sexta-feira, 25 de março de 2022

O júri que custou R$14,5 mil por minuto

Abandono da defesa da ré Alexandra Salete Duogokenski do plenário obrigou encerramento do julgamento após poucos minutos do seu início


Foto: Maicon Ferreira


Um júri de grande repercussão e mobilização social, que demandou um esquema especial de infraestrutura e de preparação, custando aos cofres públicos cerca de R$ 160 mil, mas que durou apenas 11 minutos. Este é o resumo do julgamento do Caso Rafael, que estava previsto para ser realizado em Planalto durante toda esta semana, mas que foi encerrado pela juíza presidente da sessão, Marilene Parizotto Campagna, pouco mais de 10 minutos após ter iniciado, em razão do abandono do plenário pela defesa da ré Alexandra Salete Duogokenski. Como um tribunal de júri não pode seguir sem que o réu possua sua defesa, a magistrada encerrou a sessão, que será remarcada para uma nova data.


Durante a manhã da segunda-feira, entre as primeiras atividades do júri, os advogados da ré alegaram ter identificado entre os áudios extraídos do celular do pai do menino, Rodrigo Winques, que constam no processo, uma mensagem que supostamente seria de Rafael. A defesa, então, pediu à juíza que fosse realizada uma perícia para identificar se a voz é da vítima, uma vez que a data da mensagem não conferiria com a que consta na denúncia como sendo a da morte da criança. De acordo com o advogado Gustavo Nagelstein, que fez a sustentação no plenário, trata-se de prova técnica necessária para que se possa avançar no processo.


O Ministério Público, autor da acusação, se manifestou contrário ao pedido, argumentando que o prazo para requerimento de provas já expirou. O MP alegou, ainda, que a intenção da defesa era procrastinar o processo e que o fato não mudará a convicção de que Alexandra é a autora do crime. 


Depois das discussões, a magistrada negou o pedido da defesa, alegando que o prazo para requerimento de provas já havia encerrado. Diante disso, os advogados de defesa abandonaram o plenário, sem que nem houvesse o sorteio de jurados. Desta forma, um novo julgamento deverá ser marcado em data futura. Além disso, haverá um novo sorteio para compor o Conselho de Sentença do Tribunal do Júri.


Justiça tentará pedir ressarcimento dos valores


Cancelado após a bancada de defesa da ré abandonar o plenário, o júri do caso Rafael custou aos cofres públicos mais de R$ 160 mil reais. O montante envolve a contratação de empresa organizadora de evento, realização de licitação, contratação de link de comunicação de dados (internet), despesas com vigilância, transporte de bens, aluguel, diárias, entre outros. 

 

Conforme o Tribunal de Justiça gaúcho, a organização do julgamento, do ponto de vista da logística, demandou meses para ser estruturada, tendo contado com o envolvimento de, aproximadamente, 50 colaboradores, dos quais, 15 eram de setores do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) e terceirizados.


Na última semana, as equipes trabalharam para transformar o salão principal do Independente Futebol Clube em um Salão do Júri, já que a sede do Foro da Comarca de Planalto não comporta um evento de grande porte. No clube, foram realizadas adaptações de pontos de acesso à rede de internet e de elétrica, bem como a colocação de mobiliário, banheiros químicos e gerador, a fim de possibilitar o bom andamento dos trabalhos.


Ante ao abandono do plenário por parte da defesa da ré, o TJ-RS já adotou providências junto à Procuradoria-Geral do Estado (PGE) para avaliar possíveis medidas de ressarcimento ao erário público em virtude do ocorrido.


O caso


Rafael Winques, de 11 anos, foi morto em maio de 2020. A mãe dele, Alexandra Dougokenski, é acusada de cometer homicídio qualificado (motivo torpe, motivo fútil, asfixia, dissimulação e recurso que dificultou a defesa), ocultação de cadáver, falsidade ideológica e fraude processual. Em menos de um ano de tramitação, a fase de instrução processual (oitiva de testemunhas, produção de provas, interrogatório da ré) foi concluída. O processo foi conduzido pela juíza de Direito Marilene Parizotto Campagna que, em 5 de março de 2021, pronunciou Alexandra (ou seja, decidiu que ela deveria ser julgada pelo júri popular). O julgamento foi marcado, inicialmente, para 8 de novembro do ano passado, mas acabou sendo adiado em razão do ataque cibernético sofrido pelo Poder Judiciário e também dos trâmites do processo de licitação para contratação de empresa de apoio ao evento.




Publicado por: Adriano Dal Chiavon

Folha do Noroeste

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