sábado, 22 de março de 2014

"Eu sou médica e jurei salvar vidas", diz médica cubana que atendeu piloto morto em arracandão no Sul de SC

Aliúska Alarcon Médica, cubana e profissional do Mais Médicos, falou em entrevista exclusiva sobre atendimento que foi denunciado pelo Cremesc

"Eu sou médica e jurei salvar vidas", diz médica cubana que atendeu piloto morto em arracandão no Sul de SC Jessé Giotti/Agencia RBS
Médica disse que estava em evento para conhecer e acabou participando do socorro à vítimaFoto: Jessé Giotti / Agencia RBS

Em Balneário Arroio do Silva, no Litoral Sul do Estado, o clima é de tensão. Moradores da cidade com pouco mais de 10 mil habitantes estão apreensivos quanto ao futuro profissional da médica cubana Aliúska Guerra Alarcon, 34 anos. No domingo, ela fez o atendimento ao piloto de caminhões Edson Beber durante a XXIV Arrancada Internacional de Caminhões. Segundo Aliúska, ela não estava a trabalho, conforme denúncia de 12 médicos ao Conselho Regional de Medicina (Cremesc), mas tentou sim prestar socorro à vitima que morreu no local. Como profissional do Mais Médicos, ela não poderia trabalhar fora do posto de saúde. A ação de Aliúska também está sendo investigada pelo Ministério da Saúde. 

Na pastelaria, no posto de saúde e por todos os locais o comentário geral é sobre o fato. Moradores não querem perder a médica. Se mostram satisfeitos com o trabalho que realiza no posto de saúde. Estão solidários a ela em relação às acusações.

DC – O que exatamente a senhora estava fazendo no evento?

Aliúska – Eu fui conhecer. Em Cuba não há este tipo de evento.

DC – Como foi o seu primeiro dia no evento, no sábado?

Aliúska – Fui com a secretária de Saúde (Patrícia Palodine) para conhecer. Andei pelos camarotes e pelo setor da prefeitura. Lá tinham também muitos colegas do posto. Conheci outras pessoas. Depois fiquei perto do som, onde estava a ambulância e conheci as pessoas que estavam trabalhando. Um motorista e duas enfermeiras.

DC – Por que a senhora estava usando a roupa de serviço deles?

Aliúska – Eles falaram que para ficar ali teria que usar a vestimenta, que era um macacão.

DC– A senhora não pensou que poderia ter problemas?

Aliúska – Não pensei que poderia haver qualquer alteração por causa de uma roupa. Uma roupa não define o trabalho ou não.

DC – O que aconteceu depois?

Aliúska – Fui almoçar com eles. Estava usando a pulseira da prefeitura e tinha acesso a todos os lugares, inclusive para entrar com eles para almoço.

DC – Quando a senhora tirou o uniforme?

Aliúska – Quando o dono da empresa disse que eu poderia ficar ali, mas sem a vestimenta.

DC – Por que continuou ali?

Aliúska – Não estava trabalhando, mas quis continuar com eles.

DC – E no domingo?

Aliúska – No domingo voltei ao evento de manhã, às 10h. 

DC – No domingo usou novamente a roupa dos profissionais da ambulância?

Aliúska – Não. Estava de bermuda e uma blusa preta. Não fiquei muito tempo, dei várias voltas e conheci outras pessoas. Voltei às 14h.

DC – Onde a senhora estava e como agiu na hora do acidente?

Aliúska – Perto das 15h estava na parte lateral, próximo à ambulância. Não vi o Corpo de Bombeiros ali perto. Estava lá o mesmo motorista de sábado. E outra enfermeira, que está grávida. O acidente foi na pista. Logo que aconteceu, o motorista pediu ajuda. Ele falou: "Entra rápido que a enfermeira está grávida!" Entrei junto aos outros na ambulância.

DC – O que a senhora pensou neste momento?

Aliúska – Eu sou médica, jurei ajudar as pessoas. Salvar uma vida.

DC – A senhora não pensou que tudo isso poderia acontecer?

Aliúska – Em nenhum momento poderia pensar nestas consequências para mim. Estamos acostumados a ser profissionais que salvam vidas e ajudar aos doentes. Em nenhum momento pensei nesta situação tão polêmica, porque uma vida vale mais que qualquer coisa no mundo. 

DC – Como a senhora se sente em relação às críticas pela sua atuação no atendimento?

Aliúska – É falta de respeito com a minha pessoa. Eu vim para atender as pessoas doentes e mais nada.

DC – Em algum momento a senhora trabalhou para outra empresa ou pessoa que não fosse a prefeitura de Arroio do Silva?

Aliúska – Não, não estava a trabalho e nem posso. Trabalho para a prefeitura de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, com uma hora de intervalo para almoço.

DC – A senhora também foi criticada por causa de uma foto em que aparece atendendo a vítima. Disseram que a senhora estaria fazendo o procedimento errado ao entubar o paciente.

Aliúska – Os milésimos de segundo de uma foto não definem se estava errado ou não. O paciente teve múltiplas fraturas que tem que se fazer uma manobra (no atendimento). Por aquele instante não se pode falar se estava errado ou não.

DC – Como a senhora se sente?

Aliúska – Acolhida pelas pessoas e pelos colegas de trabalho. Braba pela falta de respeito e ética de alguns profissionais.

DC – Se acontecer situação semelhante fora do seu horário de trabalho, qual vai ser sua atitude?

Aliúska – (A médica pensa por alguns instantes antes de responder) No momento vou atender as pessoas de acordo com meus princípios.

DC – A senhora pretende continuar aqui ou pensa em desistir e voltar para seu país?

Aliúska – Vou ficar. Gostaria de agradecer às pessoas com quem trabalho pelo apoio.

Fonte: Mônica Foltran | DIÁRIO CATARINENSE

Um comentário:

  1. "Eu sou médica e jurei salvar vidas" Será que os médicos que denunciaram ela lembram disso???

    ResponderExcluir