período foi acompanhada de perto pela
imprensa, pela opinião pública, e por seus investidores e acionistas. Os
resultados obtidos revelam o acerto do conjunto das medidas que adotamos, que
vão muito além da política de preços.
Faço um julgamento sereno de meu
desempenho, e me sinto autorizado a dizer que o que prometi, foi entregue,
graças ao trabalho abnegado de um time de executivos, gerentes e o apoio de uma
grande parte da força de trabalho da empresa, sempre, repito, com o decidido
apoio de seu Conselho.
A Petrobras é hoje uma empresa
com reputação recuperada, indicadores de segurança em linha com as melhores
empresas do setor, resultados financeiros muito positivos, como demonstrado
pelo último resultado divulgado, dívida em franca trajetória de redução e um
planejamento estratégico que tem se mostrado capaz de fazer a empresa investir
de forma responsável e duradoura, gerando empregos e riqueza para o nosso país.
E isso tudo sem qualquer aporte
de capital do Tesouro Nacional, conforme nossa conversa inicial. Me parece,
assim, que as bases de uma trajetória virtuosa para a Petrobras estão lançadas.
A greve dos caminhoneiros e suas
graves consequências para a vida do País desencadearam um intenso e por vezes
emocional debate sobre as origens dessa crise e colocaram a política de preços
da Petrobras sob intenso questionamento. Poucos conseguem enxergar que ela
reflete choques que alcançaram a economia global, com seus efeitos no País.
Movimentos
na cotação do petróleo e do câmbio elevaram os preços dos derivados,
magnificaram as distorções de tributação no setor e levaram o governo a buscar
alternativas para a solução da greve, definindo-se pela concessão de subvenção
ao consumidor de diesel.
Tenho refletido muito sobre tudo
o que aconteceu. Está claro, Sr. Presidente, que novas discussões serão
necessárias. E, diante deste quadro fica claro que a minha permanência na
presidência da Petrobras deixou de ser positiva e de contribuir para a
construção das alternativas que o governo tem pela frente. Sempre procurei
demonstrar, em minha trajetória na vida pública que, acima de tudo, meu compromisso
é com o bem público. Não tenho qualquer apego a cargos ou posições e não serei
um empecilho para que essas alternativas sejam discutidas.
Sendo assim, por meio desta
carta, apresento meu pedido de demissão do cargo de Presidente da Petrobras, em
caráter irrevogável e irretratável. Coloco-me à disposição para fazer a
transição pelo período necessário para aquele que vier a me substituir.
Vossa Excelência tem sido
impecável na visão de gestão profissional da Petrobras. Permita-me, Sr.
Presidente, registrar a minha sugestão de que, para continuar com essa
histórica contribuição para a empresa — que foi nesse período gerida sem
qualquer interferência política — Vossa Excelência se apoie nas regras
corporativas, que tanto foram aperfeiçoadas nesses dois anos, e na contribuição
do Conselho de Administração para a escolha do novo presidente da Petrobras.
A poucos brasileiros foi dada a
honra de presidir a Petrobras. Tenho plena consciência disso e sou muito grato
a que, por um período de dois anos, essa honra única me tenha sido conferida
por Vossa Excelência.
Quero
finalmente registrar o meu agradecimento ao Conselho de Administração, meus
colegas da Diretoria Executiva, minha equipe de apoio direto, os demais
gestores da empresa e toda força de trabalho que fazem a Petrobras ser a grande
empresa que é, orgulho de todos os brasileiros.
Respeitosamente,
Pedro Parente
ESTADÃO
conteúdo
Correio
do Povo
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