sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Quatro deputados acusam colega de partido de 'tráfico de influência'

Parlamentares do PP fizeram representação contra Jerônimo Goergen (RS).
Grupo critica anúncio antecipado de verbas do PAC. Deputado vê 'ciúmes'.


     Quatro deputados federais gaúchos do PP protocolaram nesta quarta-feira (20) no Conselho de Ética do partido uma representação contra o colega Jerônimo Goergen (PP-RS). A petição foi assinada pelos deputados Afonso Hamm, Vilson Covatti, José Otávio Germano e Luis Carlos Heinze.

     No documento, os parlamentares argumentam que Goergen teria cometido “tráfico de influência” ao divulgar, em sua conta pessoal no microblog Twitter e em veículos de comunicação do Rio Grande do Sul, investimentos que devem ser anunciados nas próximas semanas pelo Ministério das Cidades no lançamento de nova etapa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), voltada para obras de infraestrutura.

     Goergen nega tráfico de influência. No último dia 9, ele publicou nas redes sociais que o governo federal iria liberar recursos para os municípios gaúchos por meio do PAC 2. Na ocasião, o deputado afirmou no Twitter que a medida teria sido “acertada” com o ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, deputado da Paraíba indicado para o ministério na cota do PP.

As mensagem de Jerônimo Goergen no microblog Twitter (Foto: Reprodução)
   Mensagens de Jerônimo Goergen sobre liberação de verbas no microblog Twitter (Foto: Reprodução)

     Em uma série de posts no microblog, Goergen afirmou que 26 municípios do Rio Grande do Sul seriam beneficiados com verba do programa federal. Nas mensagens, ele detalhou o volume de recursos do PAC 2 para cada uma das cidades. O parlamentar gaúcho também concedeu entrevistas relatando detalhes dos investimentos em jornais e rádios locais.

     “Trazemos ao conhecimento de Vossa Excelência [Francisco Dornelles, presidente nacional do PP] a nossa profunda preocupação com a conduta abusiva e antiética adotada pelo deputado Jerônimo Goergen, que vem anunciando, de forma prematura e descabida, a liberação de recursos junto ao Ministério das Cidades em diversos veículos da mídia regional do Estado do Rio Grande do Sul”, escreveram os parlamentares do PP na representação entregue à direção da legenda.

     Os deputados ainda destacaram no documento que a conduta de Goergen “se caracteriza como tráfico de influência”. Segundo eles, a iniciativa consistiria “na prática ilegal de um parlamentar se aproveitar de informação privilegiada para obter favores ou benefícios pessoais”. O suposto crime está previsto no artigo 332 do Código Penal.

Deputado aponta 'ciúmes'

     Mesmo sem ter sido comunicado oficialmente pelo partido sobre a representação apresentada pelos correligionários, Goergen conversou sobre o assunto com o G1. O parlamentar gaúcho admite que divulgou as informações sobre os futuros investimentos em sua base eleitoral. Ele, no entanto, argumenta que o procedimento é corriqueiro entre os parlamentares do Congresso Nacional.

     O deputado explica que obteve as informações sobre as obras que devem ser anunciadas pela presidente Dilma Rousseff junto ao Ministério das Cidades, em 7 de fevereiro. Conforme Goergen, no mesmo dia, outros deputados do PP gaúcho também teriam sido comunicados pela pasta sobre os investimentos, entre eles Heinze, um dos autores da reclamação partidária.

     Goergen, inclusive, ressalta que o colega do PP que o acusa de “tráfico de influência” também concedeu entrevistas à imprensa gaúcha detalhando municípios que seriam atendidos pela nova fase do PAC.

     “Lamento que isso esteja acontecendo. Deveríamos estar comemorando os investimentos destinados ao estado. Porém, o que pode acontecer é que essa representação atrapalhe o envio desses recursos para o Rio Grande do Sul. O governo federal pode se incomodar com essa polêmica e cancelar os repasses”, reclamou.

     Na avaliação de Goergen, a iniciativa dos colegas de partido teria sido motivada por "ciúmes" do trânsito que ele possui dentro do Ministério das Cidades e também por interesses eleitorais, já que alguns dos parlamentares que representaram contra ele no Conselho de Ética disputam votos nos mesmos municípios e têm eleitores com o mesmo perfil.

Colegas justificam representação

     Um dos autores da representação, Vilson Covatti afirmou que, diferentemente das acusações do colega de sigla, a reclamação interna contra Goergen teria sido feita apenas para “preservar a imagem” do PP e do governo federal.

     “Ele [Goergen] obteve informação privilegiada. Isso é crime previsto no Código Penal. Os deputados estão indignados. Como um deputado pode se valer de uma informação privilegiada? Ele que revele quem o autorizou a divulgar essas informações”, criticou Covatti.

     Apesar de ter subscrito a representação contra Goergen, Luis Carlos Heinze disse que assinou o documento a pedido de Covatti. Ele reconhece que também obteve as informações em primeira mão e que divulgou os empreendimentos federais a veículos de imprensa gaúchos.

     Heinze, entretanto, critica a postura de Goergen ao propagandear os investimentos nas bases eleitorais dos colegas de partido. “Ele [Goergen] agiu diferente, falou no estado inteiro. Ele é ligeiro, esperto. Faltou companheirismo”, disparou.

Ministério diz desconhecer tráfico de influência

     Por meio de sua assessoria de imprensa, o Ministério das Cidades negou que a pasta tenha repassado informações sobre os beneficiários do PAC 2 aos deputados gaúchos. O ministério também disse desconhecer a denúncia de tráfico de influência contra Goergen.

     “O Ministério das Cidades não tem conhecimento de denúncia de tráfico de influência envolvendo esta pasta, referente ao repasse de recursos do PAC 2 ou referente a qualquer outro tema. Além disto, destacamos que não teve origem neste ministério qualquer informação sobre investimentos”, registrou o ministério em nota.

     O G1 tentou falar com o corregedor-geral do Partido Progressista (PP), senador Ciro Nogueira (PI), que terá a incumbência de analisar a representação contra Goergen. Mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

Fonte: Fabiano Costa | Do G1, em Brasília
Atualizado em 22/02/2013 08h19

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