Prefeito de Cabedelo (PB), Leto Viana, foi
encaminhado à sede da Polícia Federal, na Paraíba (Foto: Walter Paparazzo/G1)
O prefeito afastado e
preso de Cabedelo, Leto Viana (PRP), foi identificado como líder da organização
criminosa desarticulada na manhã desta terça-feira (3) durante a operação Xeque-Mate da Polícia Federal e do Ministério
Pública da Paraíba. O coordenador do Grupo de Atuação Especial contra o
Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público da Paraíba, Octávio Paulo Neto,
afirmou que Leto coagia os vereadores para tomarem decisões que ele quisesse.
Leto Viana, cinco
vereadores de Cabedelo, cidade da Grande João Pessoa, e outras cinco pessoas
foram presas na manhã desta terça durante uma operação que cumpriu 11 mandados
de prisão preventiva, 15 sequestros de imóveis e 36 de mandados busca e
apreensão expedidos pelo Tribunal de Justiça da Paraíba. Além dos mandados, a
Justiça decretou o afastamento cautelar do cargo de 85 servidores públicos,
incluindo o prefeito e o vice-prefeito de Cabedelo, e o presidente da Câmara
Municipal. Todos os 11 alvos de mandados de prisão foram detidos.
De acordo com Octávio
Paulo Neto, Leto Viana determinava as ordens a serem seguidas e os demais
agentes políticos seguiam. “Existia um hierarquia, em que pese existir um
aspecto celular um pouco anárquico porque cada vereador tinha seus interesses
particulares e financeiros, o controle disso caia sobre a figura do chefe do
poder executivo”, explicou.
Para coagir os vereadores
e manter a Câmara sob seu poder, Leto Viana exigia que os vereadores, ainda
durante o período de campanha, entregassem cartas de renúncia do mandato para
ele. De posse das cartas de renúncia, Leto Viana mantinha o vereador sob seus
interesses e caso o vereador discordasse de suas posições, o prefeito
protocolaria a carta de renúncia e o vereador perderia o mandato.
“Inclusive conseguimos
localizar essas cartas nas casas dos acusados. Perante esse domínio havia o uso
de cargos fantasmas na Câmara para corrupção promovida pelo executivo, e
vice-versa”, comentou Paulo Neto.
A Prefeitura de Cabedelo
informou, por meio de nota, que recebeu a notícia da investigação em andamento
com "calma", e garante o pleno funcionamento da máquina pública, sem
prejuízo à população. "Seguimos confiando na Justiça e aguardando determinações
judiciais", diz o texto.
O Gaeco encontrou indício
ainda da compra de parlamentares para aprovação ou rejeição de projetos
específicos. Um desses projetos investigados como passível da compra dos votos
na Câmara foi o embargo da construção de um shopping no bairro de Intermares. O
delegado da Polícia Federal, responsável pela operação, Fabiano Emídio Lucena,
confirmou que há indícios de compra dos vereadores para que o shopping não
fosse construído.
“Com base no que o
colaborador premiado nos passou, há indícios de compra de votos na Câmara de
Cabedelo para o embargo na obra do shopping Pátio Intermares e o intermediador
foi o próprio prefeito Leto Viana. Ainda não sabemos a origem do dinheiro, mas
isso deve ser alvo de um rastreio por parte da Polícia Federal”, adiantou o
delegado.
Todos os 11 presos na
operação Xeque-Mate foram encaminhados para sede da Polícia Federal, em
Cabedelo, e devem passar por audiência de custódia nesta terça-feira (3).
Compra do mandato com ajuda de empresário
A Polícia Federal
informou que existe um forte indício de que Leto Viana tenha comprado seu
mandato em 2013 com a ajuda do empresário Roberto Santiago. Segundo o delegado
Fabiano Emídio Lucena, o então prefeito eleito, Luceninha (PMDB) havia recebido
uma quantia que pode ter variado entre R$ 2 milhões a R$ 5 milhões para
renunciar do seu mandato e permitir que seu então vice-prefeito, Leto Viana,
assumisse o poder.
Por conta dessa suspeita,
equipes da Polícia Federal também cumpriram mandado de busca e apreensão na
casa do empresário Roberto Santiago, em João Pessoa. Em nota, a assessoria do
empresário informou que ele estava surpreso com a operação.
“Construí minha vida
tendo como signo o trabalho honesto. Tenho a plena convicção de que não cometi
nenhum ato ilícito e não tenho qualquer relação administrativa ou funcional com
os Poderes Executivo e Legislativo de Cabedelo. Estou, e como sempre estive,
colaborando e à disposição da Justiça e das Instituições”, informou a nota.
Delação motivou operação
A operação
Xeque-Mate foi desencadeada a partir de uma colaboração premiada do
ex-presidente da Câmara de Cabedelo, Lucas Santino, de acordo com a
superintendência regional da Polícia Federal da Paraíba. O parlamentar
procurou a PF espontaneamente após ter tido seu mandato como presidente da
Câmara investigado por uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) ordenada por
Leto Viana.
De acordo com o
superintendente regional da PF na Paraíba, André Viana Andrade, foram
apreendidos R$ 300 mil reais em dinheiro durante a ação, inclusive nas casas do
prefeito Leto Viana e do presidente da Câmara de Cabedelo, Lúcio José do
Nascimento Araújo.
Ao ex-vereador Lucas
Santino foi oferecido a extinção da pena de alguns crimes. Ele informou à
Polícia Federal que o prefeito de Cabedelo forçou uma CPI para atrapalhar o
trabalho do ex-presidente da Câmara. Ele confessou à PF que cometeu os crimes
apontados na CPI, mas alegou que outros foram cometidos por colegas.
Por
André Resende, G1 PB
Nenhum comentário:
Postar um comentário