domingo, 6 de dezembro de 2015

Devido a El Niño, RS registra salto em casos de dengue

Condição climática propiciou a proliferação do mosquito transmissor

Porto Alegre é a única capital brasileira a monitorar o inseto adulto, com 794 armadilhas. | Foto: Guilherme Testa
   Porto Alegre é a única capital brasileira a monitorar o inseto adulto, com 794 armadilhas. | Foto: Guilherme Testa

Diante da epidemia do vírus zika, que tem provocado o crescimento de casos de microcefalia no país, o Rio Grande do Sul registra um salto no número de casos de dengue em 2015. Até o início de dezembro foram confirmados 1.258 ocorrências, sendo 90 no ano passado, segundo a Secretaria Estadual da Saúde. Isso representa aumento de 140 vezes em apenas um ano. 

Um fator agravante é a condição climática. Segundo o secretário estadual de Saúde, João Gabbardo, o El Niño fez com que houvesse maior predomínio de chuvas e de altas temperaturas. Situação considerada propícia para a proliferação do mosquito. Inclusive, as intensas chuvas dos últimos meses prejudicaram a realização do Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti (LIRAa) na maioria dos municípios do Estado, incluindo a Capital.

Para se ter uma noção, apenas quatro entregaram a tempo (Bento Gonçalves, Nova Esperança do Sul, Novo Hamburgo e Veranópolis), representando menos de 1% do total. A cidade com resultado mais preocupante entre as quatro foi Novo Hamburgo. Segundo o Ministério da Saúde, o ideal é que todas as cidades informem os seus dados. 

Infelizmente, por não ser obrigatório, há uma redução nas informações. Apesar disso, o secretário acredita que até o final do ano haverá ampliação dos dados. “São importantes, porque dão dimensão da abrangência do mosquito”, explica Gabbardo. No ano passado, 168 municípios gaúchos confirmaram a presença da dengue. 

Capital monitora situação

Em Porto Alegre, 80% dos criadouros do mosquito estão em áreas residenciais; os outros 20%, em terrenos empresariais e áreas abandonadas. Agente de endemia da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Denise Farias, reconhece que o acesso às residências e a receptividade dos moradores são dificuldades. Ela visita semanalmente “armadilhas” instaladas em moradias. Um recipiente de plástico é deixado com água limpa. Se entrar, o mosquito fica preso. Se forem encontrados menos de 3 mosquitos, a infestação é leve.

Os mosquitos pegos são analisados para identificar se há doenças. Porto Alegre é a única capital brasileira a monitorar o inseto adulto. São 794 armadilhas. Na casa de Eliane Laner, que recebeu a visita, foram adotados cuidados como colocação de sal nos ralos, cobertura da piscina e retirada de pratos dos vasos de plantas. “Cada um tem que fazer sua parte.” A SMS faz campanhas de conscientização e monitoramento semanal das áreas mais críticas. Neste ano houve mais de 80 bloqueios com inseticidas em função de suspeitas de dengue. Porém, o veterinário da SMS, Luiz Felippe Kunz Júnior, alerta que o bloqueio é uma medida paliativa. “Estamos em alerta máximo.” 

Alerta em várias cidades

O alerta contra o Aedes aegypti vale para todo o Estado. A estratégia da Secretaria Estadual de Saúde é monitorar com mais intensidade os 12 municípios que registraram 98% dos casos de dengue neste ano. A lógica é simples. O número de ocorrências é maior porque há grande presença do mosquito. Mesmo assim, aumentará a mobilização nos demais municípios. 

Quarta-feira haverá reunião em Porto Alegre com representantes das secretariais municipais. A situação é considerada preocupante, uma vez que o mosquito transmite o zika e a dengue. No Nordeste do Estado, a maioria das 21 cidades da 14ª Coordenadoria Regional de Saúde está com índice de infestação do mosquito acima de 1%, máximo recomendado pelo Ministério da Saúde. Paulo Ricardo Sackis, da 14ª CRS, revela que quatro apresentam índices bem preocupantes: Porto Lucena, com índice de 7,6%; Santa Rosa, 7,2%; Tuparendi, 6,4%; e Santo Cristo; 5,7%. Sobre o zika vírus, diz que é a mesma preocupação de todo o Estado. “A informação técnica é que este problema chegará aqui também.”

Em Santa Rosa, o índice preocupa a Fundação Municipal de Saúde. “A população não tem noção da complexidade e do risco do mosquito, é preciso também ter mudança de hábitos”, diz a coordenadora da Vigilância em Saúde, Mardiori Watthier. Hoje, 23 agentes atuam no combate, sendo 24 o ideal. Concurso previsto para o próximo ano deve preencher a vaga.


Fonte: Correio do Povo

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