domingo, 20 de dezembro de 2015

Porto Soberbo: dois anos sem controle fronteiriço na divisa com a Argentina


Porto Soberbo: dois anos sem controle fronteiriço na divisa com a Argentina
   Posto aduaneiro foi abandonado pela Receita Federal em 2013/Fotos: Sindireceita

A pouco mais de 600 quilômetros de Porto Alegre/RS está situada a fronteira noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Região onde vivem mais de 200 mil habitantes em 20 municípios. Parte dessas cidades está localizada às margens do rio Uruguai, na fronteira do Brasil com a Argentina.

Para realizar o controle de fronteira nessa região, a Receita Federal do Brasil mantém apenas duas unidades aduaneiras, uma em Porto Mauá/RS e outra em Porto Xavier/RS. Nesses dois pontos da fronteira, a travessia de mercadorias, veículos e pessoas é realizada por balsas. No ano de 2014, por essas unidades foram exportados mais de U$ 264 mil, segundo a Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul. Somente em 2014, passaram pela unidade de Porto Xavier mais de 90 mil pessoas, 23 mil carros e oito mil veículos de cargas. Esse ano, até o mês de outubro, entraram e saíram do País pela unidade de Porto Mauá mais de 41 mil veículos e 113 mil viajantes.

Todo esse fluxo de mercadorias, pessoas e veículos é controlado por sete Analistas-Tributários da Receita Federal. Na unidade de Porto Mauá trabalham três Analistas-Tributários e em Porto Xavier atuam outros quatro Analistas. Esses servidores são os responsáveis pelo controle aduaneiro e fiscalização de mercadorias, veículos, bagagens e de pessoas que cruzam esse ponto da fronteira do País. Nessas unidades, o atendimento é realizado em horário comercial e em esquema diferenciado nos fins de semana e feriado.

Mas, a travessia da fronteira não é realizada apenas nos locais onde existe estrutura para o controle aduaneiro. Na região há inúmeros pontos de passagem que são usados para o transporte de pessoas e mercadorias. Ao longo do rio Uruguai é possível encontrar vários locais usados para atracação de barcos.

Além desses pequenos portos improvisados existem dois pontos que são usados para entrada e saída do Brasil por balsas. Em 2013, a administração da Receita Federal fechou dois postos de fiscalização na região, deixando sem operação as unidades de Porto Soberbo e Porto Vera Cruz.

O problema é que mesmo sem a atuação da Receita Federal o fluxo de pessoas e veículos segue livremente. Nesses pontos além de balsas, a travessia também é feita em pequenos barcos que levam pessoas e mercadorias nos dois sentidos.

Porto Soberbo

O primeiro posto de fronteira visitado foi Porto Soberbo, localizado em uma das margens do rio Uruguai, próximo ao município de Tiradentes do Sul/RS que possui, segundo o IBGE[1], uma população estimada de 6.384 habitantes. Na outra margem do rio se encontra a cidade argentina de “El Soberbio”, que pertence ao departamento “Guarani” que, de acordo com o Censo[2] argentino, possui uma população de 67.897 habitantes.

Para interligar esses dois pontos de fronteira existe um serviço de travessia através de balsas, com funcionamento de segunda a sábado e horários determinados.

Em “El Soberbio” existe um “Paso Internacionale” com a presença da Gendarmeria Nacional Argentina e da Administracion federal de ingresos públicos – AFIP (aduana argentina). Os dois órgãos públicos prestam serviços[3] de segurança de fronteira e migração, controle aduaneiro e fitozoosanitário, nos horários de 7h30 às 11h30 e 13h30 às 17h30.

No Brasil, apesar de Porto Soberbo ter uma estrutura física razoável, não existe controle aduaneiro e nem migratório. Apenas a empresa responsável pelas balsas atua realizando seus procedimentos de controle e recolhimento de taxas para o uso do transporte. São os funcionários dessa empresa que abrem e fecham os portões do porto.

A ausência da Receita Federal ocorreu a partir do ano de 2013 com o Ato Declaratório Executivo SRRF10 nº 17, combinado com a Instrução Normativa RFB nº 1.413, autorizando em caráter precário para os residentes no município de Tiradentes do Sul/RS, na localidade de Porto Soberbo, somente o comércio de subsistência fronteiriço.

A Instrução Normativa citada ainda determinou que a fiscalização aduaneira para o controle das operações de comércio autorizadas, “poderá ser ininterrupta, em horários determinados ou eventual”. As mercadorias introduzidas através de Porto Soberbo, fora das situações expressamente autorizadas, estão sujeitas à pena de perdimento.

Durante a visita do Sindireceita foi observado um fluxo de carros entrando por Porto Soberbo, que em um levantamento superficial alcançariam aproximadamente 80 veículos por dia ou 480 veículos por semana entrando no território nacional sem qualquer tipo de controle fronteiriço.

