Ex-mulher de comerciante teria vendido casa para policial militarFoto: Eduardo Torres / Diário Gaúcho
A casa do comerciante
Adriano Silveira Machado, 37 anos, estava cheia no começo da noite de quinta.
Depois de quase uma semana tenso em virtude de ameaças feitas por um sargento
de 45 anos, do 20º BPM, ele acreditava que o pior já tinha passado. Mas, as 19h30min,
uma viatura com dois PMs fardados - e o sargento à paisana - parou bruscamente
diante da casa na qual Adriano mantinha também um armazém, na Avenida Plínio
Kroeff, no Porto Seco, Bairro Rubem Berta.
- Eles já foram
perguntando de quem era o carro na garagem que, é claro, era meu. Mandaram meus
filhos todos saírem da casa para me deixarem sozinho. Eu tive medo que me
matassem - lembra o comerciante.
Enquanto vizinhos,
assustados com a truculência da ação, se acumulavam ao redor do armazém, aos
gritos as cinco crianças e os três adultos que estavam na casa foram retirados
pelos PMs. Os policiais armados não se contentaram com o despejo forçado.
Teriam empurrado Adriano para dentro da casa que habita há seis anos e, com as
portas fechadas, o agredido a socos e pontapés.
Pancadaria foi um recado
A agressão foi um
recado para ele deixar a casa cedida pelo Demhab que, irregularmente, teria
sido comprada pelo sargento em fevereiro.
Ainda mancando e com
hematomas, desde sexta o comerciante procura casas de parentes e amigos para
ficar, sem desgrudar o olho de portas e janelas.
Exame comprova: houve agressão
- Já vi eles
revistando meus parentes aqui na região. Não sei do que são capazes - disse.
Ele conta que até
tentou denunciar a agressão na delegacia mais próxima na noite de quinta. Mas
assegura que, para sua surpresa, o sargento estava na porta da 22ª DP e impediu
sua entrada. A solução foi o Palácio da Polícia. Os exames no DML comprovaram
os ferimentos.
Comando investiga
Ainda na sexta-feira,
o comando do 20º BPM abriu inquérito policial militar (IPM). De acordo com o
major Alexandre Beiser, não havia qualquer ocorrência que justificasse a
presença de viatura naquele ponto da Avenida Plínio Kroeff por volta das
19h30min de quinta.
- A informação que
temos é de que esse sargento se utilizou da estrutura da Brigada para tratar de
desavença particular - admite o comandante do batalhão.
O caso já é apurado
pela Corregedoria da Brigada. Depois da primeira ameaça, feita em 7 de março,
Adriano relatou a conduta do sargento, até então empregado nas funções de
policiamento do 20º BPM. Segundo o major Beiser, o PM foi afastado do trabalho
nas ruas.
Ameaças dias antes
O ataque teria sido a
segunda "visita" do PM ao comerciante. Uma semana antes, ele esteve
no local e, em tom ameaçador, entregou a Adriano um contrato de compra e venda
do lote, firmado com a ex-mulher do comerciante.
- Me apavorei, porque
foi um terreno cedido para mim, quando eu ainda morava sozinho. Se nem eu
poderia vender, como ela fez isso? - questiona.
Uma certidão do
Demhab confirma a cedência do lote e a autorização para Adriano manter ali um
comércio, em 2007. Para que o lote fosse repassado a alguém, só com ordem do
próprio Demhab.
Durante três anos,
até setembro do ano passado, Adriano morou com uma companheira. Com a
separação, ela teria argumentado ter direito à propriedade e, sem que Adriano
soubesse, a vendeu ao PM. No contrato de compra e venda entregue pelo policial
ao comerciante, consta a transação por R$ 10 mil, incluindo a entrega de uma
casa em Viamão como troca pelo terreno onde está o armazém.
Passado complicado
Em julho de 2004, o
mesmo PM suspeito pelas agressões e pela compra irregular de um lote cedido pelo
Demhab na Vila Morada do Sol foi apontado como o responsável pelo atropelamento
de Eliane Viegas, 45 anos, na Avenida Farrapos. Depois de 40 dias em coma, ela
morreu.
Seis anos depois, o
Estado foi condenado a indenizar a família da vítima em R$ 150 mil.
Na época, ainda como
soldado, o policial servia no 9º BPM. O processo comprovou que ele dirigia a
viatura em alta velocidade e sem as sirenes acionadas. Detalhe: estava com a
carteira de habilitação vencida desde 1999. Ainda assim, até sexta, já como sargento,
era mantido no policiamento de rua na Zona Norte.
Fonte: Eduardo Torres |
DIÁRIO GAÚCHO
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