quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Vendedores vão sofrer punições

BENTO GONÇALVES
    Veluma, Anah, Kamila, Verediane, Júlio e Adriana
    Foto: Augusto Veber/Jornal Semanário


     A reportagem intitulada “Menores compram bebida de dia”, publicada na edição do Semanário do dia 12, causou repercussão entre a comunidade e o poder público. Um melhor entendimento da atual legislação municipal e uma fiscalização mais rigorosa são prometidas pela prefeitura. Ações feitas por pais e pelos próprios adolescentes também estão fazendo com que as bebidas alcoólicas deixem de ser uma presença constante nas festas organizadas para o público menor de idade.
     De acordo com a secretária municipal de Governo, Eliana Passarin, essa é uma luta de todos, inclusive dos próprios comerciantes. “Devemos tratar os filhos dos outros como gostaríamos que tratassem os nossos, com o mínimo de zelo e respeito”. Eliana afirma que a fiscalização será mais intensa e as punições mais rigorosas. “Neste domingo, 27, estamos lançando uma campanha institucional em conjunto com a efetiva fiscalização e punição destes estabelecimentos, que prevê desde multa até o fechamento, caso for necessário”, comenta.
     Para a secretária se faz necessário um envolvimento especial das famílias, acompanhando e instruindo os filhos. “Nesta luta pelo controle da venda de bebidas aos menores, os familiares são peça fundamental, caso contrário a campanha não terá êxito. Assim, o exemplo deve partir de casa. De nada adiantará o poder público investir em fiscalização se a própria família fizer festa de quinze anos regada a bebidas alcoólicas”, conclui Eliana.
     Foi pensando assim que a mãe de Anah Carolina Zanetti, Marba Rosangela Lara Zanetti, promoveu a festa de 15 anos da filha sem bebidas alcoólicas para menores. “Dividimos o evento em duas partes. Primeiro recebemos a família em um jantar tradicional, e após, às 23h, liberamos a entrada dos amigos”. Marba comenta que não foi divulgado a ausência de bebidas alcoólicas, por receio de muitos jovens desistirem de ir. “Eles acham que precisam de álcool para estar numa festa, e o que a gente tentou mostrar foi justamente o contrário disso, de que a bebida não tem nenhuma relação com diversão”, diz.
     Essa festa repercutiu positivamente no Colégio Scalabriniano Medianeira, onde Anah cursa o Ensino Médio. Conforme comentam Verediane Santarossa e Adriana Postingher, respectivamente, coordenadora pedagógica e orientadora educacional da instituição, essas iniciativas devem ser incentivadas cada vez mais pelos familiares. “O jovem utiliza-se do álcool para poder se afirmar perante a sociedade. Na escola, trabalhamos com valores como respeito e a formação de caráter, fazendo com que o jovem possa ter maturidade na hora de fazer as suas escolhas”, afirma Verediane. Para Adriana, a lei somente terá sentido se for fiscalizada. “De nada adianta termos a lei e encontrarmos nas ruas diversos jovens consumindo álcool. A partir do momento em que se fizer uma forte fiscalização e conscientização dos comerciantes e da população, poderemos obter resultados positivos”, conclui Adriana.
     De acordo com o diretor do Colégio Bom Retiro, Márcio Pilotti, a lei é boa, mas deverá ser bem fiscalizada para que não haja brechas. “Uma das grandes dificuldades que temos quando realizamos festas como a Escolha da Rainha, é que os jovens já chegam alcoolizados no local do evento, portanto fica difícil para nos termos esse controle”, comenta Márcio.

Entenda

     A criação da lei municipal nº 5351, de 16 de agosto de 2011, que trata sobre as penalidades dos estabelecimentos comerciais que venderem, entregarem ou fornecerem, bebidas alcoólicas para crianças e adolescentes, visa reforçar ainda mais o Artigo 243 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A lei se faz necessária pelo fato de muitas pessoas saírem impunes da Legislação Federal. A fiscalização da lei, que será feita pelo Programa de Orientação e Proteção ao Consumidor (Procon), foi elaborada nos mesmos moldes da lei anti fumo. As denúncias sobre venda de bebidas alcoólicas para menores poderão ser feitas pelo mesmo número que denuncia o consumo de cigarros em locais fechados, que é o 0800 600 4567. Em um primeiro momento os comerciantes serão informados da lei municipal, através de visitas e da campanha publicitária que será lançada, e após serão realizadas batidas em locais que podem conter menores de idade bebendo. O lançamento da campanha publicitária ocorrerá no dia 27, às 18h, na Praça Ismael Scussel, em frente a Fundação Casa das Artes.

“Só a legislação não vai evitar o consumo”

     Para os jovens Daniel Casagrande e Leonardo Pellegrini,  a lei por si só não diminuirá o consumo de álcool entre os adolescentes. Estudantes do Colégio Estadual Visconde de Bom Retiro, eles acreditam que os donos de estabelecimentos visam apenas o lucro, sem se importar com a saúde. “É só ir durante à noite no bairro Cidade Alta, onde é possível ver diversas crianças que possuem de 10 a 15 anos bebendo”, relata Casagrande. “A partir do momento em que as crianças forem conscientizadas juntamente com suas famílias, poderemos ter uma melhora nesta situação. A realização de palestras com dependentes químicos ajudaria mais do que a tentativa de proibição”, sugere Pellegrini.
     Segundo Anah, Júlio Milani Lucena, Veluma Gugel Nadin e Karina Maria Didoná, todos menores de idade, muitos sofrem preconceito pela opção de não ingerirem bebidas alcoólicas. “Os amigos chamam essas pessoas de quadradas ou perguntam como elas conseguem viver sem beber. Quando a pessoa está bêbada, perde a noção do que está fazendo”, afirmam.
 
Fonte: Augusto Veber / Jornal Semanário

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