Brasil conta
com 10 vagas para 19 presos
População carcerária no País supera 700 mil e é
3ª maior do mundo, diz Ministério da Justiça
Foto: Luiz Silveira / Agência CNJ / Divulgação
/ CP
Relatórios do Levantamento Nacional de
Informações Penitenciárias (Infopen), do Ministério da Justiça, referentes aos
anos de 2015 (dezembro) e 2016 (até junho), divulgados nesta sexta-feira
mostram que continuam em disparada no Brasil o número de pessoas presas, a taxa
de encarceramento por habitante e o déficit de vagas no sistema prisional. A
população carcerária chegou a 726 mil e se tornou a terceira maior do mundo,
passando a Rússia, atrás de Estados Unidos e China, enquanto o número de vagas,
estagnado, alcança apenas a metade. E para cada vaga individual, há duas
pessoas detidas.
Comparada
com 1990, quando teve início a série histórica informada pelo Ministério da
Justiça, a população carcerária foi multiplicada em 8 vezes, saltando de 90 mil
para 726.712 mil pessoas, sendo que no mesmo período a população nacional
cresceu apenas 39%. Os números incluem pessoas presas por condenação e também
as que ainda não passaram por julgamento.
Em junho
de 2016, eram 726.712 mil presos, sendo 689.510 no sistema penitenciário dos
Estados, 36.765 nas Secretarias de segurança/carceragens de delegacias e 437 no
sistema penitenciário federal. O Infopen é realizado pelo Departamento
Penitenciário Nacional (Depen).
Além de
não acompanhar o crescimento da população carcerária, o número de vagas tem
diminuído pouco a pouco desde 2014, quando chegou ao ápice de 376 mil. Caiu
para 371 mil em 2015 e baixou ainda mais um pouco em 2016, para 368 mil. Faltam
vagas em todos os Estados. Para dar conta do número de presos atualmente, seria
necessário duplicar o número de vagas.
O
resultado é a superlotação, com a taxa de ocupação nacional em 197%, ou seja,
há 19 pessoas presas para cada 10 vagas. A situação mais grave é a do Amazonas,
Estado que viveu em janeiro um verdadeiro massacre em suas celas. O Estado
aprisiona em média 48 pessoas em um espaço destinado a apenas 10. Quatro
quintos das unidades prisionais brasileiras têm menos vagas do que
aprisionados.
A alta
taxa de presos provisórios, de 40%, é a mesma taxa do ano de 2014, mas o fato
de não ter caído permite a leitura de que medidas como audiências de custódia
ainda não surtiram impacto na diminuição dos casos de pessoas que aguardam
julgamento. Amazonas era o Estado com maior porcentual de presos sem condenação
em 2015 (65,5%), mas ficou com 64,4% em 2016 e foi ultrapassado pelo Ceará
(65,8%) e por Sergipe (65,1%). Além do número de presos sem condenação, Sergipe
chama atenção porque todos os presos provisórios estavam há mais de 90 dias
aprisionados.
"Audiências
de custódia são ferramentas bastante recentes, precisamos medir esses dados
para ver todo o alcance delas. Elas ainda não estão sendo realizadas em todas
as comarcas da Federação, mas é evidente que o Depen vem trabalhando no sentido
de ofertar outras medidas para centrais alternativas de pena e monitoramento
eletrônico", disse Jefferson, diretor-geral do Departamento Penitenciário
Nacional.
"Há questões que podem
diminuir o número de presos provisórios. Ano que vem permitiremos que as
tornozeleiras viabilizadas por recursos federais possam ser utilizadas para
prisões domiciliares", disse. Os presos que nem sequer foram julgados são
aqueles que mais sofrem com superlotação, na comparação com os condenados em
regime fechado ou semiaberto. Há 292 mil presos provisórios para 118 mil vagas
- taxa de ocupação da ordem de 247%, enquanto para os condenados em regime
fechado a taxa é de 161%. Para o semiaberto, 170%.
Outro índice que aumentou foi o
de presos por envolvimento com drogas, saltando de 26% em 2015 a 28% em junho
de 2016, entre quem já está condenado ou aguarda julgamento. As mulheres têm
incidência maior de prisão por crimes ligados ao tráfico: 62%, contra 26% dos
homens. Os crimes de roubo e furto somam 37% dos casos e os homicídios
representam 11%.
O levantamento levou em conta
1.422 unidades prisionais informada pelos gestores estaduais do Infopen e 38
unidades não enviaram dados.
Obras
paradas
A crise no que diz respeito às
vagas acontece mesmo após ter havido em 2011 o anúncio da então presidente
Dilma Rousseff da liberação de R$ 1,1 bilhão do governo federal para criação de
vagas no sistema prisional. O Plano Nacional de Apoio ao Sistema Prisional
(PNASP), que depende dos Estados para ser implantado, emperrou. De acordo com
documento datado de junho de 2017 obtido no site do Ministério da Justiça,
nenhuma das 84 obras que têm previsão de gerar 39.659 vagas chegou a 100% de
execução.
De acordo com a situação dos
contratos informada no documento, 39 obras estão paralisadas, 2 estão em
análise na Caixa, 2 estão em fase de licitação com edital, 12 estão com até 30%
de execução, 13 estão entre 30,01% e 60% e 16 estão acima de 60,01%. Estas
obras estavam previstas nos anos orçamentários de 2008, 2009, 2012 e 2013.
Faltam também agentes. O
relatório do Infopen aponta que a proporção de agentes de custódia para cada
preso (um para cada oito) viola resolução do Conselho Nacional de Política
Criminal e Penitenciária (CNPCP), que indica a proporção de um agente para cada
cinco pessoas privadas de liberdade.
Esse é o
número indicado "para a garantia da segurança física e patrimonial nas
unidades prisionais, a partir de parâmetro oferecido pela Estatística Penal
Anual do Conselho da Europa, data-base 2006". O caso de Pernambuco é o
pior, com 35 presos para cada agente. Em todo o Pais, apenas Amapá, Minas
Gerais, Rondônia e Tocantins respeitam o limite estabelecido pelo CNPCP.
ESTADÃO conteúdo
Correio
do Povo
Nenhum comentário:
Postar um comentário