Região do Xitei, em Alto
Alegre, ao Norte de Roraima — Foto: Junior Yanomami/Divulgação
Quatro indígenas são
suspeitos de agredir e quebrar os braços de uma médica, de 38 anos, na
Terra Yanomami, informou o Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e
Ye'kuana (Condisi-Y) ao G1 neste sábado
(18).
O caso ocorreu na região
do Xitei, em Alto Alegre, ao Norte de Roraima, nesta quinta-feira (16). A
médica faz parte da equipe do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami
(Dsei-Y). Ela foi transportada para Boa Vista e passou por uma cirurgia no
Hospital Geral de Roraima (HGR).
Segundo Júnior Yanomami,
que foi até a comunidade apurar a ocorrência, a família afirmou que a criança
“não tinha nada”, mas foi chamada pela médica para tirar "bicho de
pé", pequeno parasita que entra na pele e comum em zonas rurais.
Ainda conforme o relato da
família, durante o procedimento, a criança perdeu muito sangue e quando já
estava quase sem vida foi levada para a comunidade, que fica há dez minutos do
posto de saúde. Os quatro irmãos da criança teriam ficado revoltados e
responsabilizado a médica pela morte.
“Conversei com um dos irmãos, ele
declarou que fizeram isso e reconhece que erraram. Eles fizeram no momento de
raiva, porque o irmão morreu e a mãe estava lutando, chorando. Mas isso não se
justifica. Nós, representantes, repudiamos total contra isso. Toda a comunidade
está muito chateada com a família”, disse Junior Yanomami.
Conforme o relatório de
óbito, a criança deu entrada no posto no dia 13 de julho, acompanhada pelos
pais, e a mãe solicitou que a médica cuidasse dos pés da vítima. Durante o
tratamento, a criança teve convulsões e não resistiu.
“Drª avaliou e achou melhor
tirar as pulgas com a pinça e iniciou o trabalho manual no dia 15, pela manhã,
e deu tudo certo. A tarde, iniciou o pé direito e foi injetado durante quase
três horas de trabalho, 30 ml de lidocaína [anestésico local]" diz trecho
do relatório, feito por uma enfermeira do pólo.
Ainda conforme o
documento, as convulsões começaram por volta das 17h e a criança perdeu muito
sangue. Foi dado um remédio anticonvulsivante e a criança apresentou parada
cardíaca.
Procurada, a Secretaria
Especial de Saúde Indígena (Sesai) não se pronunciou sobre o caso até a última
atualização deste conteúdo.
Médica agredida
Médica chegou a Boa Vista por volta de 19h40
dessa quinta-feira (16) — Foto: Raimesson Martins/Rede Amazônica
Ferida, a médica foi
levada de avião ao Hospital Geral de Roraima (HGR), em Boa Vista, na noite de
quinta-feira (16). Na capital, foi recebida e atendida pelo Serviço de Atendimento Móvel de
Urgência (Samu).
"Foi acionado o
suporte avançado de vida do Samu. Na chegada, o estado geral de saúde da
paciente era bom. Ela estava lúcida, consciente e orientada. Tinha múltiplas
fraturas nos braços, antebraços região de clavícula e alguns ferimentos
ocasionados por arma branca na cabeça", informou a médica do Samu,
Leidiane Nobles, que fez os primeiros atendimentos à vítima.
A médica segue internada
no HGR. De acordo com a Secretaria estadual de Saúde, responsável pela unidade,
ela "recebeu atendimento pela equipe médica de plantão e passou por
procedimento cirúrgico para correção ortopédica."
Terra Yanomami
Maior reserva indígena do
Brasil, a Terra Yanomami tem uma população de 27 mil indígenas e quase 10
milhões de hectares. A região fica entre os estados de Roraima e Amazonas e é
alvo constante de garimpeiros que invadem a terra em busca da extração ilegal
de ouro.
O garimpo ilegal tem
causado tensão na reserva devido aos conflitos entre garimpeiros e indígenas.
Em junho, dois jovens Yanomami, de 20 e 24 aos, foram mortos a tiros em uma área de mata fechada na região do
rio Parima, em Alto Alegre.
Por Juliana Dama, G1 RR
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