Pelo menos oito homens foram
identificados a partir de relatos. Contra dois deles pesam indícios de crime
Morte da adolescente chocou a comunidade
onde vivem mais de 8 mil caingangues
(Foto: Polícia Civil / Divulgação)
A morte da jovem indígena
kaingangue, Daiane Griá Sales, de apenas 14 anos, completou na terça-feira
(31), um mês. O brutal assassinato aconteceu em um sábado, 31 de julho, quando
a adolescente saiu da Reserva Indígena Guarita, onde vivia, para participar de
festas com amigos. Seu corpo foi encontrado somente quatro dias após o
assassinato, parcialmente despido e com a virilha dilacerada.
A confirmação da morte chocou a comunidade regional,
especialmente a reserva indígena, onde vivem mais de 8 mil kaingangues e
algumas centenas de guaranis. A primeira perícia indica que os ferimentos
teriam sido causados por animais. Porém, a polícia aguarda um novo laudo.
Próximo ao corpo foi encontrado um pedaço de corda, que pode ter
sido utilizado para asfixiar a garota. Algumas marcas no pescoço levam a essa
suposição. Há indícios também de abuso sexual.
O caso virou prioridade para a Polícia Civil, que colheu mais de
uma dezena de depoimentos e identificou alguns dos que teriam visto Daiane em
seus últimos momentos de vida. Pelo menos oito homens foram identificados a
partir de relatos. Contra dois deles pesam indícios de crime. Eles foram
chamados a prestar depoimento, caíram em contradições e tiveram sua prisão
temporária decretada pela Justiça, a pedido dos policiais.
O inquérito está em segredo de Justiça a pedido dos policiais,
que temem fuga de suspeitos. A reportagem do site GZH descobriu que os presos
são de etnia branca, um deles moreno, de 21 anos, e o outro loiro, de 33 anos.
O mais jovem sempre residiu entre Redentora e Tenente Portela, próximo à área
indígena. O outro já morou em grandes cidades gaúchas, mas retornou a Redentora
há poucos anos.
O rapaz de 21 anos admite que conversou com Daiane, mas que não
viu que direção ela tomou após uma das festas. Acontece que uma roupa
encontrada no local onde estava o corpo foi reconhecida como sendo deste rapaz.
Contra o outro suspeito preso existe, além do fato de ter sido
visto na festa onde estava Daiane, a desconfiança de que teria transportado o
corpo da jovem no veículo de um familiar. O carro foi periciado e, nele,
encontrados sinais de sangue. É aguardado exame de DNA para verificar se é
compatível com o da jovem caingangue.
Esse homem não mudou sua versão e declarou três vezes que ele e
amigos carnearam um porco naquele fim de semana e o transportaram, o que
justificaria o sangue no automóvel. O defensor dele é o advogado Lauro Brum,
que declarou a GZH não ter motivos até agora para desconfiar da versão do seu
cliente.
Advogado da família da vítima elogia trabalho de investigação da
polícia
A Rádio Alto Uruguai entrevistou o advogado Bira Teixeira, que
representa a família de Daiane. Ele ressaltou que aguarda o novo laudo da
perícia, elogiou o trabalho policial que vem sendo realizado até o momento sob
a coordenação do delegado Vilmar Schaefer, e não descartou a possibilidade de
mais pessoas serem indiciadas por participação direta no crime. Ele também
relatou que ainda não estão evidentes as participações dos dois homens que
estão presos temporariamente.
Bira também ressalta que Daiane era uma adolescente defensora das causas indígenas, bem relacionada e com planos de fazer faculdade. “O tempo vai dizer se foi morta porque era índia, por ser mulher ou, quem sabe, por ambos os fatores. Mas foi barbarizada e isso tem de ser esclarecido”, conclui o advogado.
Fonte: Rádio Alto Uruguai
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