domingo, 19 de julho de 2020

Quatro indígenas são suspeitos de agredir médica, diz presidente do Conselho de Saúde Yanomami em RR

Os suspeitos são irmãos de uma criança, de 7 anos, que morreu sob os cuidados da profissional, informou o Condisi-Y.

Região do Xitei, em Alto Alegre, ao Norte de Roraima — Foto: Junior Yanomami/Divulgação
Região do Xitei, em Alto Alegre, ao Norte de Roraima — Foto: Junior Yanomami/Divulgação

Quatro indígenas são suspeitos de agredir e quebrar os braços de uma médica, de 38 anos, na Terra Yanomami, informou o Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kuana (Condisi-Y) ao G1 neste sábado (18).

O caso ocorreu na região do Xitei, em Alto Alegre, ao Norte de Roraima, nesta quinta-feira (16). A médica faz parte da equipe do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y). Ela foi transportada para Boa Vista e passou por uma cirurgia no Hospital Geral de Roraima (HGR).

Segundo Júnior Yanomami, que foi até a comunidade apurar a ocorrência, a família afirmou que a criança “não tinha nada”, mas foi chamada pela médica para tirar "bicho de pé", pequeno parasita que entra na pele e comum em zonas rurais.

Ainda conforme o relato da família, durante o procedimento, a criança perdeu muito sangue e quando já estava quase sem vida foi levada para a comunidade, que fica há dez minutos do posto de saúde. Os quatro irmãos da criança teriam ficado revoltados e responsabilizado a médica pela morte.

“Conversei com um dos irmãos, ele declarou que fizeram isso e reconhece que erraram. Eles fizeram no momento de raiva, porque o irmão morreu e a mãe estava lutando, chorando. Mas isso não se justifica. Nós, representantes, repudiamos total contra isso. Toda a comunidade está muito chateada com a família”, disse Junior Yanomami.

Conforme o relatório de óbito, a criança deu entrada no posto no dia 13 de julho, acompanhada pelos pais, e a mãe solicitou que a médica cuidasse dos pés da vítima. Durante o tratamento, a criança teve convulsões e não resistiu.

“Drª avaliou e achou melhor tirar as pulgas com a pinça e iniciou o trabalho manual no dia 15, pela manhã, e deu tudo certo. A tarde, iniciou o pé direito e foi injetado durante quase três horas de trabalho, 30 ml de lidocaína [anestésico local]" diz trecho do relatório, feito por uma enfermeira do pólo.

Ainda conforme o documento, as convulsões começaram por volta das 17h e a criança perdeu muito sangue. Foi dado um remédio anticonvulsivante e a criança apresentou parada cardíaca.

Procurada, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) não se pronunciou sobre o caso até a última atualização deste conteúdo.

Médica agredida


Médica chegou a Boa Vista por volta de 19h40 dessa quinta-feira (16) — Foto: Raimesson Martins/Rede Amazônica
   Médica chegou a Boa Vista por volta de 19h40 dessa quinta-feira (16) — Foto: Raimesson Martins/Rede Amazônica

Ferida, a médica foi levada de avião ao Hospital Geral de Roraima (HGR), em Boa Vista, na noite de quinta-feira (16). Na capital, foi recebida e atendida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

"Foi acionado o suporte avançado de vida do Samu. Na chegada, o estado geral de saúde da paciente era bom. Ela estava lúcida, consciente e orientada. Tinha múltiplas fraturas nos braços, antebraços região de clavícula e alguns ferimentos ocasionados por arma branca na cabeça", informou a médica do Samu, Leidiane Nobles, que fez os primeiros atendimentos à vítima.

A médica segue internada no HGR. De acordo com a Secretaria estadual de Saúde, responsável pela unidade, ela "recebeu atendimento pela equipe médica de plantão e passou por procedimento cirúrgico para correção ortopédica."

Terra Yanomami


Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami tem uma população de 27 mil indígenas e quase 10 milhões de hectares. A região fica entre os estados de Roraima e Amazonas e é alvo constante de garimpeiros que invadem a terra em busca da extração ilegal de ouro.

O garimpo ilegal tem causado tensão na reserva devido aos conflitos entre garimpeiros e indígenas. Em junho, dois jovens Yanomami, de 20 e 24 aos, foram mortos a tiros em uma área de mata fechada na região do rio Parima, em Alto Alegre.

  
Por Juliana Dama, G1 RR

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