Valor supera 10% do total que Alexandre Roso e
Darcísio Perondi têm direito a designar neste ano
Instituição filantrópica atende pelo SUS e tem 20 leitos de UTI na região metropolitana do RecifeFoto: Débora Cruz / Especial
Um hospital de Jaboatão
dos Guararapes — cidade de 644 mil habitantes na região
metropolitana de Recife (PE) — recebe apoio financeiro por meio de dois deputados gaúchos.
Só para 2014, Alexandre
Roso (PSB) e Darcísio
Perondi (PMDB)
indicaram, juntos, R$ 3,5 milhões para o Hospital Memorial Jaboatão.
O valor supera 10% do total que ambos têm direito a designar ao ano.
Os valores constam na
cota individual de emendas, que, neste
ano, devem ser pagas pelo governo em virtude do orçamento impositivo. O ato dos
deputados não é ilegal, mas, geralmente, parlamentares costumam atender
demandas de suas bases eleitorais. No entanto, Perondi e Roso, que são médicos,
mantêm o hábito de indicar recursos à casa de saúde pernambucana há pelo menos
três anos.
Até o ano passado, os
dois indicaram, juntos, R$ 7,4 milhões para a instituição. Contudo, não há
clareza se os valores foram pagos de forma integral, já que a liberação depende
da vontade do governo federal. O Ministério da Saúde não informou, até ontem, a
situação de cada emenda. A administração do hospital disse que recebeu
recursos, inclusive em anos anteriores a 2009, mas não precisou os valores.
Para este ano, as
novas emendas de Perondi (R$ 1,5 milhão) e de Roso (R$ 2 milhões) devem ser
pagas até dezembro. Presidente do Memorial Jaboatão, José Leôncio de Carvalho
Neto comemora a ajuda, mas ainda não definiu como pretende investir a verba.
Ele afirma ser amigo de Perondi e não vê impedimentos para receber ajuda de
políticos não pernambucanos.
Em Ijuí,
terra de Perondi, o Hospital Bom Pastor recebeu ajuda do deputado para
construir a nova sede, mas a comunidade tem feito eventos e campanhas paralelas
para completar os R$ 12 milhões necessários. Já em São Leopoldo, onde Roso foi
vice-prefeito, a direção do Hospital Centenário, diz ter cerca de R$ 1,4 milhão
de dívida com fornecedores ainda pendente, além de R$ 4 milhões em energia
elétrica.
Vice-presidente da
Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos
do RS, André Lagemann observa que, com R$ 3,5 milhões, daria para construir uma
unidade de internação em uma instituição de pequeno porte e custear reformas e
compra de equipamentos:
– O dinheiro faz
falta.
Deputados defendem
repasses
Para os deputados
Alexandre Roso e Darcísio Perondi, não há problema em destinar emendas para
fora do RS. Ambos destacam que os valores são pequenos diante dos repasses
deles a hospitais gaúchos.
Dos R$ 7,6 milhões
destinados por Roso ao setor, até R$ 2 milhões podem ir para o Memorial
Jaboatão, em emenda dividida com o Hospital São Vicente de Paulo, de Passo
Fundo – o restante será aplicado no Estado. Roso já visitou duas vezes o
hospital pernambucano, que costuma lhe apresentar projetos para melhorias e
custeio.
— Coloquei o
recurso pela qualidade do projeto que o hospital fez. Preciso fazer uma
avaliação da saúde como um todo — justifica.
Perondi destaca o
perfil de referência do hospital e admite que conhece o administrador, José
Leôncio de Carvalho Neto, em virtude de seu trabalho em entidades que
representam os filantrópicos e na frente parlamentar da saúde.
— Não existe
bairrismo. Minha prioridade é o Rio Grande do Sul, óbvio, mas tenho uma posição
mais ampla, mais republicana.
Perondi indicou R$
1,75 milhão dos R$ 7,5 milhões em emendas para saúde a três hospitais de fora
do Estado. Há R$ 100 mil para o Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com
Câncer, de São Paulo, e R$ 150 mil para o Instituto de Cardiologia do DF. Já o
deputado Osmar Terra (PMDB) destinou emenda de R$ 100 mil para a Rede Sarah,
com matriz em Brasília.
— Todos os anos
envio recursos a Sarah porque é o único hospital de referência nacional, e
atende muita gente do RS — explica Terra.
Orçamento impositivo
garantirá pagamento de cota
O orçamento impositivo
obriga o governo federal, a partir deste ano, a pagar as emendas individuais de
deputados e senadores, desde que metade do valor vá para a saúde e que o total
não supere 1,2% da receita líquida corrente da União.
Até 2013, os
parlamentares inscreviam suas emendas, mas não havia garantia de pagamento, o
que transformou a liberação em fator de barganha do governo no Congresso.
— A mudança acaba
com o tratamento diferente e a peregrinação nos ministérios pela
liberação — diz o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS).
Cada deputado e
senador pode indicar R$ 15 milhões em emendas individuais, sendo que metade do
valor deve ser destinado para saúde. No total, a bancada gaúcha — 31
deputados e três senadores — encaminhou R$ 484,6 milhões em emendas para
156 municípios do Estado.
Deste total, R$ 245,7
milhões foram reservados para saúde. A segunda área mais indicada foi o
desenvolvimento urbano (R$ 74,9 milhões), que compreende obras de
infraestrutura em municípios. A educação poderá receber R$ 13 milhões, valor
inferior à agricultura (R$ 63 milhões) e ao esporte (R$ 34 milhões).
– Na educação, há
dinheiro para o município pedir de forma direta. A emenda tem a possibilidade
de colocar luz nas áreas em que o orçamento não chega – explica o coordenador
da bancada, Alceu Moreira (PMDB).
Apesar da obrigação
legal, o pagamento das emendas não é automático, pois depende de documentação
correta e de projetos adequados.
Fonte:
Guilherme Mazui e Renata Colombo, Brasília | ZERO HORA - BRASÍLIA
Nenhum comentário:
Postar um comentário