quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Destruída por tornado, Ponte Alta, na Serra Catarinense, busca forças para se reconstruir

Município de cinco mil habitantes foi destruído pelo violento fenômeno na tarde do último domingo
Destruída por tornado, Ponte Alta, na Serra, busca forças para se reconstruir Pablo Gomes/Agencia RBS
Levantamento aponta que 1,9 mil casas foram atingidas, e algumas não podem mais ser utilizadasFoto: Pablo Gomes / Agencia RBS

     Bastaram 15 minutos para a fúria da natureza derrubar o que foi erguido durante toda uma vida. Casas, empresas, uma cidade inteira devastada por uma catástrofe. A pequena Ponte Alta, na Serra Catarinense, jamais esquecerá o tornado que a violentou no último domingo. Os prejuízos são imensos, a dor dos cinco mil habitantes é imensurável, mas a vontade de dar a volta por cima e a esperança de contar com todo tipo de ajuda é maior que qualquer coisa. 

     Com uma reconstrução estimada em mais de R$ 30 milhões, mas com um orçamento anual de apenas R$ 19 milhões, a prefeitura obrigou-se a evoluir o decreto de situação de emergência para estado de calamidade pública, o que caracteriza um desastre de graves consequências sociais para toda a população. 

     Na terça-feira, boa parte dos serviços essenciais como água, luz e telefone já tinha sido restabelecida. Árvores e postes já haviam sido retirados das ruas e de cima das casas e, aos poucos, ainda que lentamente, a vida começava a voltar ao normal. Com 1,9 mil residências atingidas em toda a área urbana, onde vivem 90% dos moradores do município, a maior prioridade de Ponte Alta neste momento é material para cobrir as casas. 

     Assim, as autoridades pedem a prefeituras e empresas de toda Santa Catarina a doação de telhas de fibrocimento de 5 milímetros. Alimentos não-perecíveis e água potável também são necessidades, já que muitos moradores perderam tudo o que tinham, inclusive a comida. 

     Para que os materiais cheguem a Ponte Alta, deve-se entrar em contato com a prefeitura local pelo telefone (49) 3248-0141, com a Defesa Civil de Lages pelo (49) 3222-9661 ou com a Associação dos Municípios da Região Serrana, também em Lages, pelo (49) 3224-4800. 

     Cada caso será analisado para que se possa elaborar a melhor logística, especialmente para as grandes doações. Já os donativos de pequeno tamanho e quantidade podem ser entregues, na Serra, nas sedes do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar e delegacias da Polícia Civil. 

     Além disso, Ponte Alta é um município de fácil acesso, localizado na BR-116, uma das maiores rodovias do Brasil, 45 quilômetros ao norte de Lages e 15 quilômetros ao sul da rótula com a BR-470, no ponto conhecido como Trevo do Patuci. Centenas de ônibus e caminhões do país inteiro passam por Ponte Alta todo santo dia, o dia inteiro, e os donativos podem ser entregues diretamente na prefeitura, localizada no Centro da cidade, a poucos metros da BR-116.

A iluminação de Natal que o tornado apagou 

     Fazia apenas quatro anos que o serviços gerais Alvino Ribeiro Pereira, 47, havia comprado uma casa no Bairro Nossa Senhora Aparecida para viver com a mulher, a professora Elisângela Moreira, 36, e a filha, a estudante Bianca Moreira Marcelino, 11. A casa própria era o sonho dos três, e tudo se encaminhava certinho para mais um agradável Natal em família. 

     Na semana passada, Alvino, Elisângela e Bianca decoraram a residência com lâmpadas e bolinhas coloridas. A iluminação chamava a atenção na rua e era o orgulho de pai, mãe e filha. Até que, na tarde do último domingo, a alegria virou desespero e o sorriso deu lugar ao choro. Os três tomavam café na cozinha quando o tempo fechou. E, de repente, o temporal chegou. 

     A grande e pesada porta da frente da casa voou para dentro da sala e o teto começou a se despedaçar. Alvino foi com a mulher e a filha para o banheiro, única peça de alvenaria da casa, para se proteger do funil que sugava tudo o que encontrava pela frente. Os três entraram em pânico e, quando a cobertura do banheiro começou a ceder, a morte parecia muito perto.

     — Naquela hora eu achei que ia morrer. Pensei que era o fim de tudo —, lembra Alvino. 

     Passaram-se aterrorizantes 15 minutos até que o tornado foi embora. Tudo estava destruído, mas todos estavam salvos e sem ferimentos. Lamentaram a perda da casa, mas agradeceram pela vida. Depois, mudaram-se para a pequena garagem de cimento, onde devem ficar um bom tempo. E na manhã de terça-feira, com a ajuda do Corpo de Bombeiros, o que sobrou da residência foi demolido para que a madeira possa ser reaproveitada em um novo lar.

     — Não estava nos planos fazer outra casa. A nossa estava pronta, pintada, enfeitada e linda para o Natal. Mas vamos reconstruir nossas vidas, e no próximo Natal, volte aqui, pois tudo estará novamente em pé e iluminado —, disse Elisângela, esperançosa, à reportagem do DC. 

"Meu netinho nasceu duas vezes no mesmo dia"

     José Noel Alves Padilha, de 52 anos, estava todo bobo com o nascimento do netinho, ocorrido no início da madrugada de domingo. Na fazenda onde vivia com a mulher e um casal de filhos, na localidade de Parque do Butiá, a três quilômetros do Centro de Ponte Alta, reuniu a família para comemorar. Mais de dez pessoas, incluindo o bebê e outras seis crianças, curtiam o domingo. 

     Até que o tornado chegou e acabou com a festa. Quando a casa começou a cair, todos correram para o banheiro, mas o forte vento impediu a abertura da porta, e a família não tinha mais aonde se proteger, a não ser em um canto da sala. Formou-se então um “bolo” de gente para salvar as crianças. 

     E deu certo. Ao fim do temporal, destruição total. Toda a casa foi pelos ares e dois carros ficaram debaixo dos escombros. Uma nora de José sofreu um ferimento na perna e precisou levar oito pontos. Mas a pessoa mais vulnerável naquele momento e que era o motivo da festa, estava salva.

     — Meu netinho sobreviveu a um tornado e ficou todo molhado com poucas horas de vida. Ele nasceu duas vezes no mesmo dia —, diz José. 

O fim de tudo após o recomeço

     Após sofrer grandes prejuízos com a agricultura e ver sua vida comprometida financeiramente, Antônio Wilson Schlischting Filho, 46, decidiu transformar em madeireira o velho galpão onde armazenava batata-semente. O novo negócio foi aberto há apenas dois anos e ia bem, ainda que com dificuldades, e Antônio começava a reconstruir a sua vida. Mas o tornado de domingo deu fim ao recomeço. 

     O imóvel de 750 metros quadrados no Bairro Nossa Senhora Aparecida simplesmente desmoronou inteiro. Nada sobrou. Antônio estima um prejuízo de R$ 300 mil só com a construção de alvenaria e madeira, sem contar o maquinário, que ainda não conseguiu avaliar, pois está tudo debaixo dos escombros.

     — Não sei o que fazer. Nem sei por onde começar, pois estava tentando me reerguer depois dos prejuízos com a agricultura. A madeireira era a minha única fonte de renda, assim como dos meus cinco funcionários. E se o tornado fosse num dia de trabalho, morreríamos todos.

Fonte: Pablo Gomes / DIÁRIO CATARINENSE

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