quinta-feira, 27 de março de 2014

Pesquisa indica que Brasil critica violência, mas culpa mulher por ocorrências

Estudo apurou que 65% acreditam que mulheres que usam roupas que mostram corpo devem ser atacadas


O pensamento machista ainda governa a percepção dos brasileiros nos casos de violência contra a mulher. Esse fato foi mostrado por pesquisa divulgada nesta quinta-feira pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Uma imensa maioria dos entrevistados (91%) avaliou que homens que batem na esposa devem ir para a cadeia, em contrapartida, a tendência nos casos de assédio e estupro, foi condenar a mulher.

Conforme os dados do Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS), 65% dos brasileiros concorda com a frase "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas". Também predominou (58,5%), a ideia de que "se as mulheres soubessem se comportar, haveria menos estupros". Foram ouvidas 3.810 pessoas, de 212 municípios

Ao mesmo tempo que condena a violência física de maridos com esposas, o brasileiro concorda que o assunto deverá ser discutido internamente, sem intervenção do Estado. Cerca de 63% dos entrevistados acham correta a frase "casos de violência dentro de casa devem ser discutidos somente entre os membros da família".

A pesquisa também abordou as uniões homoafetivas e percebeu que ainda existe incômodo da população com casais do mesmo sexo. Cerca de 52% foram a favor da proibição do casamento gay, 59% se sentem desconfortáveis com dois homens ou duas mulheres se beijando. A frase "um casal de dois homens vive um amor tão bonito quanto entre um homem e uma mulher" teve boa aceitação entre 41% dos questionados.

Pensamento patriarcal

Nas regiões Sul e Sudeste, foram menores as escolhas que responsabilizavam a mulher pela violência sexual e essa variação se repetiu nos entrevistados com maior escolaridade e nível social. Para os pesquisadores, os resultados apontam para um pensamento ainda patriarcal do Brasil.

Esse patriarcalismo, por sua vez, influenciaria no maior número de ocorrência de estupros em todo o país. Registros do Sistema de Informações de Agravo de Notificação do Ministério da Saúde (SINAN), mostram que 89% das vítimas de estupro são do sexo feminino e que crianças e adolescentes representam 70% das vítimas. Além disso, em 50% dos casos envolvendo menores, o crime foi reincidente. Por fim, dado alarmante indica que 11,3% dos estupros contra crianças foram cometidos pelos próprios pais, algo que o estudo classifica como "grave doença coletiva de uma sociedade em estágio pré-civilizatório".


Fonte: Correio do Povo

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