sexta-feira, 20 de abril de 2018

Instituto de Cultura Árabe diz que declarações de Ana Amélia indicam "islamofobia"

Entidade salientou que canal Al-Jazeera é referência no planeta e que vínculo da Senadora a terrorismo denota "preconceito"

Entidade salientou que canal Al-Jazeera é referência no planeta e que vínculo da Senadora a terrorismo denota
Entidade salientou que canal Al-Jazeera é referência no planeta e que vínculo da Senadora a terrorismo denota "preconceito" | Foto: Pedro França / Agência Senado / CP

O Instituto de Cultura Árabe divulgou nota, nesta quinta-feira, criticando as declarações da senadora Ana Amélia (PP-RS) ao vincular o canal de notícias do Catar Al-Jazeera a terroristas islâmicos. Ana Amélia fez os comentários no senado na quarta-feira, ao criticar um vídeo enviado pela senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) à emissora, pedindo apoio do mundo árabe contra a detenção do ex-presidente Lula, condenado e preso na Operação Lava Jato.

“A Al-Jazeera é um dos grupos de comunicação mais respeitados do planeta. Além de praticar um jornalismo que serve de referência, entrevista e promove reportagens com líderes, artistas, intelectuais e ativistas que se identificam com a luta em defesa dos direitos humanos, respeitando a diversidade de opiniões”, diz a nota. “Relacionar uma emissora de TV do mundo árabe a grupos terroristas, além de demonstração de desconhecimento em relação aos países árabes, é prática explícita de preconceito racial e islamofobia.”

No comunicado, o instituto ainda lembra que o Brasil historicamente é destino de imigrantes de diversas partes do mundo, entre eles, os árabes. . “A Constituição brasileira é clara quanto aos delitos de racismo e discriminação e quaisquer formas de sistemas religiosos e profissões de fé. Partindo de uma senadora da República, constitui-se em um constrangimento ainda maior para nossa a sociedade”, prossegue o texto. “Valorizamos o caminho da harmonia entre as comunidades e entre os povos e o respeito às diferenças. Acreditamos que a integração entre as culturas e o diálogo são essenciais, assim como o respeito aos direitos humanos de todas as pessoas, brasileiras ou não.”

Ana Amélia afirmou que Gleisi poderia ter violado a Lei de Segurança Nacional por supostamente ter provocado "atos de hostilidade" contra o Brasil . “Espero que essa convocação não seja um pedido para o Exército islâmico atuar no Brasil”, disse a senadora gaúcha. Não há nenhum grupo terrorista de grande porte chamado "Exército Islâmico". O Estado Islâmico ocupou entre 2014 e o começo deste ano faixas de território na Síria e no Iraque, além de organizar atentados em grandes capitais europeias, mas não há evidências de qualquer vínculo do grupo com a Al-Jazeera.

Mais cedo, a Procuradoria-Geral da República instaurou procedimento preliminar para analisar a possibilidade de abrir inquérito sobre o vídeo de Gleisi. O Icárabe se diz uma instituição laica, dedicada à promoção da cultura árabe no Brasil.

A senador Ana Amélia divulgou nota negando ter feito críticas à Al Jazeera. "Em nenhum momento emiti qualquer opinião sobre a comunidade árabe", frisou.

Leia a nota:

Nas minhas manifestações não há qualquer crítica à TV Al Jazeera, com sede no Catar! Minha crítica foi exclusivamente ao manifesto da Presidente do PT por ter denegrido a imagem do Judiciário, do Ministério Público e da imprensa brasileira. Em nenhum momento emiti qualquer opinião sobre a comunidade árabe. Basta ler ou ouvir as minhas manifestações feitas no Senado. Ao contrário, integro a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, onde os temas internacionais são rotineiros e variados e o respeito aos povos é um princípio básico.

Por oportuno informo que hoje assumi a presidência do Grupo Parlamentar Brasil-Reino da Arábia Saudita. No Rio Grande do Sul, que tenho a honra de representar no Senado, a comunidade árabe começou a ser formada com a chegada dos imigrantes sírio-libaneses, no século 18 e mais tarde vieram os palestinos colaborando intensamente com o desenvolvimento econômico, social e cultural, especialmente nas regiões de fronteira com Uruguai e Argentina. No ano passado integrei a comitiva do Ministério da Defesa em missão oficial no Líbano na visita à United Nations Interim Force in Lebanon (Unifil).

Em outra oportunidade, também em caráter oficial, visitei Ramalah (Palestina). Quaisquer avaliações diferentes dessas são, portanto, tentativas de má fé para inverter os fatos, desconstruindo a realidade com notórios fins políticos, às vésperas do processo eleitoral brasileiro.


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Correio do Povo

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