No contra fluxo estima-se que saiam do País 64 veículos por dia ou 384 por semana, também sem nenhum tipo de controle fronteiriço. No lado argentino, em “El Soberbio ” todos os carros são vistoriados, tanto na entrada quanto na saída, exigindo-se diversos documentos comprobatórios de que o veículo pode sair do Brasil ou circular por países estrangeiro.

Com relação ao trânsito de pessoas o que mais chamou a atenção foi um constante fluxo de uma margem para outra de pequenos barcos, chamados de “conchilhas”. Esse translado “não oficial” passa ao largo do “Paso Internacionale – El Soberbio”, evitando-se o controle fronteiriço da Argentina.

O motivo desse tipo de transporte ocorre, na maioria das vezes, pelo fato de o controle argentino só permitir a entrada de “viajantes” estrangeiros mediante a apresentação da Carteira de Identidade (RG) ou Passaporte. O controle de fronteiras argentina não aceita como documento de identificação carteira de motorista, identidade funcional, identidade profissional ou qualquer outro que não conste na Decisão CMC n° 14/11 do Mercosul. O controlador de balsas em Porto Soberbo sempre alerta os “viajantes” sobre a questão: “Sem identidade é melhor nem ir, pois não vão deixar entrar”.

Pelo valor de R$ 20 qualquer um pode atravessar o rio Uruguai sem passar pelo controle argentino, sendo o mesmo valor cobrado para aqueles que querem entrar no Brasil, mas nesse caso o controle aduaneiro ou migratório não existe em Porto Soberbo.

Tráfico de drogas

Apesar da aparente tranquilidade, a região, nos últimos anos, também passou a ser utilizada como rota de tráfico de drogas. Ao longo do ano foram realizadas várias apreensões, principalmente, de maconha que é trazida do paraguaia para a Argentina e ingressa no Brasil pela fronteira noroeste, com destino aos grandes centros da região sul.

No início de setembro, foram apreendidos mais de 500 quilos de maconha pela Polícia Rodoviária Federal (PRF). A droga estava escondida em um carro abordado na BR-386, que faz a ligação da região fronteira com o centro do estado. Poucas semanas antes, seis pessoas foram presas e quase 150 quilos de maconha na ERS-344 em Tuparendi, na região noroeste do Rio Grande do Sul. No final de maio, em outra abordagem, três homens foram presos em flagrante por tráfico de drogas, em Três Passos, na região noroeste do Rio Grande do Sul. Com eles, foram apreendidos 181 kg de maconha e dois carros, um deles roubado. A droga estava em um veículo com placas de Porto Alegre.

Fronteiras abertas, falta de servidores, indenização de fronteira e porte de arma

No ano de 2010 o Sindireceita lançou o projeto “Fronteiras Abertas” com a publicação de um livro com o mesmo nome. O objetivo do projeto foi mapear os 31 pontos de passagem terrestre em áreas de fronteira mantidos no País pela Receita Federal do Brasil.

Mais do que apenas identificar as dificuldades enfrentadas por Analistas-Tributários e outros servidores que atuam nessas unidades, a obra também apresentou à sociedade e às autoridades um relato acerca da fragilidade na fronteira brasileira, e, principalmente, apresentou um conjunto de propostas para ampliar e tornar mais efetivo o controle nessa faixa do território nacional.

Após cinco anos o Sindireceita retornou aos Portos Soberbo, Mauá, Vera Cruz, Lucena e Xavier visitados no início do projeto e o que se pode notar foi um desenvolvimento relativo à mobilidade e estrutura física dos municípios e localidades, destacando as vias de acesso asfaltadas e sinalizadas. Nos portos que não foram abandonados pela Receita Federal, Mauá e Xavier tiveram um certo incremento em equipamentos e infraestrutura, apesar de níveis diferentes, permitindo uma melhoria no controle aduaneiro.

Alguns problemas encontrados antes persistiram e, infelizmente, aumentaram. O frágil controle aduaneiro nos Portos Soberbo e Vera Cruz, que era realizado por Analistas-Tributários, foi finalizado com o fechamento dos postos da Receita Federal. Hoje não há nenhum tipo de controle fronteiriço nessas localidades por falta de servidores.

A questão da falta de servidores continua latente, em Porto Mauá estão lotados um Auditor-Fiscal e três Analistas-Tributários e o efetivo no Porto Xavier é de quatro Auditores-Fiscais e sete Analistas-Tributários. Em Três Passos a unidade da Receita Federal que responde por Porto Soberbo possui somente um Auditor-Fiscal e quatro Analistas-Tributários, conforme informações do último Estudo de Lotação da RFB.

As informações são do sindireceita.org.br/blog.

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Três Passos News

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