domingo, 7 de dezembro de 2014

Formação do governo mostra ‘estilo Sartori’

Governador eleito tenta evitar ‘armadilhas políticas’ nas articulações

Na quinta-feira, o governador eleito anunciou os primeiros secretários | Foto: Samuel Maciel
   Na quinta-feira, o governador eleito anunciou os primeiros secretários | Foto: Samuel Maciel

Um conjunto de fatores que inclui o “estilo gringo” e uma provável crise nas finanças do Estado embasa a formação do governo de José Ivo Sartori (PMDB). Na quinta-feira, quando o governador eleito anunciou os primeiros secretários, esses fatores ganharam destaque e deixaram evidente que, por trás da cultivada imagem de “homem simples”, há alguém com conhecimento das articulações e armadilhas políticas.

No xadrez do governador eleito pesam desde a manutenção das “portas abertas” no governo federal e a necessidade de maioria na Assembleia Legislativa até questões menos evidentes. Entre elas, a disputa pelo comando do PMDB gaúcho, as pretensões do partido para 2016 e 2018 e a criação de um ambiente favorável ao novo governo do Estado.

Desde já, por exemplo, José Ivo Sartori e peemedebistas mais próximos a ele informam que há uma crise aguda nas finanças do Rio Grande do Sul. E deixam “vazar” para a imprensa o risco de falta de dinheiro para pagar os salários do funcionalismo público. “No início teremos regime de caixa. Entrou dinheiro, vamos ver o que paga. O início poderá ser difícil, mas a população vai saber fazer a leitura correta”, resume o futuro secretário da Fazenda, deputado Giovani Feltes.

A estratégia de “terra arrasada” é antiga, mas ajuda, admite uma liderança partidária que integrou o governo Germano Rigotto. Ela funciona ao preparar a população para eventuais medidas impopulares ou mesmo para o caso de uma certa estagnação inicial, quando o novo governo ainda está estabelecendo linhas de ação. Por isso, enquanto peemedebistas destacam “o problema das finanças”, a preocupação nos bastidores é sobre a costura e manutenção da base política.

Escolha visa aproximação com Planalto

A complexidade das variáveis políticas levou o governador eleito José Ivo Sartori a indicar o deputado Márcio Biolchi para chefiar a Casa Civil. Caberá a Biolchi a tarefa de, via Eliseu Padilha, estreitar as relações com o governo federal. Melhor ainda se Padilha, indicado pela bancada da Câmara, se tornar ministro. Além de Kátia Abreu e Moreira Franco, Padilha figura, ao lado de Henrique Eduardo Alves, Eunício Oliveira e Eduardo Braga, na lista dos cotados para o Ministério. “Foi uma atitude bastante inteligente”, resume Padilha sobre a escolha de Biolchi.

No Estado, a situação é intrincada. Tanto que, apesar do apoio de 18 siglas e da possibilidade concreta de adesão do PDT, há dificuldades para encontrar um líder do governo “apropriado” na Assembleia. De quebra, mesmo que discreta, a baixa sintonia entre Sartori e o próximo presidente do Legislativo, o atual presidente do PMDB, deputado Edson Brum, é conhecida. “O presidente da Assembleia vai ser o Edson, que não é muito próximo do Sartori, haverá 15 bancadas, sendo sete de deputado único, e nós vamos depender do PDT, que é imprevisível. Ou alguém acha que vamos ter controle sobre o Enio Bacci, a Regina Becker e, ao que tudo indica, a Juliana Brizola?”, questiona um deputado reeleito do PMDB. Para completar, no comando do partido, onde Brum tenta se manter, peemedebistas próximos a Sartori preferem ver Ibsen Pinheiro. Além deles, o deputado federal Alceu Moreira está inclinado a entrar na disputa.

Flavia Bemfica
Correio do Povo

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