segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Trator foi usado na tentativa de resgate de militar na Antártica

  Trator foi usado na tentativa de resgate de militar na Antártica
  Crédito: Armada de Chile / Divulgação / CP


     Até um trator foi usado por militares na tentativa de resgate do suboficial e do primeiro-sargento que morreram lutando contra o fogo na casa de máquinas da Estação Antártica Comandante Ferraz. "Tentamos destruir anteparos da estação, mas a estrutura foi resistente, mesmo usando o maior dos nossos tratores. A gente combateu com força e suor, mas não foi possível", lamentou o tenente Pablo Tinoco, de 25 anos, ao desembarcar na madrugada desta segunda-feira na Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, junto com outros 40 resgatados.

     Funcionário do Arsenal de Marinha responsável pela equipe de manutenção e reparo na base, ele afirmou que os dois militares mortos usavam roupas adequadas, máscaras, galões de oxigênio e estavam com cordas amarradas no corpo, procedimento de segurança para serem puxados em caso de emergência. "Todos estavam preparados. No caso dos dois, como iam entrar, a roupa era diferenciada. Os procedimentos foram tomados. Cada um estava fazendo o que foi treinado para fazer. Ninguém tomou atitude insensata, que não tivesse sido delegada. Fizemos o que foi possível", declarou, emocionado. Segundo o tenente, a busca durou 9 horas.

     "Depois que os dois demoraram a voltar, três tentaram entrar, mas a temperatura era alta demais. Quando o segundo tentou ir se arrastando, o comando determinou que não continuasse. Então o terceiro homem se agachou, o pegou pelo pé e o trouxe de volta. Verificou-se que não havia segurança. Ninguém passou do limite". Tinoco elogiou muito o apoio de pesquisadores. "Na tentativa desesperada de captar água do lago para acabar com o incêndio, tivemos hipotermia. Foram os civis que ajudaram a sanar a hipotermia de um militar e as queimaduras do nosso amigo, o primeiro sargento Luciano Gomes Medeiros (que ficou ferido no incêndio)".

     Havia 3 comandantes, 10 praças e um alpinista que é policial militar no Estado de São Paulo atuando no resgate das vítimas. "Eles honraram com a própria vida, com esforço e dedicação, para que fosse feito o melhor. O resultado não mostra isso. Somente nós, que presenciamos, temos certeza. São homens que entrarão para a história, pelo menos nas vidas de quem estava lá", disse o tenente, que pretende voltar a trabalhar na base. "Sei o que é necessário para começar a nossa reforma. Está muito cedo para dizer quando, mas eu sei o que e como fazer. Vamos ter de recomeçar do zero".

     Tinoco trabalhava na base havia 3 meses. Estava no computador, em sua sala de trabalho, quando o fogo começou. Percebeu a correria e foi até o local. Ele agradeceu o apoio recebido de militares chilenos, argentinos e poloneses após o incêndio. "Apesar da ideia fixa de que já tínhamos perdido homens e que nosso trabalho não tinha sido 100%, não paramos em momento nenhum. Fizemos o máximo para que tragédia não se tornasse pior".

     Segundo o ministro da Defesa, Celso Amorim, que recepcionou o grupo de 41 pessoas que chegou ao Rio na madrugada de hoje, os corpos do suboficial Carlos Alberto Figueiredo e do primeiro-sargento Roberto Lopes dos Santos devem chegar à cidade amanhã. Tinoco conta que Santos tirava muitas fotos da estação, era fascinado por fotografia, e que a preferida era uma da família. Eles sempre almoçavam e jogavam bola juntos. "Ele era flamenguista doente, como eu". Era a terceira viagem do militar à Antártida. "O Figueiredo era mais fechado, mas isso não significa que não participava do grupo. Eles foram a minha família nos últimos meses".

     Chegaram ao Rio na madrugada de hoje 26 pesquisadores, 12 servidores do Arsenal de Marinha, um alpinista, um funcionário do Ministério do Meio Ambiente e o militar ferido, com as mãos enfaixadas, que foi conduzido de cadeira de rodas do avião da FAB para uma ambulância, e seria levado para o hospital naval Marcílio Dias. "Foi muito traumatizante", resumiu a pesquisadora Teresinha Absher, bióloga da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que realizava pesquisas na estação há 20 anos.

Fonte: Agência Estado

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