quinta-feira, 9 de julho de 2015

Mais de 80% dos Conselhos Tutelares do RS só atuam 8 horas por dia

TCE revela que maioria dos órgãos não contam com estrutura pessoal para dar conta da demanda

O Tribunal de Contas do Estado (TCE) fez um diagnóstico dos Conselhos Tutelares (CTs) do Rio Grande do Sul e a pesquisa, referente ao ano de 2014, mas divulgada nesta quinta-feira, encontrou algumas falhas nos órgãos responsáveis por zelar pelos direitos da criança e do adolescente. Uma delas está no fato de que 79,16% não dispunham de estrutura pessoal suficiente para dar conta das demandas. Outro dado alarmante indica que 81,05% funcionam durante seis a oito horas diárias, quando a lei vigente determina que esses locais precisam estar à disposição durante as 24 horas do dia.   

Conforme a pesquisa, somente 10,53% dos CTs trabalham mais de oito horas diárias. Há municípios que contam com locais que só estão à disposição da população durante quatro horas por dia (1,68%). Outro lado da pesquisa que está intimamente ligado à disponibilidade dos CTs diz respeito aos horários das demandas. Um número significativo de denúncias são recebidas durante horários de plantão (32,19%), enquanto 67,81% são as demandas recebidas em horário de expediente.

A maioria das denúncias relacionadas a violações de direitos humanos de crianças e adolescentes veio das escolas, com mais de 27 mil relatos. Outros, que podem incluir pessoas e outras entidades, aparecem com mais de 26 mil, enquanto o Ministério Público é o terceiro órgão que mais denuncia, com mais de 13 mil relatos. 

Conforme o parágrafo único do artigo 134 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), as cidades devem incluir nas suas leis orçamentárias a previsão dos valores necessários ao funcionamento do Conselho Tutelar e à remuneração e formação continuada dos conselheiros. A pesquisa aponta que 7,79% dos municípios não atendem ao dispositivo. 

Negligência e violência 

Questionados sobre o número de atendimentos realizados por área de atuação, os CTs informaram que a maioria dos casos está relacionada a situações de negligência (30,29%), seguidas por problemas de conduta comportamental (21,35%), violência psicológica (21,92%) e uso de drogas.

Uma das alternativas para escolas evitarem a fuga de alunos vítimas de violação dos direitos humanos é a Ficha Comunicação de Aluno Infrequente (FICAI), que precisa ser preenchida e enviada aos CTs quando as instituições de ensino esgotam todas as possibilidades na hora de garantir o retorno do estudante. As escolas municipais lideram o quesito com o envio de 28.036 fichas. 

O Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente (SGDCA) é um conjunto de ações integradas entre instituições para atender à população infantojuvenil. Questionados sobre o funcionamento do SGDCA, 36% dos CTs consideraram insatisfatória a articulação entre as instituições que compõem o Sistema. 

De acordo com as respostas dos Conselhos enviadas pelos Municípios, em 2014, 93% dos CTs realizaram encaminhamentos para autoridades judiciárias e para pais ou responsáveis. Além disso, 74% realizaram inclusões em programas comunitários e quase a totalidade (97%) ocuparam-se com orientações, apoios e acompanhamentos temporários.

Qualificação dos conselheiros 

A pesquisa solicitada pelo TCE apontou ainda que 52% dos conselheiros tutelares só tem o ensino médio completo, enquanto 10% não apresentam a escolaridade desejada. Conselheiros com nível superior somam 17%, enquanto os servidores pós-graduados são apenas 4%. 

Apesar de 77,26% dos CTs declararem que o Executivo de sua cidade destina recursos para a capacitação, 41% afirmaram não realizar qualificações frequentes. Dos que responderam haver repasse de recursos para a qualificação dos conselheiros, 50,32% alertaram que os valores não são suficientes para atender às necessidades de treinamento.

Quase a totalidade, 91,79%, dos CTs declarou não ter site próprio ou informações hospedadas em outra página na internet. Como alternativa à manutenção de sites, foi perguntado se os órgãos mantinham uma página no Facebook. Do total, apenas 4,42% responderam afirmativamente.


Fonte: Correio do Povo

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