segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Filha de idosa morta em tentativa de assalto na Restinga faz trabalho voluntário no bairro

Polícia prendeu dois suspeitos em flagrante e apreendeu um adolescenteFilha de idosa morta em tentativa de assalto na Restinga faz trabalho voluntário no bairro Fernando Gomes/Agencia RBS
"Eu tenho muito ódio e quero justiça", diz Patrícia, filha da idosa mortaFoto: Fernando Gomes / Agencia RBS

     Vitória. Era por este apelido que Zilá Maria Ferreira Holst era conhecida entre familiares e amigos, dada a disposição e obras de caridade que fazia desde sempre. A mulher de 68 anos morta com pelo menos dois tiros na cabeça na noite de domingo, no bairro Restinga, na Capital, em uma tentativa de assalto, reunia histórias de disposição e solidariedade.

     — Vivia com pena de tudo e todos. Parava nas esquinas para conversar com os pedintes, sempre levando a palavra de Deus. Ela não tinha medo de nada — disse uma amiga.

   Zilá era conhecida pelo jeito carinhoso 
   com que lidava com pessoas carentes

     Zilá, natural de Rio Grande, e o marido Alfred Holst, 69 anos, de Hamburgo, na Alemanha, que morava no Brasil há mais de 40 anos, eram aguardados em um condomínio da zona sul de Porto Alegre, onde residem as três filhas da idosa.

     — Estávamos preparando a janta. Ela tinha ligado, dizendo que estavam chegando. Demorou um pouco e nada deles. A próxima ligação foi a de um policial, falando o que havia acontecido — contou a filha mais velha Patrícia Jelenski Weber, 45 anos.

     A primogênita, que realiza trabalhos voluntários na Restinga, falava inconformada sobre a história:

     — Eu conheço cada rua, cada beco daquele bairro. Orientamos e acolhemos aquelas famílias e olha só como somos retribuídos. Eu tenho muito ódio e quero justiça.

     O casal morava há cerca de 20 anos em Salinas, balneário do Litoral Norte, mesma época em que se aposentou e que firmou a união. Buscavam o sossego. Vinham para Porto Alegre em datas comemorativas.

     Como de costume, era a matriarca quem estava na direção da EcoSport do casal. Eles trafegavam pela Estrada João Antônio da Silveira na noite de domingo, abafada e que ainda apresentava movimento. 

     Por volta das 22h40min, um Marea teria se atravessado no meio da rua e pedido para que encostassem. Estavam a menos de 10 quilômetros da Juca Batista, seu destino final, onde a família discutia os detalhes da festa de Natal, que reuniria 16 convidados, incluindo filhas, genros, netos e a bisneta de Zilá.

     — O que eu vou dizer para as crianças agora. Elas estavam esperando o Papai Noel e terão de conviver com uma desgraça dessas — emendou Patrícia.

     Zilá não reagiu, segundo testemunhas, mas teria se atrapalhado na hora de tirar o cinto de segurança. Segundo o que Alfred relatou à família, quando foram abordados pelos bandidos, Zilá foi reduzindo a marcha calmamente até parar o carro e entregá-lo. Neste momento, uma pessoa gritou "mata, mata". Foi aí que os tiros foram desferidos.


     A EcoSport teria caído no barranco. Alfred conseguiu fugir para o matagal. Após a investida frustrada, os criminosos abordaram um Clio que estava passando por ali, a cerca de 20 metros, e tentaram fugir.

     Nisso, o soldado Thomas Jacobsen de Oliveira, da 2ª Cia do 21° BPM estava com os colegas atendendo uma ocorrência de perturbação de sossego nas proximidades. Escutou pelo rádio sobre o assalto. Minutos depois chegaram ao local, enquanto os bandidos fugiam com o Clio.

     Abordados pela viatura, chegaram a andar cinco metros, mas perderam o controle do veículo e bateram em um poste. Dois foram presos em flagrante e levados para a Área Judiciária do Palácio da Polícia. Com eles, foi apreendida uma arma calibre .38. 

     A delegada Liliane Pasternak Kramm vai indiciá-los por latrocínio e, na manhã desta segunda-feira, pediu a prisão preventiva dos suspeitos. Os dois foram encaminhados ao Presídio Central. Um terceiro indivíduo foi localizado em seguida. Menor de idade, seguiu para o Departamento Estadual da Criança e do Adolescente (Deca).

     De acordo com a polícia, a ação da quadrilha teria se iniciado, segundo a Polícia Civil, com o roubo do Marea usado no assalto que vitimou Zilá. O veículo teria sido roubado por volta das 22h15min, quando os proprietários chegavam em casa na Lomba do Pinheiro, por dois indivíduos em uma moto. Os criminosos teriam ido até a Restinga, onde fizeram as outras duas abordagens.

     Testemunhas afirmam que a quadrilha era composta por cinco homens. Dois teriam conseguido escapar em um carro de cor prata. O corpo de Zilá foi liberado do Departamento Médico Legal (DML) por volta do meio-dia e será velado no Cemitério São Miguel e Almas, na Capital, mas ainda não foi definido o horário.

     O marido de Zilá se recupera na casa de uma das enteadas. Segundo a família está em estado de choque e pouco fala sobre o acontecido. Alfred deve prestar depoimento ainda esta semana, segundo a delegada.

   Dois suspeitos foram presos em flagrante e um adolescente, apreendido

Fonte: Kamila Almeida / ZERO HORA

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