Crise tem reflexos no Executivo
Projeto anticorrupção deflagra guerra
institucional entre Judiciário e Legilsativo
Foto: Luis Macedo / Agência
Câmara / CP
As
alterações promovidas no projeto de medidas anticorrupção pela maioria dos deputados federais,
na madrugada, e em meio à consternação do país gerada pela tragédia da queda do avião que
levava a delegação da Chapecoense, deflagrou guerra institucional pública do
Judiciário e Ministério Público (MP) contra o Legislativo, com reflexos no
Executivo, dependendo da postura adotada pelo Planalto no episódio.
Uma das
questões mais polêmicas foi a aprovação, com 313 votos, do crime de abuso de autoridade para magistrados e membros do MP. De
fato, há questões que precisam ser aperfeiçoadas, envolvendo punições por
irregularidades ou abusos cometidos por juízes e promotores, além da criticada
aposentadoria compulsória. A questão é que o movimento do Congresso, já
efetivado pela Câmara dos Deputados, justamente neste momento, em que
investigações como as da Lava Jato avançam sobre parte considerável de
parlamentares e partidos, deixa uma única interpretação possível sobre a
postura da maioria: a de retaliação corporativa e autoproteção.
Não
bastasse a investida, o texto aprovado pelos deputados federais na madrugada
estabelece tipificações penais totalmente subjetivas. Se de fato a intenção dos
parlamentares favoráveis à iniciativa (diga-se, de praticamente todos os
partidos, de petistas a tucanos) visasse ao aperfeiçoamento da legislação, com
motivação republicana, bastaria alterar a Constituição estabelecendo, entre
outros pontos, a possibilidade de perda de cargo por via administrativa. A
reação à iniciativa da Câmara foi generalizada e contundente. Em nota, a
presidente do Supremo e do Conselho Nacional de Justiça, ministra Cármen Lúcia, afirmou que a independência do
Judiciário está ameaçada e
destacou: “Já se cassaram magistrados em tempos mais tristes. Pode-se tentar
calar o juiz, mas nunca se conseguiu, nem se conseguirá, calar a Justiça”.
Na mesma
linha, ocorreram manifestações do procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
de associações de juízes e do MP em todo o país. Reação incisiva também foi
protagonizada pelos integrantes da força-tarefa da Lava Jato, que ameaçaram com
renúncia coletiva caso a proposta avance no Senado e seja sancionada pelo
presidente Michel Temer.
Vingança
Relator
do pacote de medidas anticorrupção, o gaúcho Onyx Lorenzoni, vaiado pelos
próprios colegas em pelo menos duas oportunidades nos últimos dias, lamentou a decisão da Câmara.
“Foi um negócio terrível. Tudo que alertamos, as questões técnicas e outras
coisas não valeram. Era uma vingança. Parecia aqueles filmes da máfia italiana.
A Câmara perdeu a última oportunidade de se reencontrar com as ruas. Acho que
se divorciou da população e abriu um fosso insuperável com a sociedade”, disse
o deputado, mencionando que foi instituída uma “vendeta insana” contra os
investigadores da Lava Jato.
Taline Oppitz
Correio do Povo
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