Silos-bolsas que estocam a soja são vistos
nos campos argentinos
Luiz Patroni/Canal Rural
Está chegando
a hora da colheita da safra de soja na Argentina,
mas as negociações envolvendo o grão no país ainda estão lentas. Os
agricultores estão receosos com o tamanho da produção e ainda temem prejuízos
na venda futura em virtude da inflação e da desvalorização cambial. Durante a
viagem pela Argentina a equipe do Projeto Soja Brasil conferiu esta realidade,
que também revela a insatisfação do setor com a política tributária adotada
pela presidente Cristina Kirchner.
Na Argentina,
a logística não é um problema. As estradas são ótimas e 80% da produção de soja
está localizada a menos 400 quilômetros de algum porto. Isso permite um baixo
custo com frete, que chega a ser 50% mais barato que o praticado em algumas
regiões do Brasil.
Se por um lado
esta eficiência logística garante vantagens aos agricultores argentinos, por
outro o câmbio desvalorizado, os elevados índices de inflação e a política
tributária imposta pelo governo comprometem a competitividade do setor. E,
segundo as lideranças da classe produtora, dificultam, e muito, a vida de quem
está no campo.
A maior
insatisfação é com as chamadas "retenciones" cobradas na exportação
de soja. O governo fica com 35% do valor arrecadado com as vendas. Existe ainda
o imposto sobre o lucro do agricultor. Somando os dois tributos, o impacto
aproximado da política fiscal chega a 39% sobre a renda originada com o grão.
O coordenador
geral da Associação Argentina de Consórcios Regionais e Experimentos Agrícolas
(AACREA), Jorge Latuf, explica que quando o país entrou em crise no início dos
anos dois mil, o governo impôs os direitos de exportação em caráter
extraordinário. A economia da Argentina dependia disso e a cobrança era de
aproximadamente 10%.
De lá para cá,
a taxa foi crescendo até chegar aos valores atuais. Só que agora, ele afirma,
os custos também estão maiores e o impacto das “retenciones” compromete ainda
mais a renda do setor.
A renda
comprometida, e as incertezas quanto à economia do país e o real tamanho da
safra provocaram lentidão nas vendas antecipadas de soja. Apenas 15% da
produção prevista foi negociada. Muitos agricultores preferem aguardar a
colheita para só depois vender a soja, quem sabe com preços melhores. Até lá, a
produção pode ficar estocada em silos-bolsas, facilmente vistos nos campos
argentinos. Aliás, no ano passado foram vendidos silos-bolsas suficientes para
armazenar 50 milhões de toneladas de grãos. Um indicativo de que os produtores
provavelmente vão continuar agindo com cautela nas negociações de soja.
– Mas isso não
significa que na boca da safra ou um pouco mais adiante, não vendam. O
produtor não vai deixar de comercializar no melhor momento que for para ele.
Havendo produção e liquidez, vai vender – diz Fabrício Rosa, diretor executivo
da Aprosoja Brasil.
Mas a baixa
comercialização é usada como uma estratégia das entidades que representam o
setor para tentar pressionar o governo. A classe produtora ameaça suspender as
vendas de soja no final de março, caso a presidente Cristina Kirchner não
reveja a política fiscal do país. O governo contra-ataca e insinua a criação de
uma junta nacional de grãos.
O produtor
rural e especialista em pesquisas e desenvolvimento de soja da AACREA , Ricardo
Negri, explica que o vínculo entre o governo e os produtores está quebrado e
que não há negociação, já que o governo não escuta os produtores. Ele torce
para que o conflito não fique ainda maior e lembra que em caso de suspensão, os
agricultores não vão conseguir interromper as vendas por muito tempo já que
precisam de dinheiro para pagar as contas.
Em meio a toda
esta polêmica, o produtor rural Aldo Lagostena segue acompanhando o
desenvolvimento de uma safra marcada por dificuldades. Ele precisou replantar a
lavoura de 25 hectares, que ficou alagada no fim do ano passado. Depois viu a
estiagem prolongada prejudicar a plantação.
Enquanto não
chega a hora da colheita, ele torce para que o governo se sensibilize com a
situação de quem está no campo e para que a criação de uma junta nacional de
grãos não passe de uma ameaça.
– A
instauração de uma junta nacional seria um problema, já que o governo passaria
a ser o único comprador da produção – diz Lagostena.
O produtor
comenta ainda que na época do pai dele foi assim, apenas o Estado comprava e
exportava a soja. Os produtores não tinham acesso aos preços praticados no
mercado internacional. Segundo ele a situação era bem ruim.
Fonte: CANAL RURAL
RuralBR
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